[03]- Acho que estou apaixonado...

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𝙋.𝙊.𝙑 𝙅𝙪𝙣𝙞𝙤𝙧

Retomei minha atenção às meninas após alguns segundos, mal podia acreditar nas palavras que Detinha havia dito.

- Não... eu não vou namorar com a Kerry! Eu não estou com cabeça pra isso! - Respondi voltando a me mover cortando o pão e tentando parecer o menos tenso possível.

As meninas se entreolharam ficando um pouco mais sérias do que o convencional.

- Então, acho que você tem que falar isso com ela, Júnior, porque pelo que eu vi ali, ela acha mesmo que você está a fim! - Bebela falou, me encarando com seus olhos escuros.

Joguei a faca na mesa e me levantei.

- Pra onde você vai, Júnior? - Maria Elis perguntou ainda sentada ao meu lado.

- Perdi a fome! - Respondi seco, saindo em direção ao meu quarto. As meninas não falavam nada, apenas me olharam sem entender nada.

Me tranquei em meu quarto, e ali fiquei o resto do dia, tentando achar alguma maneira de resolver aquele problema. Não queria de forma alguma ficar com Kerry, mas também não tinha coragem de ir contra a decisão de minha mãe. Além disso, tinha o meu curso. Se ela souber que eu troquei, nem consigo imaginar a reação dela. Havia arriscado demais quando mudei a minha faculdade para moda. Só precisava enrolar ela e Kerry por mais um mês e estaria longe daquilo tudo novamente. Suspirava, olhando para o teto amadeirado, até escutar uma batida na porta.

- Pode entrar... - Murmurei me sentando na cama.

Minha mãe adentrou o quarto com uma expressão séria, sentando ao meu lado na cama.

- Está tudo bem, filho? As meninas disseram que você se trancou aqui desde cedo... Eu só cheguei agora, aconteceu alguma coisa?

- Não mãe, eu só tô um pouco cansado. - Olhei para baixo tentando fugir do olhar protetor dela enquanto falava.

- Júnior, você está tão diferente ultimamente, não quer sair, sempre está indisposto... Está acontecendo alguma coisa? Alguém fez algo pra você aqui na fazenda? Pode me contar sem medo! - Ela disse pegando em minhas mãos, fazendo com que eu levantasse o rosto para encarar seus olhos verdes que brilhavam como esmeralda.

Mais uma vez minha garganta ardia. Queria tanto poder contar para ela mas não podia. Encarei ela por alguns segundos até finalmente começar a falar.

- E-Eu...te amo, mãe! - Falei abraçando forte ela.

Afundei o meu rosto em seus cabelos castanhos, tentando ao máximo conter as lágrimas que surgiam em meu rosto.

- Ô meu filho...eu também te amo! Está mesmo tudo bem mesmo? - Ela perguntou enquanto retribuía meu abraço.

- Tá, mãe, eu só estive com saudades de você esses meses todos lá na cidade! - Falava baixo com um ar de fracasso.

Mais uma vez havia fugido de contar a verdade para ela, e aquilo era a pior sensação do mundo, me sentia um covarde, um mentiroso, o pior filho da face da terra talvez.

Minha mãe saiu lentamente do abraço começando a alisar os meus cabelos como sempre fazia, enquanto me olhava com um sorriso gentil.

- Eu sei, filho! Eu também senti! Você me dá tanto orgulho... Seu pai ficaria tão feliz em ver o filho dele grande como você tá! Um menino direito e interessado pelos assuntos da fazenda! Eu vou te apoiar em tudo que você precisar! Tudo! - Ela sorriu me puxando para mais um abraço.

Tive que fazer uma certa força para não me render às lágrimas. Sabia que suas palavras eram verdadeiras. Na teoria, era muito mais fácil aceitar tudo do que na prática com um filho gay.

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