36 - Neste verão

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Estou tremendo. Arquejando Me despedaçando enquanto atravesso o estacionamento.

Ponho uma das mãos sobre a boca enquanto os soluços estouram dentro de mim, cortam e perfuram cada cantinho de meus pulmões.

É difícil continuar me movendo e impossível parar. Estou quase correndo para o carro de meus pais, depois me encostando nele, a cabeça baixa, sons horríveis saindo de mim, nariz escorrendo, o azul do céu e suas nuvens cúmulos de algodão e as árvores farfalhando ao longo do estacionamento, tudo isso se transformando em um borrão estival, o mundo todo se derretendo em um turbilhão de cor.

E então há uma voz, dispersada pela brisa e pela distância. Está vindo de trás de mim, obviamente é a dele, e eu não quero olhar.

Acho que mais uma olhada para ele poderia ser o ponto de não retorno, o que vai partir meu coração para sempre, mas ele está dizendo meu nome.

— Jimin! — Uma vez. E de novo. — Jimin, espere.

Empurro todas as emoções para dentro. Não para ignorá-las. Não para negá-las, porque é quase bom sentir uma coisa de um jeito tão puro, saber sem nenhuma dúvida o que meu corpo está experimentando. Mas porque esses são meus sentimentos, não dele. Não algo para ele tomar para si e carregar, como ele faz quase compulsivamente.

Enxugo o rosto com as mãos e me forço a respirar em ritmo normal enquanto ouço seus passos vindo rápido pelo asfalto. Eu me viro quando ele reduz a velocidade, dando os últimos passos em um ritmo determinado, mas casual, até parar, me cercando entre ele e o carro.

Há um intervalo antes de ele falar, uma pausa que é apenas para nossa respiração.

Depois de mais um segundo de silêncio, ele diz:

— Eu também comecei a ir a uma terapeuta.

Sem que eu possa me conter, dou uma risada rouca pela ideia de ele ter corrido até aqui só para me dizer isso.

— Que bom. — Enxugo de novo o rosto com o pulso.

— Ela diz... — Ele passa a mão pelo cabelo. — Ela acha que eu tenho medo de ser feliz.

Por que ele está me contando isso?, uma voz fala em minha cabeça.

Espero que ele nunca pare de falar, diz outra. Talvez possamos continuar falando para sempre. Talvez esta conversa possa durar nossa vida inteira, como parecia ser com nossas mensagens de texto e telefonemas esses anos todos.

Eu pigarreio.

— Você tem?

Ele me olha por um longo momento, depois balança a cabeça muito ligeiramente.

— Não — ele responde. — Eu sei que, se entrasse em um avião com você para Seul, eu seria feliz pra cacete. Pelo tempo que você quisesse ficar comigo, eu seria feliz.

Uma vez mais, o turbilhão caleidoscópico de cores embaça minha visão.

Eu pisco para conter as lágrimas.

— E eu quero tanto isso. Eu me arrependo de todas as oportunidades que perdi de te dizer o que eu sentia, todas as vezes em que convenci a mim mesmo de que o perderia se você soubesse, ou de que éramos diferentes demais. Eu só quero ser feliz com você. Mas tenho medo do que vem depois.

— A voz dele falha.

— Eu tenho medo de você perceber que eu te entedio. Ou conhecer outra pessoa. Ou estar infeliz e continuar comigo. E... — A voz dele trava. — Tenho medo de amar você nossa vida inteira e ter que dizer adeus. Tenho medo de que você morra e o mundo fique inútil. Tenho medo de não conseguir continuar saindo da cama se você se for e, se tivéssemos filhos, eles teriam essa vida horrível em que um dos pais maravilhoso não está mais aqui e o outro nem consegue olhar para eles.

Ele passa a mão pelos olhos, enxugando-os um pouco.

— Yoongi — sussurro. Eu não sei como confortá-lo. Não posso remover a dor de seu passado nem prometer que não vai acontecer de novo. Tudo que posso fazer é dizer a verdade, do jeito que a vejo. Do jeito que conheço. — Você já passou por isso. Perdeu alguém que amava e continuou saindo da cama. Esteve sempre presente para as pessoas em sua vida e você os ama, e elas te amam também. Você ainda tem tudo isso na sua vida. Nada disso foi embora. Não acabou só porque você perdeu uma pessoa.

— Eu sei — diz ele. — Eu só estou... — A voz dele fica tensa e ele encolhe os ombros. — Com medo.

Seguro suas mãos instintivamente e ele me deixa puxá-lo para perto, dobrando os dedos entre minhas palmas.

— Então, encontramos mais uma coisa em que concordamos além de odiar que as pessoas chamem barcos de "ela" — falo baixinho. — É apavorante estar apaixonado.

Ele funga no meio de uma risada, envolve meu queixo com as mãos e pressiona a testa contra a minha, fechando os olhos enquanto sua respiração sincroniza com a minha, nosso peito subindo e descendo como se fôssemos duas ondas no mesmo mar.

— Eu jamais quero viver sem isso — ele murmura, e eu fecho os punhos na camisa dele, como para impedi-lo de escorregar entre meus dedos.

Os cantos de sua boca se erguem quando ele sussurra:

Pequenino e valente.

Ele abre uma fresta dos olhos e o alvoroço em meu peito é tão forte que quase dói. Eu o amo tanto. Eu o amo mais do que amava ontem, e já sei que amanhã vou amá-lo ainda mais, porque cada pedaço seu que ele me dá é mais um para eu me apaixonar.

Ele me abraça com força, seus olhos úmidos tão claros e abertos que parece que posso mergulhar nele, nadar por seus pensamentos, flutuar na mente que eu amo mais do que qualquer outra no planeta.

Suas mãos se movem em meu cabelo, alisando-o na minha nuca, seus olhos percorrendo meu rosto com toda aquela lindamente calma determinação Yoongiana.

— Você é isso mesmo, sabia?

— Valente? — pergunto.

— Minha casa — ele diz e me beija.

Nós somos, penso. Estamos em casa.

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