Jungkook me passa meu celular vibrando.
– Jimin de novo.
Coloco-o sobre a mesinha de centro com a tela para baixo e volto ao meu notebook. Pela primeira vez em eras, acordei com palavras em minha mente, e estou determinado a escrevê-las antes que desapareçam na bruma.
Ele está deitado atrás de mim no sofá.
– Você não vai ligar pra ele?
– Não agora.
Percebo que ele está lendo por cima do meu ombro.
– O que é isso?
– Nem eu sei, pra falar a verdade. – Estou tentado a cobrir a tela, a fechar a tampa para ocultar as palavras, porque parecem como o tronco nu de uma árvore: desprotegido e à mercê dos elementos. Em vez disso, finjo que minhas mãos estão grudadas no teclado. Por centenas de vezes ouvi Jungkook tropeçar nas notas enquanto ensaiava um novo trecho de música ou composição inédita, e ele nunca ficou envergonhado. Por que eu ficaria?
– Para um livro? – ele pergunta. Kook sabe por quanto tempo isto me escapou, e o que significa para mim ter uma centelha de inspiração.
– Não. Talvez? Não tenho certeza. – Releio as anotações que fiz, quase hesitante, com muito cuidado para não espantar a centelha.
Não consigo parar de pensar na sensação de atravessar a cidade ontem em busca de um talento equiparável ao dele. Não consigo parar de pensar na sensação de ouvir Sehun e ele apresentando-se juntos.
– Apenas me veio à mente essa ideia, sobre como nos conhecemos e onde você está agora, e como me sinto ao ouvir você nos dois lugares.
A mão dele escorre dos meus ombros pelo meu peitoral descoberto até descansar acima do meu coração.
– Gosto da expressão no seu rosto agora. Tão intensa.
Tenho saudade de escrever. Escrevi inúmeros contos durante a faculdade e o mestrado. Precisava escrever todos os dias ou me sentiria como um ralo entupido, transbordando palavras. No dia em que peguei meu diploma e passei a encarar o mundo como uma pessoa que não está mais sob a redoma protetora da escola, parece que as ideias todas secaram.
E isso tem sido verdade desde então.
Depois de conversar com Hobi e Yoon, pergunto-me se não é porque estou rodeado de pessoas que são brilhantes de formas que não sou, e isso faz com que eu me sinta medíocre por comparação.
Mas isto... Escrever sobre a sensação de ouvir música, de tê-lo encontrado – é quase como descrever o funcionamento dos meus órgãos, do que me mantém respirando. Não acho que já tenha me sentido assim antes.
A mão dele desliza mais para baixo, acariciando minha barriga, e a boca dele vem no meu pescoço, morna e mordente.
– Posso fazer isto enquanto você escreve?
Ainda estou sensível após a segunda rodada de sexo que fizemos há apenas uma hora, mas quando as pontas dos dedos dele fisgam meu mamilo com uma suave beliscada, meu corpo inteiro vibra.
– Não acho que eu consiga manter o foco. Você ficaria concentrado se fizesse isso enquanto toca.
A risada dele vibra sobre minha pele.
– Deveríamos tentar depois.
Viro-me para capturar a boca dele em um beijo.
– Estou quase terminando.
Jungkook retrocede um pouco, sua mão sobe e sua boca volta para a minha nuca. Embora eu tema que esta distração possa afugentar minha musa, as palavras parecem ainda mais fortes. Lembro-me deste sentimento – o prazer de estar repleto com algo e conseguir trazê-lo à tona com toda a clareza. Meus dedos voam pelo teclado e eu ignoro a tipologia neste momento, ignoro a percepção de que ele acompanha meus pensamentos na tela, ignoro tudo.
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Roomies [namkook]
FanfictionKim Namjoon foi salvo de um ataque no metrô pelo musicista japonês Jeon Jungkook. Como agradecimento, Namjoon o apresenta a um grande diretor de musicais e o que era uma tentativa despretensiosa se transforma numa chance inimaginável, pois, antes me...