[16]- Demitido por amar o seu filho ?

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                               𝙋.𝙊.𝙑 𝙕𝙚𝙘𝙖

Meu mundo caiu após ouvir as palavras da viúva. Passei alguns segundos desnorteado, olhando para o chão sem saber o que responder.

— Sobre você gostar de homem ou mulher isso não me interessa Zeca, agora a partir do momento que o meu filho é envolvido nisso...eu não posso ficar apenas olhando sem tomar nenhuma atitude. — Neuta disse de maneira fria.

— O meu filho está confuso Zeca...só isso, isso é comum na idade dele, ele só precisa de um tempo pra pensar e tudo vai voltar como era antes. — Ela continuou enquanto a raiva começava a tomar conta de mim.

— A senhora fala como se o Júnior fosse uma criança, mas ele já é maior de idade e sabe muito bem o que quer! — As palavras saíram límpidas e avassaladoras sem que eu pudesse filtra-las antes, me deixando levar pelo calor do momento.

A fazendeira arregalou os seus olhos verdes incrédula com meu atrevimento e hesitou por alguns segundos em dar alguma resposta.

— Eu conheço o Júnior a 19 anos, não fale como se soubesse mais do que eu porque você não sabe! — Ela respondeu, vacilando seu tom de voz, podia ver uma pontinha de tristeza surgir em seu rosto.

Era visível que ela estava em estado de negação e havia pouco que eu podia fazer para que ela enxergasse que estava equivocada.

— O Júnior sempre gostou de mulheres, sempre foi um garoto normal! Não vai ser agora que isso vai mudar Zeca...não por um erro, um deslize!

— Normal? Então quer dizer que pra senhora eu não sou normal? — Perguntei levantando o meu tom de voz. — Erro? Não...definitivamente o que eu e o seu filho vivemos não é um erro, talvez você é quem esteja errada, tentando criar a imagem de um filho que nunca vai existir!

Mantive o meu olhar contra os olhos cor de esmeralda da mais velha que movia as suas sobrancelhas surpresa com o que estava ouvindo, nem eu mesmo acreditei que havia dito aquelas palavras.

Não tinha o direito de tomar aquela atitude sem Júnior saber, era egoísmo meu, mas o sentimento que tinha por ele era forte demais para abrir mão de tudo calado.

A viúva não falou nada por alguns segundos, seu rosto esboçava emoções que variavam desde surpresa pelas minhas falas mas também uma certa tristeza, olhando por vezes perdida para o chão.

— Eu irei relevar porque você foi um bom funcionário no tempo que esteve aqui... — Ela retomou a sua fala de uma maneira relutante.

Suspirei baixo aceitando a minha derrota, não havia mais o que ser dito, não tinha como mudar a mentalidade dela, nem sabia se valia a pena, já que Júnior temia a mãe mais do que tudo no mundo.

— Mas você tem que ir embora daqui Zeca! — A viúva proferiu firme, voltando a olhar para mim. — Você terá todos os seus direitos pagos, sobre isso não se preocupe, você só precisa passar no escritório em Boiadeiros antes de partir. — As palavras da viúva apesar de esperadas me atingiram em cheio, senti um aperto em meu coração e desviei o olhar para o chão, a voz da mulher ficava mais abafada enquanto eu só conseguia olhar estático para o piso amadeirado da casa.

— Eu me adiantei também e já comprei uma passagem pra Colina, a sua cidade natal não é? Assim você vai poder rever a sua família, coloquei também um dinheiro extra pra te ajudar. — Escutava a voz abafada da viúva ainda imóvel.

Continuei sem reação alguma, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, em questão de segundos havia perdido meu emprego e meu grande amor, tudo de uma vez só.

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