[08]- Ciúmes

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                             𝙋.𝙊.𝙑 𝙅𝙪𝙣𝙞𝙤𝙧

Zeca e eu nos olhávamos calados. Nunca pensei estar sozinho no quarto com ele, ainda mais sentado na cama. A cada palavra fofa que saía de sua boca, eu podia me sentir cada vez mais apaixonado por ele, por mais que tentasse fugir disso de todas as maneiras.
— Obrigado, Zeca... Seu apoio é muito importante pra mim, de verdade! Agora, eu acho melhor a gente sair daqui, se as meninas ou a minha mãe pegarem a gente junto aqui... — falei me levantando da cama um tanto quanto apressado.

Zeca hesitou por alguns segundos. Era estranho ver a expressão de segurança que ele sempre mantinha sumir de seu rosto.
— Verdade, eu também tenho umas coisas pra resolver. — Ele respondeu baixo se levantando logo em seguida.
— Não, Zeca, não precisa ir. A gente pode conversar lá fora. — Falei, tentando arrumar a besteira que havia dito antes.
— Agora não dá, Júnior. Mas fica tranquilo que seu segredo tá guardado comigo. Até mais! — Zeca respondeu acenando com a cabeça e saindo um apressado do meu quarto.
Suspirei em tom de fracasso, tentando entender o que havia acontecido com ele. Por mais que tentasse pensar em algo, não conseguia encontrar uma resposta certa.

Após esse ocorrido um tanto quanto estranho, as meninas começaram a clássica baderna pré-baile, eufóricas como sempre. Andei até o quarto delas, espiando encostado na porta.
— E aí, Júnior! Não vai se arrumar não? — perguntou Bebela, arrumando seu cabelo frente ao espelho.
— Não tô no clima, vou ficar por aqui hoje!
— respondi cruzando os braços enquanto olhava para elas.
— Ah, que isso, você não vai no baile há semanas, não sabe o que tá perdendo! — Detinha disse antes de passar uma quantidade bem exagerada de gloss em seus lábios.
— Ah, se é! O tanto de peão gostoso que tem lá... sem contar aquele Zeca! Ai meu Deus, que homem! — Bebela falou quase que salivando, movendo as mãos de um lado para o outro como se o peão fosse um prato de comida.
— Pera... o Zeca tá indo no baile nesses dias? — perguntei, arqueando uma das sobrancelhas incrédulo.
— Há! Cê não conhece peão? Não perde um baile! — Penha entrava na conversa enquanto calçava as suas botas de couro.
— E... por acaso, ele tá ficando com alguém?
— perguntei, tentando ao máximo não parecer um psicopata enciumado.
— Se tá ficando eu não sei, mas que tá  cercado de mulheres tá! Não para um minuto na cadeira, toda hora vai pra pista com uma mulher... também, com aquele borogodó! — Bebela respondeu, quase que ovulando pelo peão com seu tom exagerado.
— Bom, eu não vou atrapalhar mais a arrumação de vocês, até mais! — falei, desencostando da parede.
— E aí, você não vai mesmo? — questionou Penha.
— Tô pronto em trinta minutos. — respondi sumindo rápido da porta do quarto delas.

Podia parecer exagero, mas estava queimando de ciúmes por Zeca. Que atrevimento! Todos os dias conversávamos e ele nunca citava os seus "rolês particulares". A minha mente fritava pensando no tanto de Maria breteira que aquele cafajeste havia ficado nesses últimos dias, enquanto eu suspirava de amores feito um idiota por ele.
— Tá pronto Júnior? — Detinha perguntou invadindo o meu quarto sem bater.
— Tô! Só me deixa arrumar o cabelo que... — tentei falar, mas a loira me puxava pela mão, me arrastando para fora do quarto.
— Para de frescura! Vem logo que a madrinha já tá esperando! — Detinha reclamava, me obrigando a marchar para fora da casa.

Entramos todos no Jeep da minha mãe, que começou a dirigir rumo à cidade de Boiadeiros. Passei a viagem toda espumando de raiva por Zeca e torcendo com todas as minhas forças para que, ao menos hoje, aquela Kerry não estivesse lá para atrapalhar ainda mais as coisas.
— Chegamos! Desce logo, Júnior! — Bebela me cutucou com seu cotovelo, me acordando de meus devaneios.
Resmunguei enquanto abria a porta e saía do carro, pisando os meus pés no chão mal asfaltado da cidade. O som alto de sertanejo invadia os meus ouvidos, e o converseiro alto dos peões atrapalhava ainda mais o meu raciocínio. Andei com as meninas até o centro do baile, com mais iluminação, gente e, por sua vez, mais barulho.

Coração de Peão Onde histórias criam vida. Descubra agora