3 - Doze verões atrás

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Na primeira noite de orientação aos novos alunos na Universidade de Busan, eu o vejo. Ele veste calça cargo e uma camiseta da universidade, apesar de estar aqui há um total de dez horas. Não se parece em nada com o tipo de intelectualidade artística com a qual imaginei que faria amizade quando escolhi estudar nesta cidade. Mas estou aqui sozinho (meu novo colega de quarto Jaehyun, tinha uma irmã mais velha e alguns amigos na universidade e fugiu dos eventos da semana de orientação assim que encontrou uma chance), e ele também está sozinho, então vou ao seu encontro, inclino meu copo na direção de sua camiseta e digo:

— Então você estuda na Universidade de Busan? — Ele fica me olhando sem entender.

Balbucio que foi uma brincadeira.

Ele balbucia algo sobre ter sujado a camisa e tido que trocar de roupa em cima da hora. Seu rosto fica vermelho, e o meu também, por causa do constrangimento dele.

E então seus olhos descem por mim, me medindo, e seu rosto muda. Estou com um macacão laranja do início da década de 1970, e ele reage como se eu estivesse carregando um cartaz com as palavras ABAIXO AS CALÇAS CARGO.

Eu pergunto de onde ele é, porque não sei bem o que dizer a um estranho com quem não compartilho nada além de algumas horas de confusas excursões pelo campus, algumas apresentações entediantes sobre a vida na cidade e o fato de que detestamos a roupa um do outro.

— Daegu — ele responde.

— Mentira! — digo, perplexo. — Eu sou de Daegu também.

Ele se anima um pouco, como se essa fosse uma boa notícia, e eu nem sei por que, já que o fato de ter Daegu em comum é meio como estar com o mesmo resfriado: não é a pior coisa do mundo, mas nada a comemorar.

— Eu sou Park Jimin — digo.

— Min Yoongi — ele responde, e aperta minha mão.

Quando você imagina um novo melhor amigo, o nome dele nunca é Yoongi. Provavelmente, também não o imagina vestido como um gótico adolescente, ou mal olhando você nos olhos, ou sempre falando um pouquinho sussurrado.

Decido que, se tivesse olhado para ele por mais cinco minutos antes de atravessar o gramado sob o globo de luz para conversar, teria adivinhado o nome dele e que ele era de Daegu, porque esses dois fatos combinam com a calça cargo e a camiseta da Universidade de Busan.

Tenho certeza de que, quanto mais conversarmos, mais incrivelmente chato ele vai ficar, mas estamos aqui, estamos sozinhos, então por que não confirmar isso?

— Você está aqui para quê? — pergunto. Ele franze a testa.

— Para quê?

— Sim, por exemplo, eu estou aqui para conhecer um barão do petróleo milionário que precisa de um cara para se divertir que seja muito mais jovem — explico.

Aquele olhar sem entender nada outra vez.

— O que você vai estudar? — esclareço.

— Ah — diz ele. — Não tenho certeza. Talvez Direito. Ou Literatura. E você?

— Ainda não sei. — Levanto meu copo de plástico. — Vim principalmente pelo ponche. E para não morar em Daegu.

Nos penosos quinze minutos seguintes, fico sabendo que ele está aqui com uma bolsa e ele fica sabendo que eu fiz empréstimos universitários. Eu lhe digo que sou o mais novo de três irmãos meninos. Ele me diz que é o mais velho de quatro meninos. E pergunta se eu já vi a academia, e minha reação espontânea é "Para quê?", e ambos voltamos a olhar para o chão desconfortavelmente em silêncio.

Ele é do meu tamanho, quieto e está ansioso para ver a biblioteca.

Eu sou barulhento e tenho a esperança de que alguém apareça e nos convide para uma festa de verdade.

Ou seja, nossa única coisa em comum e termos a mesma altura.

Quando nos separamos, tenho certeza de que nunca mais vamos conversar.

Aparentemente ele sente o mesmo.

Em vez de tchau ou a gente se vê por aí ou quer me dar seu telefone, ele diz apenas:

— Boa sorte no primeiro ano, Jimin.

De férias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora