Vinte

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Desconhecido: Espero que você não ligue por meu

irmão ter me passado seu número...

A próposito, aqui é Fumiko!

Olho para a tela do celular. Fumiko... Fumiko?

Ah! Fumiko, a irmã de Jungkook.

– Jungkook?

Saio do banheiro e vou encontrá-lo de pé na cozinha. Posso adivinhar que ele está de cuecas boxer, porque, do meu ponto de vista – e ele está com metade do corpo oculto atrás do balcão – parece até que ele está comendo cereal vestido com nada além da aliança de casamento.

Socorro.

Quando ele me vê, limpa a boca com o antebraço tatuado e meus olhos disparam no alvo como uma mira telescópica. Com seu braço fora do caminho, deparo-me com uma vista generosa dos seus músculos peitorais, abdominais e oblíquos...

Eu os vejo todos os dias – não é uma vida extraordinária? – e eles sempre me deixam sem fôlego.

– Você comentou que não está com fome, então pensei em comer alguma coisa rápida antes de irmos. – Ele aponta para o celular ainda preso em minhas mãos e abaixa a voz para sussurrar: – É alguém no telefone?

Arranco meu olhar teimoso de seu torso para fitá-lo nos olhos.

– Sim. Telefone. Será que você, por acaso, deu meu número para a sua irmã?

Jungkook deixa a tigela na pia e contorna o balcão. Está de cueca, mas agora tenho a visão de suas pernas também.

Não sei se isso melhora minha situação. Parado à minha frente no vão da porta, ele parece acanhado.

– Ela continuou pedindo, e uma vez que ela não sabe que isto é... – Ele gesticula entre nós dois e sei que está querendo dizer: de fachada.– Achei melhor ceder. Espero que não fique bravo. Ela não é o tipo de pessoa que manda mensagens, então você quase não vai ter contato com ela.

– Não, tudo bem. E você tem razão, ficaria estranho se não interagíssemos com eles.

Jungkook escora-se na moldura da porta, de frente para mim, nu demais para estar assim tão perto. Afasto-me e viro-me para encará-lo no corredor. Por um lado, é amável ter notícias de uma irmã dele. Nossas vidas estão se emaranhando, estamos marcando a história um do outro com uma tinta permanente.

Por outro lado, faz três anos que ele não volta para casa. É difícil saber quanto custou emocionalmente para ele me conectar com sua irmã.

– Ela não vai querer muita intimidade – ele me garante. – É o jeito Jeon de fazer as coisas.

Rio com isso.

– Com certeza é o jeito Kim também. E, olhando pelo lado bom, pelo menos não vou ter que mentir sobre ter contato com a sua família.

– É verdade. – O sorriso dele escorrega por um momento antes de ser substituído por outro que não enruga seu nariz do modo como estou acostumado a ver, e essa ausência que o torna tão notável. – Falando nisso... Acho que precisamos nos aprontar para ir.

☁☁☁☁☁

Jungkook observa o edifício do governo federal e, juntos, levantamos o rosto para as alturas.

– Estou com a mesma sensação que tinha quando era criança e ouvia: "Espere só até seu pai chegar em casa".

Balanço a cabeça em concordância, parabenizando a mim mesmo pela sabedoria de não ter tomado café da manhã hoje. Agora ele estaria voltando pela minha garganta.

Roomies [namkook]Onde histórias criam vida. Descubra agora