4 - Neste verão

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— Você pensou sobre aquilo? — pergunta Taehyung. Ele está pedalando na bicicleta ergométrica ao meu lado, espalhando gotículas de suor, mas sua respiração é tranquila, como se estivesse passeando na Sephora. Como sempre, escolhemos duas bicicletas no fundo para a aula de spin, onde podemos conversar sem ser repreendidos por estarmos distraindo os outros ciclistas.

— Aquilo o quê? — pergunto de volta, arfando.

— O que faz você feliz. — Ele levanta o corpo para pedalar mais depressa, seguindo a instrução da professora. Quanto a mim, estou basicamente debruçado sobre o guidão, forçando meus pés para baixo como se estivesse pedalando sobre melaço. Odeio me exercitar; adoro a sensação de ter me exercitado.

— Silêncio — ofego, o coração acelerado. — Me. Faz. Feliz.

— E o que mais? — ele insiste.

— Aquelas barras de framboesa e creme de baunilha da Trader Joe's.

— E?

Às vezes você! — Estou tentando parecer sarcástico. A falta de ar estraga o efeito.

— Descansem! — a professora grita em seu microfone; uns trinta e poucos suspiros de alívio ecoam pela sala. Pessoas desmoronam sobre as bicicletas ou se desmancham no chão, mas Taehyung desce da bicicleta como um ginasta olímpico terminando sua rotina de solo. Ele me passa sua garrafa de água e eu o sigo para o vestiário, depois para a luz escaldante do meio-dia.

— Eu não vou tentar arrancar de você — diz ele. — Talvez o que o faz feliz seja particular.

— É o Yoongi. — falo de uma vez.

Ele para de andar e segura meu braço, mantendo-me cativo enquanto o fluxo de pedestres desvia à nossa volta pela calçada.

— O quê?

— Não desse jeito — digo. — Nossas viagens de verão. Nada nunca foi melhor do que aquilo.

Nada.

Mesmo que um dia eu me case ou tenha um filho, imagino que o Melhor Dia da Minha Vida ainda será uma mistura entre isso e o dia enevoado em que Yoongi e eu fomos fazer uma caminhada pelo parque das sequoias. Quando estacionávamos o carro, começou a chover e as trilhas se esvaziaram. Tínhamos a floresta só para nós. Pusemos uma garrafa de vinho na mochila e saímos.

Quando tivemos certeza de que estávamos sozinhos, tiramos a rolha e fomos passando a garrafa de um para o outro, bebendo enquanto caminhávamos entre a quietude das árvores.

Eu queria que a gente pudesse dormir aqui, lembro que ele disse. Só deitar e tirar um cochilo.

E, então, encontramos um daqueles enormes troncos ocos ao lado da trilha, do tipo que se abre e forma uma gruta de madeira, seus dois lados como gigantescas palmas de mãos.

Nós entramos e nos acomodamos na terra seca pontilhada de agulhas de sequoia. Não dormimos, mas descansamos. Como se, em vez de ganhar energia pelo sono, a sorvêssemos em nosso corpo dos séculos de sol e chuva que haviam cooperado para fazer crescer aquela árvore imensa que nos protegia.

— Bom, então é claro que você tem que ligar pra ele — diz Taehyung, efetivamente me laçando e me arrancando da lembrança. — Eu nunca entendi por que você nunca tentou resolver isso direto com o Yoongi. Parece bobagem perder uma amizade tão importante por causa de uma briga.

Balanço a cabeça.

— Eu já escrevi para ele. Ele não está interessado em reacender a amizade, e definitivamente não quer uma viagem de férias comigo. — Recomeço a andar do lado dele, puxando a alça de minha sacola de ginástica sobre o ombro suado. — E se você viesse comigo? Seria divertido, não? Faz meses que não vamos a algum lugar juntos.

De férias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora