Perambulamos pela cidade de Okinawa até machucar os pés, as costas doerem e o tempo que não dormimos nos voos fazer nosso corpo parecer pesado e nosso cérebro, leve e flutuante. Então, paramos para um lanche em um lugarzinho escondido de janelas escuras e paredes vermelhas circundando o espaço com desenhos elaborados de montanhas, florestas e rios serpenteando por colinas arredondadas.
Somos as únicas pessoas aqui dentro — são três da tarde, ainda cedo para jantar, mas o ar-condicionado é forte e a comida, divina, e estamos tão exaustos que não conseguimos parar de rir de qualquer coisinha.
O ganido rouco e desafinado que Yoongi soltou quando o avião pousou nesta manhã.
O homem de terno que passa correndo a toda a velocidade pelo restaurante com os braços esticados ao lado do corpo.
A moça na galeria do Empress Hotel que passou trinta minutos tentando nos vender uma escultura de urso de quinze centímetros por vinte e um mil enquanto arrastávamos nossa bagagem surrada.
— Nós não... temos dinheiro para... isto — disse Yoongi, tentando ser diplomático.
A moça balançou a cabeça entusiasticamente.
— Quase ninguém tem. Mas, quando a arte conversa com a gente, sempre se encontra uma maneira.
Nenhum de nós teve jeito de dizer à garota que o urso de vinte e um mil não estava falando com a gente, mas depois passamos o dia inteiro selecionando diversas coisas — um disco autografado do Backstreet Boys na loja de vinis usados, um exemplar do romance O que meu ponto G lhe diz em uma pequena livraria apertada em uma rua de paralelepípedos, um macacão de couro sintético em uma sex shop em que fiz Yoongi entrar basicamente para deixá-lo constrangido — perguntando: Isso conversa com você?
Sim, Jimin, está dizendo Bye-Bye-Bye.
Não, Yoongi, diga ao seu ponto G para falar mais alto.
Sim, vou levar por vinte e um mil dólares, e nem um centavo a menos!
Nós nos revezamos perguntando e respondendo e, agora, curvados sobre nossa mesa preta laqueada, não conseguimos parar de pegar colheres e guardanapos, de forma quase delirante, fazendo-os conversarem entre si.
Nossa garçonete tem mais ou menos a nossa idade, usa muitos piercings, tem a língua levemente presa e ótimo senso de humor.
— Se esse molho falar alguma coisa picante, me avise — diz ela. — Ele tem uma certa fama por aqui.
Yoongi lhe dá uma gorjeta de trinta por cento, e, por todo o caminho até o ponto de ônibus, eu o provoco por ficar vermelho sempre que ela olhava para ele, e ele me provoca por ter flertado com o caixa da loja de discos, o que é justo, porque eu fiz isso mesmo.
— Eu nunca vi uma cidade tão florida — comento.
— Eu nunca vi uma cidade tão limpa — diz ele.
— Será que deveríamos nos mudar para o Japão? — pergunto.
— Não sei — ele responde. — O Japão conversa com você?
Com os ônibus e as caminhadas entre as paradas, levamos duas horas, no total, para pegar o carro que aluguei informalmente na internet por intermédio de um grupo de pobres que viajam.
Estou tão aliviado por ele realmente existir — e pelo fato de a chave estar embaixo do tapete do banco traseiro como o dono do carro, disse que estaria —, que começo a bater palmas.
— Nossa — diz Yoongi —, este carro está mesmo conversando com você.
— Sim — respondo. — Ele está dizendo: Não deixe o Yoongi dirigir.
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De férias com você
FanfictionDois melhores amigos. Dez viagens de verão. Uma última chance de se apaixonar. Jimin e Yoongi. Yoongi e Jimin. Eles não têm nada em comum. Jimin é um garoto rebelde; Yoongi usa calça cargo. Jimin tem um desejo insaciável de viajar; Yoongi prefere fi...