8 - Culpado

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Magnus ligou para Catarina quando finalmente conseguiu se concentrar o suficiente para abrir um portal e se afastar de Alec o máximo possível. Ele precisava contar para alguém o quanto tinha sido idiota. Mas Catarina simplesmente não atendia, então apenas mandou uma mensagem pedindo que abrisse a porta. Não queria bater nem tocar a campainha para não acordar Ragnor. Se o alto feiticeiro descobrisse o que ele tinha feito, arrancaria toda a sua pele sem pensar duas vezes.
Beijou Alec por um impulso, talvez motivado pela euforia e a sensação de completude que a runa causou em seu peito. Talvez pela resposta de Alexander. Quando o caçador retribuiu, acreditou que pudesse… ele queria. Queria Alec, que era tão doce e gentil enquanto o tocava, e queria tanto agora que era quase dor.
Ele quase… oh, céus. Estava tão envergonhado.
No começo, quando o olhou nos olhos, Alec parecia estar sentindo aquilo também, aquela conexão, aquele calor, e a sensação de… como sequer poderia descrever aquela sensação? Ele nunca a tinha sentido antes e era completamente diferente da atração sexual., o que ele também sentia por Alec, a propósito. Não dava mais para esconder. Mas aquela outra coisa… Era a sensação mais reconfortante que havia sentido na vida. Pensou que Alec poderia estat sentindo o mesmo. Magnus sabia reconhecer desejo quando o via. Ao menos normalmente sim. Como podia ter se enganado tanto?
Quase fez Alec…, quando o despiu e finalmente o viu inteiro, percebeu que mesmo sem desejá-lo, talvez Alec faria. Mesmo sem querer, apenas porque estavam casados e por achar que tinha alguma obrigação. Talvez Alec achasse que lhe devia alguma coisa, o que era ridículo.
Lembrou então quando o Robert falou que Alec sempre faria qualquer coisa pelo que era certo e ficou enjoado. Como poderia ser certo que Alec se entregasse para ele quando não o queria?
Por um momento estava tudo bem, então foi como se Alec estivesse desconectado, agindo no controle automático, e quando se afastou para conferir se estava tudo bem…
Magnus esfregou os próprios olhos cansados e se rendeu, batendo de leve na porta e torcendo para Ragnor não acordar primeiro que Catarina.
Ainda assim, seus pensamentos não conseguiam se desligar de Alec.
Qual seria o maior sinal de desejo de um homem? Magnus o conhecia muito bem. Seu corpo pulsava à medida que beijava Alexander. Mas apesar de retribuir seus beijos, o corpo de Alec estava inerte quando Magnus retirou a calça dele. Não havia desejo. Nem um mínimo sinal dele.
Foi então que caiu em si e lembrou-se do que vinha relembrando constantemente: Alec não era seu. Não de verdade. Alec ainda amava Raphael. Não era ele que queria.
Será que Alec estava pensando em Raphael nesse exato momento?
Talvez fosse normal que ele pensasse sim.
Mas não. Não se torturaria desse jeito.
Bateu na porta da amiga mais uma vez e quando ela abriu depois de um tempo, com cara de sono, Magnus lamentou.
-Acabei de fazer a maior besteira da minha vida. Posso dormir aqui hoje?

