Capítulo 3 - 'it only hurts this much right now'

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JORY ANDERSEN POINT OF VIEW

Eu observava em silêncio as ruas praticamente vazias do bairro pela janela embaçada do carro em movimento, tentando não pensar em nada, e falhando miseravelmente.

Há dois dias, eu havia perdido a minha mãe.

É interessante o fato de que mesmo com semanas de preparo psicológico para o que vai acontecer, a notícia ainda cai sobre você como uma bomba, explodindo de imediato. Não importa há quanto tempo você sabe, nunca vai estar preparado.

Como Marissa Andersen não possuia nenhum parente vivo, só restaram duas soluções para mim: ir para uma espécie de orfanato, onde crianças órfãs sem família viviam até completar a maioridade; ou viver com uma família indicada pelo responsável em questão em caso de morte do mesmo.

Bem, felizmente, minha solução atual não é a primeira opção. A minha mãe e a de Lena eram amigas desde crianças, e coincidentemente ambas não possuíam uma família a não ser aquela que haviam construído, o que acabou fazendo com que se ajudassem em qualquer caso.

Quando Rose Miller morreu, foi minha mãe quem deu todo o suporte aos três irmãos, que já tinham perdido o pai há poucos meses. O irmão mais velho de Lena, Carl, começou a trabalhar aos dezoito anos, enquanto mamãe ficava comigo, Lenn, e Charlie, o bebê recém-nascido que sequer teve tempo de conhecer a mãe. Hoje ele tem cinco anos, e no momento canta uma musiquinha insuportável dentro do carro durante o caminho até a casa.

Agora, eu vivia com os Miller, e Carl basicamente havia se tornado meu responsável legal até que eu encontrasse minha família biológica. Eu havia feito essa promessa à minha mãe duas vezes: a primeira, quando descobri sobre a sua doença, e a segunda, em seu leito de morte.

Pra falar a verdade, eu não gostava muito de pensar sobre isso, já era mórbido o suficiente sem essa lembrança constante.

Levaram apenas alguns poucos minutos até que chegássemos em casa, que na realidade era a casa deles, já que eu não poderia ficar vivendo sozinha na minha. O velório da minha mãe havia sido ontem, mas já fazia uma semana que eu estava lá. E
Apesar de tudo, era bom poder passar mais tempo com a minha amiga, e ela tinha insistido para que dividíssemos o quarto.

— Lena, Jory, vou ter que sair em 15 minutos – Carl disse assim que chegamos, e começou a vasculhar os armários da cozinha. — Como ainda vou fazer as compras, vocês podem pedir uma pizza mais tarde.

Eu me sentia um pouco mal por ele, que já tinha tanta responsabilidade sobre as costas e agora precisava lidar com mais uma. Ele trabalhava bastante, mas pelo menos eu não iria causar prejuízo financeiro, já que minha mãe nunca gastou o dinheiro que recebeu após a morte do meu pai, que servia ao Exército. Mas infelizmente eu não poderia fazer nada em relação às assistentes sociais que pegariam no seu pé.

Carl foi embora 15 minutos depois, deixando uma nota de 20 dólares em cima da bancada da cozinha, dando um beijo da cabeça de Charlie, que estava pintando em cima do tapete da sala, e um abraço em mim e Lena.

— Se cuidem – disse, fechando a porta.

Alguns poucos segundos de silêncio se passaram, a não ser o som da fricção dos giz de Charlie no papel, e então ouvi os passos de minha amiga se aproximando de onde eu estava.

— O que quer fazer agora? – Lenn me perguntou, se jogando ao meu lado no sofá.

— Quero dormir e só acordar mês que vem – falei, e ela riu fraco. — Não faço ideia de como vou achá-la, Lena.

Ela sabia de quem eu estava falando.

Como nas últimas semanas minha mãe estava morrendo e esses seriam seus últimos dias de vida, resolvi aproveitar todo o tempo que ainda teria com ela, apesar de suas preocupações constantes e culpa por não ter resolvido esse assunto todo quando descobriu que eu não era sua filha biológica, há sete anos. Até tentei fazê-la esquecer isso, mas ela estava tremendamente arrependida e não aguentava o fato de que iria me deixar sozinha no mundo, mesmo eu repetindo várias vezes que ainda teria Lena e Carl, e até mesmo Charlie.

Safe & Sound | Taylor & TravisOnde histórias criam vida. Descubra agora