6. Circo dos Horrores

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O automóvel chacoalha ao passar pela estrada de terra esburacada. Não é um caminho agradável, mesmo que papai tenha adquirido o novo modelo da Peugeot, com faróis. A estrada ainda é escura.

— Não acredito que é o último show — mamãe tenta retocar seu batom vermelho no retrovisor a medida que avançamos.

— São os anos quarenta, meu amor. Disseram que as coisas iam mudar.

— E onde vão colocar aqueles coitadinhos? Em asilos? Pelo menos aqui eles são famosos.

— É uma pena acabarem com o show, mas não vai ser ruim para as aberrações, não ter que trabalhar e serem sustentados pelos impostos que pagamos.

— Você não sabe como é nesses asilos. Mary me contou histórias horríveis, não é querida?

— Sim, mãe — limito a isso minha resposta, eu estou tão ansiosa para chegar até lá.

Assim como meus pais, eu odeio perder o Circo dos Horrores, mas por motivos diferentes. Eles e nosso círculo de amigos da elite, querem rir, se divertir às custas dos outros, como fazem no dia a dia, mas sem culpa.

Papai estaciona na entrada, diferente da estrada, aqui é muito iluminado por luzes gigantescas e coloridas.

— Bem-vindos ao Circo dos Horrores, posso carregar seu casaco? — pergunta um homem com pintura de palhaço no rosto, porém sem nenhum braço, o que faz minha mãe cair na gargalhada.

— Mary, está quieta, espero que não seja fome, não vou comprar nada para você aqui.

— Não, pai. Eu estava pensando que ainda falta tempo para o show começar, podemos ver os animais enquanto isso.

— Você e seu fascínio — mamãe revira os olhos, mas permite ser conduzida para o corredor externo.

Há vários trailers carregados com jaulas sujas, dentro delas, animais de todo tipo, desde um cachorro com a cabeça de outro cão costurada até uma mamãe gorila com dois bebes albinos.

Eu mal posso olhar para eles, não pela aparência incomum, mas pela crueldade que esses animais vivem.

Então chegamos no meu preferido. A grande atração entre os animais.

Na placa, apenas o nome Naga, e alguma coisa sobre Ilhas Maurício e expedições corajosas.

Um funcionário segura um longo bastão diante da jaula imensa, coberta por um tecido roxo desbotado.

— Venham, venham! Se aproximem para ver, a mais grotesca criatura. Um monstro capaz de triturar ossos com um único aperto, um animal ferroz e repugnante.

As pessoas parecem excitadas, rindo e jogando pequenas pedras no funcionário, enquanto ele espera mais pessoas se juntarem. Meu pai deposita 75 centavos na mão do funcionário, então esperamos na frente da jaula.

Minha ansiedade dura pouco, o funcionário puxa o tecido com força, revelando seu interior. Uma cobra enorme e gorda enrolada no centro, imóvel.

O funcionário começa a gritar e cutucar a criatura com o bastão, repetidas vezes, criando cortes que sangram na pele escamosa, até que ele se desenrola, em um grito estrondoso, se batendo violentamente contra a grade.

Uma mulher desmaia, outras se agarram em seus parceiros, em choque, as pessoas riem e gritam. Mas não eu.

Ele é lindo, com sua pele manchada, cabelos longos e corpo de serpente.

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