Mirante

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NICK

Me afasto de Emma e tento me misturar com algumas pessoas que ainda estavam no salão. O ambiente, cheio de conversas entediantes, me lembrava dos jantares em família, onde meu pai sempre falava sobre a empresa. Ele queria que eu seguisse seus passos, como se isso fosse a única coisa que importava. A falência dele foi um choque, mas o pior foi perceber que a família dona daquela empresa estava mais perto de mim do que eu jamais imaginaria.

Enquanto tento fingir interesse em uma das conversas mais monótonas da noite, meu celular vibra com uma notificação. É Mary, amiga de Emma. Ela não para de me mandar mensagens. No início, eu respondia por puro tédio, mas agora está ficando um pouco esquisito. Todos os dias ela tenta puxar papo na escola, e eu percebo que talvez eu tenha deixado isso ir longe demais.

Guardo o celular no bolso e, antes de voltar minha atenção aos empresários, dou uma rápida olhada pelo salão. Meus olhos encontram Emma quase que instantaneamente. Ela está deslumbrante, o vestido moldando seu corpo de uma forma que não consigo desviar o olhar. Ela parece uma versão mais realista e perfeita da própria Barbie.


EMMA

A noite se arrastava. Algumas pessoas já tinham ido embora, mas o salão ainda estava lotado. Eu só pensava em uma coisa: ir para casa. Passei horas conversando com gente importante, pessoas que poderiam abrir portas no futuro. Mas, sempre que eu olhava para Nick, ele parecia tão entediado quanto eu. Agora, de novo, nossos olhares se cruzaram, como se estivéssemos em sintonia, querendo escapar dali.

Minutos depois, Nick passa por mim rapidamente, deixando um guardanapo na minha mão. Ele sai sem dizer nada, e eu abro o papel: "Me encontre do lado de fora." Guardo o bilhete na bolsa e digo ao meu pai que vou tomar um ar.

Lá fora, procuro por ele, mas não vejo ninguém. Olho para um lado, depois para o outro, sem sucesso. De repente, o som de uma moto enche o ar. Nick para em frente a mim, com um capacete na mão.

— Sobe aí.

Por um momento, fico parada, encarando-o. Ele tem essa postura séria e autoritária que me prende.

— Anda logo, não posso ficar parado aqui por muito tempo.

Saio do meu transe, pego o capacete e subo na moto. Conforme ele acelera, o vento no meu rosto só me faz pensar no que vou dizer ao meu pai quando ele perceber que eu "fui tomar um ar" e desapareci.

— Tá com fome? — A voz de Nick soa abafada pelo capacete.

— Não — respondo, e ele apenas balança a cabeça.

Alguns minutos depois, ele para a moto e a desliga. Desço e, tirando o capacete, percebo onde estamos: um mirante com vista para as luzes da cidade.

— Nossa... — digo, impressionada.

— Vem cá — ele se afasta um pouco, indo até um banco de frente para a cidade. Sigo ele e me sento ao seu lado.

— Bonito, né? — Ele também observa as luzes lá embaixo.

— Como você descobriu esse lugar? — pergunto.

— Pra falar a verdade, nem sei. Um dia acabei parando aqui por acaso.

Eu o escuto, mas logo volto a observar a cidade. Alguns minutos se passam em silêncio, até que ele fala de novo.

— Meu pai trabalhou naquela empresa por muito tempo. Por isso consegui o estágio.

— Pessoa de sorte, você — digo, virando-me para ele. Ele faz o mesmo, nossos olhares se encontrando de novo. — Não é qualquer um que consegue entrar lá. Por que você disse "trabalhou"? Ele saiu?

Nick fica em silêncio, sua expressão séria, os olhos fixos nos meus, mas não responde. Após alguns instantes, ele se vira de novo para a cidade.

— M-me desculpa. Eu sinto muito.

— Não se preocupe. Você não sabia.

Voltamos a ficar em silêncio. O tempo passa, mas é difícil dizer quanto.Pode ter sido minutos, ou horas. Nesse meio tempo meu pai já havia me mandando mensagem e eu já tinha esclarecido que estava cansada e ia para casa. Finalmente, Nick se levanta.

— Vamos. Já está tarde. Vou te levar pra casa.

Levanto-me também, seguindo-o até a moto. Antes de colocar o capacete, olho o lugar uma última vez, e uma lembrança da minha mãe me passa pela mente. Respiro fundo, coloco o capacete e subo na moto.

Pouco tempo depois, chegamos à minha casa. Está tudo escuro, e o carro do meu pai não está na garagem. Ele ainda deve estar no evento. Michael, meu irmão, provavelmente está na casa de um dos amigos esquisitos dele, como sempre. Desço da moto e entrego o capacete para Nick.

— Obrigada. Você me salvou tirando daquela festa — sorrio.

— Não esquenta, Barbie. Eu também tava louco pra sair de lá.

— Me desculpa mais uma vez por hoje mais cedo...

— Eu já disse que tá tudo bem, não disse? Agora entra, antes que seu pai nos veja aqui.

Ele abaixa o visor do capacete, pronto para ir embora. Mas enquanto caminho em direção à entrada da casa, uma ideia me vem à mente. Viro-me e volto até a moto.

— Meu pai ainda não está em casa e meu irmão também não... — digo, um pouco hesitante.

— E daí, Emma? — O tom dele é firme, quase grave.

— Você não quer... sei lá, entrar e esperar amanhecer para ir embora?

Nick me encara por alguns instantes, em silêncio. Meu rosto começa a esquentar, e eu já estou me arrependendo de ter sugerido isso.

— Eu só... tô preocupada — tento consertar.

Ele dá uma risada nasal, debochada.

— Se quer passar mais tempo comigo, é só pedir, Barbie — diz ele, descendo da moto e tirando o capacete.

— Ah, cala a boca — reviro os olhos, virando-me para a porta da casa enquanto ele me segue, entrando junto comigo.

Skyfall - Entre o Ódio e o PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora