Rage Quit

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O apito da chaleira traz S/N de volta para o ambiente atual: a sala de estar. Nas paredes, a forma da janela é refletida através dos raios do sol poente, quentes e alaranjados. Ela se levanta da cadeira e desliga o fogo, depois abre o pote de café e sorri ao sentir o aroma forte subir.

A água liberou um vapor ardente quando foi derramada no filtro, junto do pó e do açúcar. S/N dá um suspiro satisfeito ao ver os primeiros pingos de café encherem a garrafa térmica, e sem pressa alguma, ela se senta à mesa e fica traçando pequenas linhas e formatos sobre o forro de algodão, só esperando.

Os cantos e assobios dos pássaros soavam do lado de fora do apartamento, junto do som de carros e outros automóveis. O vento entrou pela janela aberta e soprou, suave e refrescante, pela pele de S/N, que agora sentia uma paz de espírito maior que qualquer coisa.

Para ela, não existia nada mais tranquilo que um café da tarde, e os gatos pareciam concordar também. Olhando para os lados, ela viu os dois deitados preguiçosamente no sofá.

"MANO, WHAT THE FUCK, DE NOVO?!"

Ah, é... o Saiko está em live.

Dava para ouvir os gritos com clareza, mesmo com ele estando dentro do seu quarto, com a porta fechada. Até mesmo os gatos se assustaram e foram se esconder debaixo do sofá. S/N não conseguiu segurar o riso. Era incrível a habilidade que ele tinha de acabar com a serenidade dentro de casa.

"VAI TOMAR NO CU, EU APERTEI CERTO, POR QUE NÃO FOI?!"

"Deve ser jogo de ritmo, eu tenho certeza," ela murmurou para si mesma enquanto se levantava da cadeira e voltava para a cozinha. A garrafa já havia se enchido com os pingos de café, e ela não demorou tempo nenhum para pegar uma caneca para si. S/N provou um pouquinho da sua antes de colocar, também, para Saiko.

Sem fazer barulho, ela foi passeando pelo corredor, chegando cada vez mais perto da fonte de barulho. Abriu a porta e ficou de longe, assistindo seu namorado quebrar a cabeça.

"Eu não aguento mais ouvir essa música," ele reclama para o chat após reiniciar novamente a fase do jogo de ritmo que jogava, em live (S/N estava certa, como sempre). "Eu não me importo com a votação, faz o que vocês quiserem, mano, foda-se."

Com o fone de ouvido no máximo, não ouviu ela chegar e tomou um susto quando uma caneca apareceu na sua frente. Ele virou a cabeça para trás e deu um sorriso, meio assustado, ainda, de gratidão. A paz que S/N trouxe consigo foi logo embora quando ele teve que reiniciar a fase, e ela foi segurando o riso de volta para a sala.

Os gritos crescem a medida que o tempo vai passando, e uns cinco minutos depois, Saiko aparece no corredor com um meio sorriso hesitante no rosto e a caneca de café na mão.

"Que foi?" S/N pergunta, do sofá.

"Fiquei puto e fechei a live."

"Não conseguiu passar, foi? Senta aqui."

"Passar eu passei," ele comenta, chegando pertinho dela e descansando a cabeça em seu ombro. "Mas passei com uma nota bosta. Queria pelo menos um B e fiquei tirando C toda hora."

"C não é uma nota bosta."

"Eu queria um B," ele repete, depois toma outro gole da caneca. "Esse jogo é muito difícil, não dá. E agora a música não para de tocar na minha cabeça," ele afina a voz em uma tentativa (falha) de soar que nem a personagem do jogo cantando: "Making cookies for my love, I stir and mix. Makin- Ah, vai tomar no cu."

Ela ri e faz que não com a cabeça, se divertindo com a indignação dele.

"O jogo é bom," ele continua, "só é impossível."

one shots • saikomene x leitorOnde histórias criam vida. Descubra agora