13 - Neste verão

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Conseguimos fazer o termostato estabilizar em vinte e cinco graus e o baixamos para vinte e quatro antes de sair para um restaurante mexicano chamado Casa de Sam, que tem ótima avaliação no Tripadvisor e apenas um cifrão para indicar a média de preços.

A comida é ótima, mas o ar-condicionado é o grande astro da noite. Yoongi fica toda hora se inclinando para trás, fechando os olhos e soltando suspiros de satisfação.

— Você acha que o Sam deixa a gente dormir aqui? — pergunto.

— Podíamos tentar ficar escondidos no banheiro até fechar — Yoongi sugere.

— Estou com medo de beber demais e ter exaustão pelo calor — digo, tomando mais um gole da margarita jalapeño que pedimos em uma jarra.

— Eu estou com medo de beber de menos e não conseguir dormir a noite inteira.

Só de pensar nisso, meu pescoço começa a suar.

— Desculpe pelo Airbnb — falo. — Nenhuma das avaliações falava do ar-condicionado com defeito. — Embora agora eu esteja me perguntando quantas pessoas teriam se hospedado ali no auge do verão.

— Não é culpa sua. Eu coloco toda a responsabilidade no Nikolai.

Concordo com a cabeça, e o silêncio se estende incômodo até eu perguntar:

— Como está o seu pai?

— Ah — responde Yoongi. — Ele está bem. Eu contei para você do adesivo no para-choque?

Eu sorrio.

— Contou.

Ele dá uma risada constrangida e passa a mão pelo cabelo.

— Nossa, envelhecer é um tédio. Minha melhor história é sobre meu pai colar um adesivo novo no para-choque.

— É uma história muito boa — insisto.

— Tem razão. — Ele inclina a cabeça. — Quer ouvir agora sobre minha lava-louça?

Eu ofego e ponho a mão no coração.

— Você tem sua própria lava-louça? Assim... no seu nome?

— Hum. Eles não costumam registrar lava-louças no nosso nome, mas, sim, eu comprei uma. Logo depois que comprei a casa.

Uma emoção indefinível apunhala meu peito.

— Você... comprou uma casa?

— Eu não contei pra você?

Balancei a cabeça. Claro que ele não me contou. Quando ele teria me contado? Mesmo assim, dói. Cada uma das coisas que eu perdi nos dois últimos anos dói.

— A casa dos meus avós — ele diz. — Depois que minha avó faleceu. Ela a deixou para o meu pai, e ele queria vender, mas precisa de reforma e ele não tinha tempo nem dinheiro, então estou morando nela e arrumando aos poucos.

— Jinjin? — Engulo um emaranhado de emoções que crescem em minha garganta. Estive com a avó de Yoongi poucas vezes, mas eu a amava. Ela era baixinha e durona, fã de assassinatos misteriosos e de crochê, comida apimentada e arte moderna. Ela se apaixonou pelo padre de sua paróquia e ele largou o sacerdócio para se casar com ela ("E foi assim que nós viramos protestantes!"), e então ("oito meses depois", ela me contou com uma piscadinha) a mãe de Yoongi nasceu com a cabeça cheia de cabelos escuros como os dela e um nariz "forte" como o do avô de Yoongi, que Deus o tenha.

Ela vivia em uma casa antiga de quatro níveis do início dos anos 1960. Tinha o papel de parede floral laranja e amarelo original na sala de estar, mas ela teve que pôr um feio carpete marrom sobre os pisos de madeira de lei e azulejos, até no banheiro, depois que escorregou e quebrou o quadril muitos anos atrás.

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