9 - Neste verão

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— Nós temos um carro alugado? — Yoongi pergunta enquanto saímos do aeroporto em direção ao vento quente.

— Mais ou menos. — Mordo o lábio procurando meu celular para chamar um táxi. — Eu arrumei um carro por um grupo no Facebook.

Yoongi aperta os olhos, as rajadas de vento vindas da área de chegadas do aeroporto fazem seu cabelo bater na testa.

— Não tenho ideia do que você está falando.

— Lembra? — digo. — Foi o que fizemos em nossa primeira viagem.

Para Okinawa. Quando éramos novos demais para alugar um carro.

Ele fica olhando para mim.

— Sabe? — continuo. — Aquele grupo online de viagem em que estou há uns quinze anos. Em que as pessoas postam seus apartamentos e carros para alugar. Lembra? Nós tivemos que pegar um ônibus para buscar o carro fora da cidade e andamos, sei lá, uns sete quilômetros com nossa bagagem?

— Lembro, sim — diz ele. — Mas até agora nunca tinha parado para pensar por que alguém alugaria seu carro para um estranho.

— Porque, assim como muitas pessoas de Seul gostam de viajar no inverno, muitas pessoas de Los Angeles gostam de ir para outro lugar no verão. — Dou de ombros. — O carro dessa garota ia ficar sem uso por, sei lá, um mês, então eu o aluguei por uma semana por setenta dólares. Nós só temos que pegar um táxi para ir buscá-lo.

— Legal — diz Yoongi.

— É.

E este é o primeiro silêncio incômodo da viagem. Não importa que estivemos trocando mensagens de texto sem parar na última semana; ou talvez isso tenha tornado pior. Minha mente está imperdoavelmente em branco. Tudo que posso fazer é olhar para o aplicativo na tela do meu celular, vendo o ícone do carro chegar mais perto.

— É aquele. — Indico com o queixo a minivan que se aproxima.

— Legal — Yoongi fala outra vez.

O motorista pega nossa bagagem e nos amontoamos com duas outras pessoas que estão compartilhando a viagem, um casal de meia-idade com viseiras combinando. A rosa-choque diz MOZIN. MOZÃO, diz a verde-limão. Os dois estão usando uma camisa com estampa de flamingos e já estão tão bronzeados que se parecem um pouco com os sapatos de Yoongi. A cabeça de Mozão está raspada, e Mozim tem o cabelo tingido de um chamativo vermelho-escuro.

— Oi, pessoal! — Mozim cumprimenta em inglês conforme Yoongi e eu nos acomodamos nos assentos do meio.

— Oi. — Yoongi se vira no banco e oferece um sorriso que é quase convincente, respondendo igualmente em inglês.

— Lua de mel — Mozim diz, apontando para ela e Mozão. — E vocês?

— Ah — diz Yoongi. — Hum.

— Também! — Pego a mão dele e me viro para os dois com um largo sorriso.

— Aah! — Mozim exclama. — O que você acha disso, Bob? Um carro cheio de pombinhos!

Mozão Bob concorda com a cabeça.

— Parabéns, garotos.

— Como vocês se conheceram? — Mozim quer saber.

Dou uma olhada para Yoongi. As duas expressões que o rosto dele está mostrando neste momento são (1) apavorado e (2) empolgado. Esse é um jogo conhecido para nós, e, embora seja mais esquisito do que de costume ter a minha mão enlaçada e envolta pela dele, também há algo reconfortante em sair de nós mesmos dessa maneira, representar juntos como sempre fizemos.

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