𝙋.𝙊.𝙑 𝙅𝙪𝙣𝙞𝙤𝙧
Minha mãe manteve seus olhos verdes imóveis sobre meu rosto após minha fala, a expressão de choque em seu rosto entregava o quão incrédula ela estava com aquela atitude minha.
— FALA MÃE! — Berrei, derrapando o meu tom de voz firme por alguns segundos, para um mais choroso quase implorando á ela.
— O Zeca não tá mais aqui, Júnior! — Ela disse, parecendo enfim estar acreditando que aquela situação era real mesmo. —Acabou...ele já foi embora!
Levei as minhas duas mãos até a minha cabeça, me rendendo ás lágrimas desesperado, apesar de saber daquela possibilidade, saber que aquilo estava confirmado, tornava sensação ainda pior.
— Calma filho...vamos conversar, meninas, nos deixem à sós. — Ela pediu com a voz baixa, virando-se para as afilhadas.
— Você quer que elas saiam pra quê? Pra você continuar fingindo que nada tá acontecendo aqui? — Perguntei olhando com raiva para ela enquanto as lágrimas rolavam sobre meu rosto.
As meninas hesitaram em sair enquanto a minha mãe voltava um olhar melancólico para mim, balançando a cabeça para que eu não continuasse falando.
— EU SOU GAY MÃE! EU AMO O ZECA! —Gritei para elas todas o mais alto que pude.
Arfava tentando recuperar o meu ar enquanto sentia minha garganta mais leve, meu corpo todo parecia mais relaxado apesar do sentimento de dor que sentia, era como se o peso do mundo tivesse enfim saído das minhas costas.
O silêncio tomou conta da sala e as palavras "Eu sou gay" ecoavam na minha cabeça, minha mãe continuou imóvel por alguns segundos, com seus olhos cor de esmeralda ficando aos poucos marejados de lágrimas.
— Júnior, você não sabe o que tá falando meu filho...foi aquele Zeca, ele que colocou essas coisas na sua cabeça. — Ela argumentou, usando uma das mãos para tentar tocar em mim mas eu me esquivei quase que no mesmo instante dela.
— O ZECA? O Zeca foi a única coisa boa que aconteceu nesse inferno de fazenda! — Esbravejei alto para ela.
A mais velha se rendia às lágrimas finalmente, mesmo tentando manter a postura de mulher forte, pude vê-la vulnerável pela primeira vez em toda a minha vida.
Ela olhou para as afilhadas suspirando enquanto as lágrimas sujavam seu rosto.— Estão esperando o que? SAIAM DAQUI! — Ela gritou, escondendo seu rosto com as duas mãos em prantos, quase que implorando.
As meninas saíram caladas do local, Elis me olhou uma última vez antes de passar pela porta, tão aflita quanto eu, acho que no fundo ela sabia que aquela era uma situação que apenas eu podia resolver com minha mãe.
Fiquei parado ali por alguns segundos observando a minha mãe chorar, ver ela tão frágil e triste era difícil para mim apesar de toda aquela situação.— Esse sou eu mãe...Eu vivi a minha vida toda mentindo para mim mesmo e negando tudo que eu gosto, mudando tudo só pra te agradar! Para conseguir chegar aos pés do seu marido perfeito! Do pai perfeito que você inventou pra mim! — Eu ia dizendo com a voz um pouco rouca devido os meus gritos anteriores.
— Você não tem ideia de quantas vezes eu me senti um lixo por não saber montar, por não gostar de mulher...por não ser nem metade do Sinval que você passou a vida inteira elogiando para mim. — Continuei, enquanto a minha mãe levantava a cabeça, respirando fundo para conter as lágrimas e abaixando suas mãos.
— E descobrir que o meu pai não valia nada foi uma das piores e melhores sensações que já senti na minha vida! VOCÊ MENTIU PRA MIM A VIDA INTEIRA! —Gritei, encarando ela com raiva. — Me colocou essa pressão toda pra eu ser como UM CARA QUE NUNCA EXISTIU!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coração de Peão
RandomJunior, o filho perfeito aos olhos de sua mãe é estudioso, educado e gentil, mas guarda a sua verdadeira orientação sexual a sete chaves. Ele decide visitar sua mãe na tranquila cidade de Boiadeiros, no interior, para passar as férias. Entretanto, m...