22 - Denuncia

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Por um momento nauseante Magnus via duas imagens se sobrepondo. Ele piscou com força, reprimindo o peso no estômago. Os músculos doíam de um jeito estranho, como se não estivessem de fato sendo usados. Ele esticou a mão. Parecia normal.

Quando piscou de novo, seu quarto tinha desaparecido. No lugar dele, havia um ambiente claro e arejado com arcos grandiosos de mármore que Magnus reconheceu: o salão para banquetes menores no primeiro andar do labirinto espiral, durante uma espécie de jantar formal. Ele estava sentado a uma mesa comprida, com pessoas ao redor e, no começo, olhou desesperado de um lado para o outro porque aquilo parecia impossível. Então se deu conta de que os outros deviam ser alucinações, rindo e conversando como pessoas reais.

Lembrou o pedido que fez a Alexander. Agora Alec estava mostrando suas memórias. Magnus estava angustiado. Ele não tinha a certeza de que queria ver o que Alec mostraria. Se ver aquele maldito video já tinha machucado tanto, então como seria ver as lembranças de Alec diretamente? Como era para Alec suportá-las e suportar esse segredo todos os dias?

Magnus se manteve firme e seguiu em frente.

Observando com mais calma, ele percebeu as falhas nos arredores. Os arcos e as mesas eram até bem claros, mas os cantos do salão eram difusos e indistintos. Ao examinar diretamente os cantos, viu que na verdade eram uma neblina cinzenta e malformada, como se a projeção não chegasse tão longe, mas conforme ele continuava observando, os detalhes começavam a surgir: uma cadeira apareceu, um pedaço de parede, um aparador com acabamento em ébano. Aquilo fazia seu cérebro coçar. 

Perceber que algumas das pessoas mais distantes na mesa também estavam incompletas foi ainda mais perturbador: pelo canto do olho, elas pareciam usar uniformes vibrantes e vestimentas dos feiticeiros, mas quando Magnus se virava para olhar diretamente, elas não passavam de borrões de cor com formas cinza e ovais no lugar dos rostos. As cores e feições flutuavam sobre elas enquanto ele observava, como se as pessoas estivessem sendo pintadas. Magnus franziu o cenho ao analisar os novos rostos — um colega do labirinto, Ragnor. Aquilo parecia um jantar oficial.

O que era aquele evento, afinal? Quando olhou em volta, viu simbolos dos vampiros, feiticeiros, fadas, todos as criaturas do submundo. Entretanto, as pessoas, em sua maioria, eram feiticeiros, então devia ser alguma coisa interna. Alguma data importante, talvez. 

A cabeça de Magnus girou como se puxada por um ponto magnético, parando em Alec e Raphael sentados a uma das mesas compridas no salão.

Ele arrastou a cadeira para trás e se colocou de pé. Um dos convidados emitiu um som de protesto incompreensível, então Magnus disse um “com licença” educado e se espremeu entre as mesas até que estivesse próximo o bastante para escutar Alec. 

Ergueu a mão para chamar a atenção dele. Alec não estava olhando. Magnus reconheceu o jeito como ele se sentava, esguio e tenso. Também reconheceu os trejeitos de Raphael, mas só porque sabia muito bem como as pessoas se comportavam quando estavam bêbadas e exageradas durante um jantar. Raphael parecia sólido e confiante demais para ser uma alucinação, e não estava aproveitando a noite sozinho. Todos naquela ponta da mesa estavam bebendo bastante. Exceto Alec.

Então Magnus avistou Malcolm sentado a algumas cadeiras de distância de Raphael, e congelou. Mas o olhar de Malcolm passou direto por ele, como se os dois fossem desconhecidos. 

Aquele Malcolm era apenas uma memória, arrancado das lembranças que Alec guardou daquele jantar.

De repente, a coluna de Alec ficou rígida, e as pessoas estavam olhando para ele. Alguém devia ter feito um comentário. A pessoa ao lado dele se aproximou e lhe deu um tapinha no ombro. Alec se encolheu.

Falling - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora