17 - Ataque

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Magnus já estava acordado e analisando a situação quando o céu da manhã começou a clarear.

Ainda não conseguia aceitar que alguém queria ele ou Alec mortos. Podia repassar os fatos quantas vezes fosse — alguém pretendia colocar o tratado em risco —, mas apesar de manter os ouvidos atentos, procurando o som de um drone, de um portal ou de um Helicóptero vindo atrás deles, simplesmente não conseguia acreditar. Ninguém nunca guardou rancor dele. Magnus não tinha inimigos.

Eles estavam se saindo bem, dadas as circunstâncias e de sua energia não ter retornado o suficiente nem mesmo com uma noite insatisfatória de sono. Não era culpa dele que o carro havia batido e que alguém o odiasse a ponto de sabotá-lo. Talvez, se não tivesse trocado o plano de viagem, eles não estivessem ali fazendo uma trilha para encontrar ajuda, mas até que a caminhada estava indo bem. Sem dúvida, o único problema pelo qual ele poderia ser culpado era Alec.

Não era justo colocar dessa forma. O problema não era Alec em si, mas Magnus. Se ele tivesse conseguido ser menos esquisito na noite anterior, talvez eles continuassem sendo quase amigos, ou seja lá o que fosse que os dois vinham sendo ultimamente.

Sem pensar direito, Magnus pegou um punhado de neve ao seu lado e formou uma bola entre as luvas. Precisava dar um jeito na própria vida. Ele e Alec haviam alcançado uma estabilidade frágil, e se Magnus continuasse daquele jeito, acabaria arruinando tudo para os dois.

— Esse é o prelúdio de uma guerra de bolas de neve? — disse uma voz atrás dele. — Devo avisar: diferente dos seus oponentes em festas de escola, eu não tenho cinco anos.

Magnus sorriu e jogou a bola de uma mão para a outra, saindo da própria introspeção.

— Melhor ainda — disse ele. — Você já enfrentou pessoas de oitenta? São terríveis! — Ele jogou a bola de neve para o alto, mas ela se desmanchou quando ele tentou pegá-la. — Droga.

— Estruturalmente instável — comentou Alec. — A culpa é dos empreiteiros. — O canto da boca dele estava curvado em um sorriso, mas havia certa tensão ali. Magnus torceu para ser melhor do que ele em esconder o que estava sentindo. — Quais são os planos para hoje?

— Certo. — Magnus se levantou e começou a dobrar o saco de dormir. — Se o terreno não estiver muito ruim, acho que alcançamos a linha do trem hoje ou amanhã. Podemos partir agora e tomar café da manhã mais tarde, se você já estiver descansado.

— Não pretendo dormir mais — disse Alec. Ele parecia tão abatido quanto Magnus às quatro da manhã. — Vamos nessa. — Ele se virou para guardar a tenda.

A sombra da montanha mantinha a neve ao redor deles escura, mesmo com o céu acima já de um cinza claro. Nos penhascos distantes, a luz do amanhecer reluzia nos destroços do carro, já pequeno por causa da distância. Magnus olhou para ele com pesar.

Não adiantava chorar sobre o leite derramado, e estava frio demais para continuar ali. Ele e Alec consultaram o mapa, que não fazia ideia de onde eles estavam, mas era útil o bastante para lhes apontar a direção sul. Eles escolheram o caminho que parecia mais amigável e partiram.

Num acordo não dito, tomaram café da manhã enquanto caminhavam. Magnus já havia feito trilhas no inverno antes, mas seria mentira dizer que estava feliz naquela caminhada de sobrevivência não planejada no meio do nada, sem saber se alguém estava atrás deles. Haviam dado sorte: tinham equipamentos e, tecnicamente, o resto da jornada seria apenas uma questão de andar pra frente, mas, ainda assim, quanto mais se afastassem do local do acidente, melhor. Alec parecia pensar da mesma forma.

Quando a luz atravessou o topo das montanhas, no meio da manhã, os dois relaxaram por um breve instante. Magnus tentava não se preocupar demais, e também evitava falar qualquer coisa que aumentasse o nível de estresse. Ele e Alec trocaram comentários e piadas sem graça que não renderam muita conversa.

Falling - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora