16 - Neste verão

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Encontro uma farmácia vinte e quatro horas em Palm Springs e dirijo até lá com a chegada dos primeiros raios de sol. Depois, volto ao apartamento antes que a maioria das outras lojas abrisse. Nessa altura, o estacionamento do Rosa do Deserto começou a assar de novo e as horas frescas do alvorecer tornam-se uma lembrança distante quando subo a escada, carregado de sacolas.

— Como você está? — pergunto a Yoongi, fechando a porta.

— Melhor. — Ele força um sorriso. — Obrigado.

Mentiroso. A dor está estampada em sua cara. Ele é pior escondendo isso do que suas emoções. Coloco as duas bolsas de gelo que comprei no freezer e ligo a compressa quente na tomada.

— Incline-se para a frente — digo, e Yoongi se move o suficiente para eu deslizar a compressa pela pilha de travesseiros até o meio das costas dele. Toco em seu ombro e o ajudo a se encostar lentamente. A pele dele está tão quente. Tenho certeza de que a compressa quente não vai ser confortável, mas tomara que funcione, aquecendo o músculo até que relaxe.

Em meia hora, vamos trocar pela bolsa de gelo para tentar conter qualquer possível inflamação.

Talvez eu tenha lido sobre espasmos nas costas nos corredores silenciosos com iluminação fluorescente da farmácia.

— Comprei uma pomada de mentol também — falo. — Costuma ajudar?

— Talvez — diz ele.

— Bom, não custa tentar. Acho que eu deveria ter pensado nisso antes de você se recostar e ficar confortável outra vez.

— Tudo bem — ele responde, com uma careta. — Eu nunca fico confortável quando isso acontece. Só espero o remédio me nocautear, e quando eu acordo geralmente já estou me sentindo bem melhor.

Eu deslizo da lateral da cama, pego o resto das sacolas e as levo até ele.

— Quanto tempo dura isso?

— Geralmente só um dia, se eu ficar quieto — ele responde. — Vou ter que ser cuidadoso amanhã, mas vou conseguir me movimentar. Hoje você deveria fazer alguma coisa que sabe que eu ia odiar. — Ele força outro sorriso.

Ignoro o comentário e procuro na sacola até encontrar a pomada de mentol.

— Precisa de ajuda para se inclinar para a frente outra vez?

— Não, tudo bem. — Mas a cara que ele faz sugere o contrário, então eu mudo de posição ao lado dele, seguro seus ombros e o ajudo a se mover lentamente.

— Você está parecendo meu enfermeiro agora — ele comenta, contrariado.

— De um jeito quente e sexy? — digo, tentando melhorar seu humor.

— De um jeito homem-velho-e-patético-que-não-consegue-cuidar-de-si- mesmo — ele responde.

— Você tem uma casa — digo. — Aposto que até arrancou o carpete do banheiro.

— Arranquei — ele concorda.

— Claramente, você pode cuidar de si mesmo — falo. — Eu não consigo nem manter uma planta viva.

— Isso porque você nunca está em casa.

Eu giro a tampa da pomada e aperto um punhado nos dedos.

— Acho que não é por isso. Eu tenho aquelas plantas resistentes, jiboia, zamioculca, espada-de-são-jorge. Elas são o tipo de planta que fica em lojas sem luz durante meses seguidos e não morre. Aí elas se mudam para o meu apartamento e imediatamente desistem de viver. — Estabilizo as costelas dele com uma das mãos para não mexer muito e, com a outra, massageio cuidadosamente a pomada em suas costas. — Este é o lugar certo? — pergunto.

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