27 - Neste verão

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Ficamos deitados na varanda cheia de plástico, enrolados um no outro e ensopados até os ossos, embora a tempestade já esteja cedendo e o calor se intrometendo para evaporar a umidade de nossa pele.

— Muito tempo atrás, você me disse que sexo ao ar livre não era tudo isso que falavam — eu comento, e Yoongi dá uma risada rouca, sua mão alisando meu cabelo.

— Eu não tinha transado ao ar livre com você — ele fala.

— Foi incrível — digo. — Quer dizer, pra mim. Nunca foi desse jeito pra mim.

Ele se apoia no cotovelo e me olha de cima.

— Nunca foi desse jeito pra mim também. Viro o rosto para a pele dele e beijo seu peito.

— Só para ter certeza.

Depois de alguns segundos, ele diz:

— Eu quero fazer de novo.

— Eu também — respondo. — Acho que deveríamos.

— Só pra ter certeza — ele me imita. Meus dedos traçam desenhos lentos em seu peito, e o braço dele pousado em minhas costas me segura com mais firmeza. — Nós não podemos, mesmo, ficar aqui esta noite.

Eu suspiro.

— Eu sei. Eu só não quero me mexer. Nunca mais.

Ele beija meu ombro

— Você acha que isso teria acontecido se o ar-condicionado do Nikolai funcionasse direitinho? — pergunto.

Agora Yoongi se inclina para me beijar sobre o coração, causando arrepios em minha barriga e em minhas pernas, que seus dedos estão acariciando.

— Isso teria acontecido mesmo que o Nikolai nunca tivesse nascido. Mas talvez não tivesse acontecido nesta varanda.

Eu me sento e passo um joelho sobre a cintura dele, me instalando em seu colo.

— Eu estou feliz por ter acontecido.

Suas mãos sobem por minhas coxas e o calor se acumula de novo entre minhas pernas, me deixando um pouco duro.

É quando ouvimos batidas à porta.

— ALGUÉM AÍ? — um homem grita. — É O NIKOLAI. EU VOU ENTRAR...

— Espere um segundo! — grito de volta, e saio depressa do colo de Yoongi, pegando a camiseta molhada de Yoongi no caminho.

— Merda — Yoongi resmunga enquanto procura seu calção de banho na bagunça das tiras de plástico.

Encontro o tecido preto embolado e jogo para ele, depois puxo a bainha de minha camiseta para baixo das coxas bem quando a porta começa a ser destrancada.

— Oiiii, Nikolai! — exclamo alto demais, afastando-o antes que ele possa ver Yoongi Literalmente Nu ou o plástico rasgado.

Nikolai é baixo e está ficando careca, e veste bordô da cabeça aos pés: camiseta polo estilo anos 1970, calça de pregas, mocassim. Ele estende a mão rechonchuda.

— Você deve ser o Jimin.

— Sim, oi. — Aperto a mão dele e mantenho um contato visual intenso, esperando dar a Yoongi a chance de se vestir discretamente na varanda quase escura.

— Lamento, mas tenho más notícias — diz ele. — O ar-condicionado está quebrado.

Não me diga, quase falo em resposta.

— Não só nesta unidade, mas na ala inteira — ele explica. — Já contratamos uma pessoa para vir aqui amanhã bem cedo, mas eu sinto muitíssimo pela demora.

Yoongi aparece ao meu lado. Neste ponto, Nikolai parece se dar conta de que estamos os dois encharcados e descabelados, mas felizmente ele não faz nenhum comentário.

— Enfim, eu realmente sinto muito — ele repete. — Achei que vocês só estavam sendo difíceis, para ser sincero, mas, quando entrei aqui... — Ele puxa o decote da blusa e estremece. — Eu vou reembolsar vocês pelos três últimos dias e... bem, até hesito em dizer a vocês para voltar aqui amanhã sem ter certeza de que as coisas vão estar solucionadas.

— Não tem problema! — digo. — Se você nos reembolsar por todo o período, nós podemos encontrar outro lugar para ficar.

— Tem certeza? — ele fala. — Tudo é muito caro quando não se reserva com antecedência.

— Nós vamos dar um jeito — garanto.

Yoongi dá uma batidinha com o braço em minhas costas.

— O Jimin é especialista em viajar com orçamento curto.

— É mesmo? — Nikolai não poderia parecer menos interessado. Ele pega seu celular e digita com um só dedo. — Solicitei o reembolso. Não sei quanto tempo demora, então me avisem se tiverem algum problema.

Nikolai se vira para sair, mas dá meia-volta.

— Quase ia me esquecendo. Eu encontrei isto no capacho do lado de fora. Ele nos entrega um papel dobrado ao meio. Na frente, em letras cursivas arredondadas, está escrito: PARA OS RECÉM-CASADOS, com uns vinte e cinco coraçõezinhos desenhados em volta.

— Parabéns pelo casamento — Nikolai diz, e vai embora.

— O que é isso? — Yoongi pergunta.

Eu abro o papel. É um cupom do Groupon impresso em tinta preta barata. No alto, escrito na margem com a mesma caligrafia da frente, há um bilhete.

Espero que não achem sinistro termos descoberto em qual apartamento vocês estão! Achamos que havia uns sons apaixonados vindo daqui. ;) E o Bob disse que viu vocês saindo esta manhã (nós estamos a três portas de distância). Mas não importa! Temos que sair bem cedinho para a próxima etapa de nossas férias (Joshua Tree!!! Oba! Eu me sinto uma celebridade só de escrever isso!) e, infelizmente, não tivemos a chance de usar este cupom. (Nós mal saímos do quarto — vocês sabem como é rsrsrs.) Espero que aproveitem o resto da viagem!

Beijinhos. Seus padrinhos mágicos, Stacey e Bob

Eu olho para o voucher e pisco, perplexo.

— É um cupom de cem dólares — digo. — Para um spa. Eu acho que li sobre esse lugar. Dizem que é incrível.

— Uau — diz Yoongi. — Estou me sentindo meio mal porque nem lembrava o nome deles.

— Eles não disseram — comento. — Duvido que eles saibam os nossos também.

— E nos deram isso mesmo assim — Yoongi diz.

— Será que seria possível fazermos uma amizade duradoura com eles, ficarmos super próximos, viajarmos juntos e tudo o mais sem eles nunca descobrirem nossos nomes? Só pela diversão?

— Com certeza — ele responde. — É só estender isso por tempo suficiente para que seja constrangedor perguntar. Eu tive muitos "amigos" assim na faculdade.

— Sim! E aí a gente tem que usar aquele truque de perguntar para duas pessoas se elas já foram apresentadas e esperar que elas digam os nomes.

— Só que às vezes elas só dizem que sim — Yoongi observa. — Ou dizem que não e ficam esperando que você as apresente.

— Talvez porque estejam fazendo a mesma coisa — falo. — Talvez essas pessoas nem lembrem seus nomes.

— Bom, duvido que eu vá esquecer Stacey e Bob agora — diz Yoongi.

— Duvido que eu vá esquecer alguma coisa desta viagem — respondo. — Menos a lojinha do dinossauro. Isso pode ir embora, se eu tiver que abrir espaço para coisas mais importantes.

Yoongi sorri para mim.

— De acordo.

Depois de um breve silêncio incômodo, eu digo:

— Então... vamos procurar um hotel?

De férias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora