DUALS - YuYeon

SY

- Abra a porta, Yuqi, eu já acabei de me trocar. - ela altera o tom de voz e eu estou com a respiração ofegante. A mãe dela sabe que estou aqui e, pelo tom que ela usou, algo me diz que ela sabe muito mais.

- Não, sua mãe está te esperando, desça, depois eu vou embora.

- Wioni, por favor, me deixe apenas te dar um beijo antes de ir? - ela diz com seu tom manhoso e eu suspiro. Um beijinho não faz mal, né?

- Tá bem! - destranco a porta rapidamente e abro, mas ela está com os braços cruzados e eu ergo as sobrancelhas em completa confusão.

- Você disse que ia me dar um beijo! - faço beicinho e ela revira os olhos.

- Você está agindo como uma criança birrenta!

- Soyeon, eu não posso ir lá! - tento fechar a porta do closet e ela coloca o pé, me impedindo.

- Minha mãe sabe que você está aqui. - ela suspira e coço minha nuca.

- Diga a ela que ela estava delirando, eu não sei. Eu não vou descer. - meu estômago está se contorcendo de nervosismo. Eu não posso enfrentar essa mulher agora, da última vez que nos vimos, eu dei um discurso sobre como ela era uma péssima mãe para a minha jelly.

- Wooni, você teria que falar com minha mãe em algum momento, não? - ela ergue a sobrancelha e eu engulo em seco.

- Eu nunca falei com uma mãe antes.

- Yuqi! Você falou para minha mãe que ela deveria me conhecer e passar mais tempo comigo, ela está tentando.

- Exatamente por isso que não posso descer. - balanço a cabeça em negação.

- Tudo bem - ela suspira depois de algum tempo me encarando - Pelo menos saia pela porta da frente ao invés de escalar minha parede. - ela estende a mão para mim e depois de dois minutos de debate mental, acabo cedendo.

Soyeon parece estranhamente mais calma agora, enquanto descemos as escadas, estou prestes a virar para o corredor que leva até a porta da frente, mas ela entrelaça os dedos nos meus, apertando minha mão e vai me puxando em direção a cozinha.

- Você me enganou! Você disse que eu deveria sair pela porta da fr... - paro de falar ao ver a mãe de Soyeon nos encarando no fim do corredor.

- Soso, você não deu uma roupa limpa para Yuqi se trocar? - ela sorri suavemente, mas há algo nos olhos dela. Esses olhos de gato são traiçoeiros, a prova disso foi o que Soyeon acabou de fazer comigo.

- Ela queria fugir, eu não tive tempo nem de oferecer uma roupa a ela. - Soyeon dá de ombros e eu aperto a mão dela, sentindo minhas bochechas corarem.

- Você cora com isso, mas nem mudou sua expressão ao dizer tudo o que me disse nessa mesma cozinha há algumas semanas atrás? - ela me observa e eu engulo em seco.

- E-e-eu... h-hmmm, é-é... - minhas mãos estão suadas e frias.

- Como você sabia que Yuqi estava lá? - Soyeon diz enquanto mexe nos legumes em cima da bancada.

- Jimmy Choo. - a mãe dela volta a me encarar e eu acho que esqueci como se respira. - O perfume estava mais recente no quarto do que o seu próprio perfume, Jeon.

- Oops? - Soyeon ri e eu olho para ela com socorro estampado em meu rosto. Não é o melhor momento para ela piorar tudo.

- Sente-se, Yuqi, você jantará conosco essa noite.

- Eu não po...

- Eu já falei com sua mãe e ela sabe que você está aqui, ela acha ótimo que você jante conosco. - o olhar que ela me dá é o mesmo que Soyeon usa para me amedrontar. E o pior é que funciona. Me sento devagar em uma das banquetas e a mãe de Soyeon fica ao lado dela, pegando uma faca logo em seguida. - Então, há algo que vocês queiram me dizer? - vejo Soyeon ficar pálida e olhar para mim sem saber o que fazer.

- Olha, não há nada que eu queira te dizer, mas algo me diz que eu não tenho outra escolha. - a mãe de Soyeon ri ao me ouvir.

- Eu gosto do seu senso de humor, Yuqi. - ela se vira para Soyeon - O que aconteceu no colégio, além das suas cólicas, para você faltar todos esses dias? Qual de vocês duas será corajosa o suficiente para me contar o motivo de tudo isso? - ela volta a me olhar.

- Eu - pigarreio - A verdade é...

- Yuqi, não. - Soyeon levanta a cabeça e me encara - Você não tem nada a ver com isso. Depois do que aconteceu na escola, eu preciso parar de fugir e aceitar as coisas como elas são. Eu preciso contar a ela a verdade.

- Jelly, você tem certeza disso? - ela me dá aquele olhar e eu encolho meus ombros.

- Sim. - ela respira fundo e solta devagar antes de se virar para a mãe - Mãe, eu sou gay.

- Você o que, Jeon Soyeon? - a mãe dela solta a faca, fazendo um barulho que me assusta e eu derrubo a cadeira no chão ao me levantar. Soyeon está pálida, mas consigo ver os dentes dela cerrados e suas narinas dilatadas.

- Eu sou gay. - Soyeon ergue o queixo, desafiando a própria mãe e minha respiração trava.