Suponho que eu deveria ser grato pela verdade do ditado "às vezes, quando uma porta se fecha, um universo inteiro se abre". Afinal, se não fosse o colapso do meu relacionamento naquela tarde do lado de fora do edifício do governo federal, eu não teria deixado o teatro. E se eu não tivesse deixado o teatro, jamais teria arranjado um trabalho como garçom dois dias depois no Friedman's, onde trabalho durante três tardes e três noites na semana. Sem o trabalho no restaurante, não teria meus dias livres para escrever. E sem escrever, não teria nada parecido com uma árvore enraizando dentro de mim, crescendo e saindo, invisivelmente, por cada um dos meus poros.
A mescla de ideias sobre minha infância em uma sala de concertos, músicos de metrô e o brilho do teatro nacional passa de um diário repleto de palavras... para um ensaio.
Parece tão óbvio agora. Escreva sobre música, seu tonto.
Havia me esquecido da alegria de ver as palavras saindo dos meus dedos antes mesmo de ressoarem em minha cabeça. Quando fecho os olhos e digito, vejo as mãos de Jungkook dedilhando o braço do violão, escuto o tilintar das moedas caindo no estojo do instrumento no chão da estação, e lembro-me de como ele mal se dava conta da maré de pessoas quebrando em ondas ao redor dele na plataforma do metrô.
Por algumas semanas tento me manter em movimento: o trabalho de garçom, a contagem de palavras, correr pelo rio Han pelo menos uma vez por dia, voltar a frequentar a academia. Em partes, sinto o prazer das conquistas e de ver meu corpo ganhando a definição que um dia já tive, mas depois foi completamente perdida. Mas também, a cada vez que desacelero e sento no sofá ou me deito na cama a olhar o teto, sinto-me péssimio. O velho hábito de me distrair navegando na internet é impossível. Vejo fotos de Jungkook em todos os cantos do Twitter e do Facebook. E em ônibus e estações de metrô. Até em revistas Playbill descartadas nas lixeiras.
Ele mandou mensagens algumas vezes – uma vez porque esqueceu umas tablaturas aqui, que ele veio buscar quando eu não estava em casa. Em outras quatro ocasiões, ele mandou mensagem para ver como eu estava, e a cada vez me limitei a responder objetivamente:
Jeon Jungkook: Como está sendo sobreviver
a esta primeira semana separados?
Você: Estou tentando.
Jeon Jungkook: Mandei pra você o
dinheiro do aluguel para 6 meses.
Recebeu?
Você: Sim, eu conferi seu depósito.
Obrigado.
Jeon Jungkook: Não vejo você no teatro
há semanas. Onde está trabalhando?
Você: Tenho um trabalho novo.
No Friedman's.
Jeon Jungkook: Quer jantar comigo
na segunda?
Você: Desculpe, não posso.
Trabalho nas segundas à noite.
Essa última foi enviada há apenas quatro dias, e não era mentira, eu realmente trabalho às segundas-feiras. Mas minha gerente é legal, gosta do fato de que trabalho duro e sem reclamar; tenho certeza de que poderia ter trocado meu turno com alguém. A questão é que não há nada particularmente romântico nas mensagens de Jungkook e, como sempre, meu problema é que não faço ideia de como entender o que ele quer. Temo que, se começarmos a conversar mais, esta nova versão aprimorada de Kim Namjoon vai desmoronar, porque eu o quero de volta com mais força do que desejo admitir.
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Roomies [namkook]
FanfictionKim Namjoon foi salvo de um ataque no metrô pelo musicista japonês Jeon Jungkook. Como agradecimento, Namjoon o apresenta a um grande diretor de musicais e o que era uma tentativa despretensiosa se transforma numa chance inimaginável, pois, antes me...