A dor até que tinha utilidade, pensou Alec. Colocava as coisas em perspectiva. Havia certa pureza na maneira como ela atravessava as tangentes emocionais, fazendo você lembrar que poderia ser pior.
Ele sentia muita dor. Precisou se esforçar para ignorar, mas eventualmente percebeu algo pegajoso pressionando seu ombro. Encarou o pequeno trecho de neve à sua frente — que inexplicavelmente estava de lado — e o céu gélido e azul à distância. Levou um tempo para se dar conta de que a umidade contra seu ombro também era neve.
Ao perceber isso, tudo veio à tona. O carro se tornou um emaranhado de destroços ao seu redor. Ele ainda estava afivelado ao assento caído entre uma pilha cristalina de cacos de vidro, e o cinto de segurança criava uma linha de dor em seu peito. Respirou fundo o ar gelado e tentou se soltar do cinto; tremia tanto que não conseguia apertar o botão. O ombro ardia de dor.
Numa segunda tentativa, conseguiu se soltar e rolou alguns centímetros sobre a neve. Lá se foi seu último fôlego. Ele apoiou a testa na neve e lembrou seus pulmões de como expandir.
O frio não facilitava nada, mas o ajudou ao tornar o desconforto das roupas ensopadas tão insuportável que ele teve que se levantar. Já estava começando a tremer. Virou-se e procurou por Magnus.
Ele não estava ali.
Alec encarou os destroços da parte frontal do carro e o assento vazio por três longos segundos antes de olhar mais além e encontrar uma forma sombria caída no final de um rastro escavado na neve. De repente, respirar ficou muito difícil. Sua cabeça ainda devia estar tonta, porque pareceu não ter passado tempo algum entre avistar Magnus e se ajoelhar ao lado dele, tremendo tanto que precisou parar sua mão a um centímetro do rosto do parceiro. Os olhos dele estavam fechados. Tocá-lo não ajudaria. O que ajudaria? Alec era tão inútil.
Como se tivesse sentido o calor da mão de Alec, Magnus se mexeu. Abriu os olhos e levantou a cabeça, se apoiando sobre os cotovelos.
— Ai.
Tomado de alívio, Alec se agachou tão rápido que acabou caindo sentado na neve, aparando o corpo com as mãos.
— Magnus.
— Argh. Estou aqui — chamou Magnus — Eu acho que estou, pelo menos. Ai. — Ele se sentou, apesar do protesto involuntário de Alec, que estava pensando em costelas quebradas e lesões internas. Mas o movimento não pareceu causar mais dor em Magnus. Ele esfregou a cabeça, olhou em volta e disse:
— O qu… Ai, merda. — Ele se jogou para a frente, arrancando mais um protesto que Alec não pretendia fazer, e agarrou o braço dele. — Você se machucou?
— Não — respondeu Alec, e Magnus o soltou.
Alec olhou para Magnus de perto. Levou a mão até um arranhão vermelho na têmpora dele, mas não o tocou. — Você foi jogado pra fora do carro.
Magnus começou a dizer alguma coisa, mas gaguejou. Seus olhos focaram na mão de Alec, que percebeu ter acabado de afastar uma mecha de cabelo da testa de Magnus como se tivesse o direito de fazer aquilo. Ele recolheu a mão.
Magnus pigarreou.
— Sim — disse ele. — Pois é, isso não estava nos planos. Foi só um arranhão. Nada que uma pastilha energética não resolva. — Ele se levantou, e o pavor tomou conta de seu rosto quando ele olhou para o carro — Me diz que isso não aconteceu por causa das gracinhas que fizemos na neve.
Alec também ficou de pé, descobrindo que seus membros estavam inesperadamente desengonçados. Era difícil manter o equilíbrio.
— Não — respondeu ele. Carros não eram sua especialidade, mas ele sabia o básico. — acho que não.
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Falling - Malec
FanfictionAlexander é um Caçador de Sombras parte de um acordo valioso entre Caçadores de sombras e submundanos. Era feliz e satisfeito com sua vida. E completamente apaixonado por seu parceiro. Até um ataque inesperado tirar uma das pessoas mais important...