2 - Neste verão

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E eu penso.

Durante toda a viagem de metrô de volta para casa. Na caminhada de quatro quarteirões que vem em seguida. Durante um banho quente, usando máscara para os cabelos e uma máscara facial, e por várias horas deitado em meu sofá novo e incômodo.

Eu não passo tempo suficiente aqui para transformar o lugar em um lar e, além disso, sou a cria de um pai pão-duro e uma mãe sentimental, o que significa que cresci em uma casa lotada de tralha até o teto. Minha mãe guardava xícaras quebradas que meus irmãos e eu tínhamos dado a ela quando crianças, e meu pai deixava nossos carros velhos estacionados no quintal para o caso de ele um dia aprender a consertá-los. Ainda não tenho ideia do que seria considerado uma quantidade razoável de bugigangas em uma casa, mas sei como as pessoas costumam reagir à minha casa de infância e suponho que seja mais seguro errar para o lado do minimalismo do que do acúmulo.

Tirando uma coleção desorganizada de roupas vintage (primeira regra da família Wright: nunca comprar nada novo se consegue usado por uma fração do preço), não há muito mais coisas no meu apartamento para fixar o olhar. Então estou apenas olhando para o teto e pensando.

E, quanto mais eu penso nas viagens que Yoongi e eu costumávamos fazer juntos, mais eu as desejo. Mas não da maneira divertida, sonhadora e cheia de energia como antes eu desejava ver Tóquio na temporada das cerejeiras em flor, ou os carnavais da Suíça, com seus desfiles de máscaras e arlequins brandindo chicotes e dançando em ruas coloridas.

O que estou sentindo agora é mais uma dor, uma tristeza.

É pior do que a sensação meio blah de não querer muito mais da vida. É querer algo que eu não consigo nem convencer a mim mesmo de que é uma possibilidade.

Não depois de dois anos de silêncio.

Tá bom, não silêncio. Ele ainda me envia uma mensagem de texto no meu aniversário. Eu ainda envio no dele. Nós dois enviamos respostas que dizem "Obrigado" ou "Como você está?", mas essas palavras nunca levam a muito mais que isso.

Depois que tudo aconteceu entre nós, eu costumava dizer a mim mesmo que seria só uma questão de tempo para ele superar, que as coisas inevitavelmente voltariam ao normal e nós seríamos melhores amigos outra vez. Talvez até ríssemos desse tempo separados.

Mas dias se passaram, telefones foram desligados e religados, no caso de mensagens estarem se perdendo, e, depois de um mês inteiro, eu até parei de me assustar cada vez que meu alerta de mensagem de texto soava.

Nossas vidas continuaram sem a presença um do outro nelas. O novo e estranho se tornou familiar, o aparentemente imutável, e agora aqui estou eu, em uma sexta-feira à noite, olhando para o nada.

Eu saio do sofá, pego meu computador na mesa de centro e vou para a minha minúscula varanda. Desabo na cadeira solitária que cabe aqui e apoio os pés na grade, ainda quente do sol apesar do pesado manto da noite. Lá embaixo, os sininhos repicam sobre a porta da bodega na esquina, pessoas caminham para casa depois de uma longa noite fora e dois táxis fazem hora na frente do meu bar favorito na vizinhança, o Good Boy Bar (um lugar que deve seu sucesso não aos drinques, mas ao fato de permitir a entrada de cachorros; é assim que eu sobrevivo à minha existência sem bichos de estimação).

Abro o computador e afasto uma mariposa do brilho fluorescente da tela enquanto entro em meu velho blog. O blog em si não tem interesse nenhum para a R+R. Quer dizer, eles avaliaram minha redação pelos textos nele antes de eu conseguir o emprego, mas não se importam se eu o mantenho ou não. É minha influência nas redes sociais que eles querem continuar capitalizando, não a modesta, mas a devotada base de leitores que eu construí com minhas postagens sobre viagens com orçamento apertado.

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