Coração de Peão

[19] - O começo

𝙋.𝙊.𝙑 𝙅𝙪𝙣𝙞𝙤𝙧

O silêncio tomava conta do quarto, os olhos escuros de Zeca me encaravam acompanhados por seu rosto inexpressivo, senti um nó se formar em minha garganta devido a ansiedade que estava por sua resposta.

- É claro que eu vou com você...não vai ser alguns prédios e carros que vão me impedir disso. - Ele respondeu abrindo seu sorriso torto.

Abracei o corpo do peão, distribuindo vários beijinhos sobre seu rosto, o mesmo retribuiu o ato, se segurando para não cair na cama por causa dos meus pulinhos de alegria.

Os dias se passaram e eu já adiantava os preparativos da minha mudança com Zeca, ajudei o peão a elaborar um currículo e enviei alguns por e-mail, nós ficaríamos no apartamento de minha mãe lá no Rio, eu me sentia em um conto de fadas, acordar com Zeca na mesma casa que eu era tudo que eu mais havia desejado.

Fomos até Boiadeiros comprar tênis para ele (sim ele só usa chinelo e botas), foi meio complicado achar alguns modelos que o agradassem, mas no fim conseguimos sair de lá com três pares.
Para minha surpresa todos lá na fazenda aceitaram bem a nossa relação, no fim parece que não era um bicho de sete cabeças, o meu medo havia criado um cenário bem pior do que o da realidade.

Após a semana passar, finalmente chegou o último dia do rodeio de Boiadeiros, eu geralmente não curtia muito aquilo, mas o fato de ir acompanhado por Zeca mudava um pouco a minha forma de pensar, passamos a semana inteira nos divertindo nos brinquedos e comendo porcarias com as meninas, era como se fosse a nossa "despedida de solteiro" daquela cidade.

- Tô bonito? - O moreno perguntou adentrando o meu quarto e exibindo a fivela prateada no cinto em sua calça jeans apertada.

- Tá como todos os dias...mas tá lindo sim amor. - Respondi me aproximando do peão para abotoar os últimos botões de sua camisa xadrez branca.

Após alguns segundos, percebi que Zeca estava me encarando com seu sorriso malicioso e não pude conter uma risadinha.

- Que foi? - Perguntei terminando de arrumar a gola de sua camisa.

- Cê tá tão lindinho hoje, vem cá. - Ele disse, me puxando com as mãos para um beijo apressado.

Suas mãos vagavam sobre o meu corpo enquanto eu mantia as minhas sobre a gola de sua camisa, a língua do peão invadia a minha boca com pressa, explorando cada canto dela.

- Meninos, vocês estão prontos? - A voz aguda de minha mãe chamava alto da sala.

Apertei a camisa de Zeca com as mãos tentando parar o beijo, mas o peão continuou investindo em meus lábios por mais alguns segundos.

- Desculpa...não dá pra resistir! - Zeca falou arfando enquanto se afastava finalmente dos meus lábios.

- Se eu dissesse que não gostei estaria mentindo! - Respondi baixinho para ele, logo me virando para o espelho.

Arrumei as mechas castanhas de cabelo que estavam bagunçadas pela nossa recente bagunça, em seguida fechei o zíper da minha blusa de frio preta.

- Melhor irmos, ou a minha mãe sai sem a gente. - Alertei andando até o maior.

- Não seria má ideia, adoraria cavalgar com você por aí. - Brincou Zeca, pegando em minha mão.

- Eu vou fingir que não escutei isso José Carlos! - Respondi começando a andar de mãos dadas com ele até a sala.

- Finalmente! temos que ir, as montarias já vão começar, vamos! - Minha mãe nos apressou enquanto andávamos com as meninas para o lado de fora da casa.