Magnus sentou-se no sofá, desnorteado demais para fazer qualquer coisa. Mas Catarina foi compreensiva, fez chá e sentou do seu lado, esperando até que estivesse pronto pra falar. Ela parecia preocupada.
Quando ficou claro que ele não diria nada do que aconteceu, ela começou a perguntar.
-Porque deixou seu marido sozinho na noite de núpcias? - Ela parecia suspeita.
-Você sabe que não é real, Catarina - retrucou a contragosto.
-Mesmo assim.
Magnus bufou, porque percebeu que também não gostava da ideia de deixá-lo. Mas não imaginava nenhuma maneira de Alec se sentir seguro com ele por perto agora. Primeiro no casamento, depois em seu quarto… não era como se não pudesse se controlar diante de um homem bonito por quem se sentia atraído. Então porque simplesmente não respeitou o espaço e o luto de Alec? Porque tinha que beijá-lo na primeira oportunidade?
Procurou as respostas, mas não havia respostas para aquilo. Ele não era um selvagem. Nunca beijou alguém que não o quisesse e percebia o quanto tinha sido errado.
-Ele não vai ficar sozinho - respondeu - Pedi a Lily para ir até lá e ficar à disposição se ele precisar de algo.
Catarina bufou e deu um tapa em sua nuca, como uma irmã mais velha faria.
-Ela não é sua babá. E ele não a conhece. Alec é quieto, você sabe. Ele não vai se sentir melhor com uma estranha dentro de casa.
-Eu sei, Catarina - Resmungou enquanto escondia o rosto nas mãos - Ele pensou que ela era minha amante.
Dessa vez Catarina bateu mais forte.
-Seu idiota!
-Ai, Catarina! - esfregou a nuca dolorida - Eu disse pra ele que não era assim.
-Alguma coisa você deve ter dito para ele pensar assim. O que aconteceu, para fazê-lo fugir? Você parecia feliz,  mesmo que o casamento não seja real…
-Eu o beijei - Falou em voz baixa, tamanha vergonha - Eu queria… queria beijá-lo mais. Mas ele está de luto, e é óbvio que não sentiria nada assim, no máximo se resignaria a me aceitar sem me querer por algum motivo que eu não entendo. E eu quase… isso vai ser mais difícil do que eu imaginei, Cat.
Ela fez uma expressão sofrida que deveria combinar com a dele e deu tapinhas gentis em seu ombro.
-Oh, céus. Você já está se apaixonando por ele?
-O que? - se afastou dela, com uma careta -  Não! É… deve ser só uma atração e vai passar se eu ficar longe dele, mas como, se ele agora mora comigo?
Magnus acariciou a runa sobre o coração imediatamente. Já estava esfriando e escurecendo. Raphael era um maldito cara sortudo por ter o amor de Alexander mesmo depois de morto.
-Bem, meu amigo, aposto que Ragnor não esperava por isso. Quer que eu prepare o quarto de hóspedes pra você essa noite?
Magnus deixou sua xícara de chá sobre a mesa, desejando muito poder apenas dormir e esquecer o início da noite. Mas havia um impulso mais forte avisando-o para voltar.
Catarina tinha razão, não podia deixar Alec sozinho em um lugar desconhecido e com uma pessoa desconhecida. Alec era seu marido agora, deveria cuidar dele.
-Eu vou voltar. Vou voltar e me desculpar com ele e garantir que nunca mais vou tocá-lo de novo.
-Magnus… eu te conheço. Sei que nunca o machucaria ou faria algo contra a vontade de Alec.
Bem… sentia muito por tê-la decepcionado, porque havia acabado de fazer.
Ele era um completo imbecil.
Levantou, movido por aquele mesmo impulso misterioso e abraçou Catarina. Ele não era mais uma criança para simplesmente fugir de seus erros. Alexander merecia isso. Ao mesmo tempo havia uma inquietação em seu peito que apenas fazia querer correr para longe.
-Preciso ir antes que perca a coragem, Cat. Me deseje sorte.
Foi reconfortado pelos braços gentis de sua melhor amiga.
-Ah, droga! - lamentou.
Catarina riu, mas ainda era um riso cheio de compreensão e empatia. Não era com ele que ela deveria se preocupar.
Se afastou, batendo em alguma coisa, e o barulho ressou pelo apartamento. Amaldiçoou a si mesmo pelo descuido.
-Ops! - Catarina se encolheu.
-Cat… - Ragnor chamou de algum lugar lá dentro e Magnus se afastou de Catarina o mais rápido que pôde.
-Oh, não - balbuciou - Ragnor acordou.
-Magnus? - A voz confusa de Ragnor soou.
-É ele sim - Catarina respondeu gritando.
-O que ele faz aqui? Ei Magnus, espere… - Era Ragnor, dessa vez atravessando as portas e vinha em sua direção.
Ops. Melhor correr. Tropeçou apressadamente em direção à porta de saída, gritando de volta. Piscou para Catarina.
-Ah, que pena. Preciso sair agora. Fica para uma próxima, Rag. Adeus.
-Magnus, espere…
-Quem acordou esse rabugento? - Grunhiu
-Você - Catarina debochou.
Fez careta, fechando a porta atrás de si. Abriu um portal o mais rápido possível, antes que Ragnor o alcançasse, e o atravessou com a convicção ainda mais vacilante do que antes.

Falling - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora