[01] - Eu definitivamente não sou hétero!

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𝙋.𝙊.𝙑 𝙅𝙪𝙣𝙞𝙤𝙧

Já fazia um pouco mais de duas semanas que eu havia chegado em Boiadeiros e cada vez mais me sentia deslocado, primeiro pelo fato de não ter nada para fazer nesse meio de mato e segundo por estar cercado de héteros top, Marias breteiras e pessoas que definitivamente não tinham nada em comum comigo. E para completar com chave de ouro, a minha mãe insiste em jogar uma tal de Kerry para o meu lado.

- Junior!!! Adivinha quem está aqui? -
gritava a minha mãe adentrando o meu quarto com um sorriso de orelha a orelha.

Eu já sabia a surpresa que me esperava, joguei o travesseiro contra a cabeceira da cama e andei até a sala suspirando. Ao ver a garota de longos cabelos loiros e um visual country como todos naquela maldita cidade ao lado de minha mãe, abri um sorriso forçado.

-Ah, Kerry! Oi, tudo bem? -disse levantando uma das mãos dando um "oi".

-Oii Júnior, tudo ótimo! Eu vim aqui pra te chamar pra exposição que tá tendo de animais lá na cidade, pensei que você poderia se interessar! - dizia a mesma com um ar gentil.

-Foi mal... eu tô com um pouco de dor de cabeça, acho que não vai dar para... -
respondi mas logo fui interrompido por minha mãe.

-Ora que isso, meu filho! O Júnior está mesmo precisando sair um pouco, essas dores e cansaço dele devem ser de tanto ficar parado, sair um pouco vai te fazer bem filho! -Dizia minha mãe me envolvendo como um polvo com seus braços fazendo um leve carinho em mim.

Suspirei, sempre que precisava impor a minha vontade ou dizer alguma coisa eu simplesmente travava, odiava aquilo, sei que a minha mãe não fazia por mal, ela não sabia, não tinha como saber se eu contasse, e por mais que eu quisesse o medo me impedia de ir além e falar qualquer coisa que fosse além do que ela queria.

-Claro... eu vou sim! Só vou me arrumar no quarto rapidinho. - falei tentando demonstrar o mínimo de empolgação possível.

As duas comemoraram e começaram a papear como sempre, fui ao meu quarto e troquei a minha peça de roupa para uma mais "sociável". Voltei para a sala tentando ao máximo manter um ar de empolgação para aquela voltinha com Kerry.

-Você vai também, mãe? - Perguntei me aproximando da mesma.

-Não filho, eu tenho que ficar pra resolver umas coisas por aqui e receber o novo peão que vai chegar hoje, mas divirta-se! Você está lindo! - Disse a mesma alisando as mãos carinhosamente em meus ombros.

-Vamos? - Kerry perguntou animada.

Assenti e segui ela até seu jeep, conversamos a viagem toda sobre coisas aleatórias, em geral eu gostava da Kerry, ela era uma pessoa legal, mas não como namorada, eu via ela como uma amiga, mas cada vez mais percebia que ela sentia algo a mais por mim.

Ao chegarmos na tal exposição, a loira me puxava animada falando sem parar na minha orelha. Passamos o dia perambulando pelo local, admirando as diversas espécies ali presentes. Inclusive, Kerry sempre me forçava a pegar nos bichos, coisa que eu odiava, mas em geral foi um dia muito bacana, havia me divertido muito mais do que podia imaginar com a minha pretendente. Estávamos em uma área mais afastada da exposição tomando um sorvete e conversando. Para ser sincero, nem havia visto o tempo passar com ela.

-E aí, eles voltaram como sempre... sei lá, às vezes penso que os meus pais são malucos, uma hora estão quase se matando e na outra comemorando mais uma lua de mel.- Kerry dizia encostada na cerca de madeira ao meu lado.

-Ah Kerry, acho que cada um tem seu jeito de amar, entre tapas e beijos, sei lá... o importante é que seus pais estão juntos e felizes! - Respondia degustando a casquinha de sorvete que até esse ponto já havia deixado a minha boca toda suja.

-Espera, Junior! Cê se sujou todo com esse sorvete! - A menor se aproximava usando o guardanapo para limpar o canto da minha boca.

-Valeu, Kerry! - Respondia abrindo um sorriso para a loira que olhava fixamente para o meu rosto.

-Eu adorei passar o dia com você, Junior. - Ela dizia se aproximando mais do meu rosto lentamente, mantendo o olhar fixo agora para os meus olhos.

Não sabia o que fazer, não queria de jeito nenhum beijar Kerry. Um frio crescia na minha barriga, podia sentir o meu coração disparar, a única coisa que queria era sair correndo daquele lugar. Os lábios da garota se aproximavam cada vez mais dos meus e a única coisa que eu consegui fazer foi afastar o meu rosto rapidamente. No mesmo instante, empurrei a casquinha na camisa de Kerry, fazendo ela se afastar de mim boquiaberta.

-Aah! Kerry, foi mal! Me desculpa! Eu sou um desastre! - Dizia, colocando uma das mãos na cabeça, me fazendo de sonso.

-Não tem problema, Junior... relaxa, é só lavar! - Ela dizia corando, ela estava visivelmente constrangida com aquela situação e não era pra menos. Odiava vê-la assim, mas não podia dar corda para algo que não iria acontecer.

-Tá aqui um guardanapo! - Dizia entregando os que tinha para ela.

-Não precisa, eu tiro, tá calor mesmo! - Kerry dizia desabotoando os botões da camisa listrada, ficando apenas com sua regata branca e amarrando a camisa na cintura.

-Bom... já tá meio tarde, acho melhor a gente ir!- falei tentando mudar de assunto ao perceber que o clima havia pesado um pouco.

-Tem razão, acho que a sua mãe vai me matar se a gente chegar de noite, vamos.-A loira falou começando a andar comigo na direção de onde o seu carro estava estacionado.

Felizmente, eu consegui contornar a situação no caminho de volta, falando sobre o meu contato catastrófico com os animais. Kerry realmente era um ótimo partido, se parecia muito comigo e era uma ótima companhia, só não cumpria um requisito básico de um gay... não era homem.
Andávamos dando risada sobre o pasto após sairmos do carro, indo na direção da fazenda. Com certeza, a minha mãe havia chamado ela para jantar com a gente.

-Desculpa, Junior, mas você correndo das galinhas àquela hora foi muito engraçado!- Ela dizia tampando a boca com a mão.

-A culpa é minha se elas correram atrás de mim? - Respondi, deixando escapar uma risadinha.

-Tentei não julgar você, mas até dos cachorrinhos você ficou com medo, Junior!
- Por mais que tentasse conter as risadas, a loira continuava gargalhando enquanto nos aproximávamos da casa.

-Um deles me mordeu, Kerry! Quase arrancou a minha unha e eu tenho a prova!
- Dizia entre risadas, levantando o meu dedo indicador para ela.

Continuava rindo até olhar para a área florida da entrada de casa e me deparar com a minha mãe conversando com um peão. Parei de rir na hora ao avistar o homem de cabelos escuros e camisa listrada. Apesar de ser o visual típico dos peões daquela região, aquele cara parecia ter algo de especial. Seus olhos escuros,os lábios finos que pareciam tão lisos quanto seda,os pelos em seu cavanhaque,até mesmo seu nariz fino me chamava atenção. Reparava em cada canto do seu rosto, sem ligar para nada ao meu redor.

O mundo parecia ter parado, as risadas de Kerry estavam abafadas, meu coração batia mais forte, um calor estranho invadia o meu corpo. Não conseguia descrever ao certo o que estava sentindo, não sabia o que estava acontecendo. A única coisa que eu tinha certeza era a de que eu queria saber tudo do peão em minha frente.

- Aviso do autor

Não sei por que mas esse cap tá meio bugado, eu tento atualizar ele com uma versão corrigida mas o Wattpad meio que modifica automaticamente pra versão anterior, por isso peço desculpas pelos possíveis erros deste capítulo :/

Coração de Peão Onde histórias criam vida. Descubra agora