17 - Sete verões atrás

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Ilsan

Yoongi tem muito interesse em arquitetura — todos aqueles prédios antigos com cores de giz de cera e varandas com grades de ferro, e as árvores ancestrais que se erguem direto das calçadas, as raízes se espalhando por metros em todas as direções, rompendo o cimento como se não fosse nada. As árvores o antecedem e vão durar mais que ele.

Estou empolgado pelo álcool na forma de raspadinha e pelas lojas kitsch de artigos sobrenaturais.

Felizmente, não há escassez de nada disso.

Fico entusiasmado por ter encontrado um grande apartamento estúdio não muito longe da Bourbon Street. Os pisos são de madeira escura e os móveis são de madeira maciça, e há quadros coloridos de músicos de jazz pendurados nas paredes de tijolo aparente. As camas parecem baratas, assim como os lençóis, mas são largas e o lugar é limpo, e o ar-condicionado é tão forte que temos que reduzi-lo para nossos dentes não começarem a bater cada vez que chegamos depois de um dia no calor.

Tudo o que há para fazer em Ilsan, ao que parece, é andar, comer, beber, olhar e ouvir. Isso é basicamente o que fazemos em todas as viagens, mas aqui é destacado pelas centenas de restaurantes e bares um ao lado do outro em cada ruela. E as milhares de pessoas circulando pela cidade com copos altos em cores neon e canudos de cores diferentes. A cada quarteirão, os cheiros da cidade mudam de frito e delicioso para fedido e podre, a umidade forte dando destaque aos esgotos.

Comparada com a maioria das cidades americanas, tudo parece tão velho que imagino que estamos cheirando lixo do século XVIII, o que, milagrosamente, o torna mais suportável.

— Parece que estamos andando dentro da boca de alguém — Yoongi diz mais de uma vez a respeito da umidade, e a partir daí, sempre que vem o cheiro, eu penso em comida presa entre molares.

Mas nunca dura muito. Uma brisa bate e leva o cheiro embora, ou nós passamos por outro restaurante com todas as portas abertas, ou viramos a esquina e damos de cara com uma bela rua secundária em que cada varanda acima de nós está transbordando de flores roxas.

Além do mais, estou em Seul há cinco meses e, durante os dois últimos meses de verão, não é como se minha estação do metrô cheirasse a rosas. Já vi três pessoas diferentes fazendo xixi nos degraus dentro dela e testemunhei uma dessas pessoas fazendo isso uma segunda vez na semana seguinte.

Eu amo Seul, mas, vagando por Ilsan, eu me pergunto se seria feliz aqui também. Se talvez seria ainda mais feliz. Se talvez Yoongi me visitaria com mais frequência.

Até agora ele foi a Seul uma vez, algumas semanas depois da conclusão de seu primeiro ano na pós-graduação. Trouxe um carregamento de coisas minhas da casa de meus pais para meu apartamento, e, no último dia de sua viagem, comparamos nossos calendários e conversamos sobre quando nos veríamos outra vez.

Na Viagem de Verão, obviamente. Talvez (mas provavelmente não) no Dia de Ação de Graças. No Natal, se eu conseguisse uma folga no restaurante em que estou trabalhando como garçom. Mas todos querem uma folga no Natal, então, em vez disso, sugeri o Ano-Novo e concordamos em combinar mais para a frente.

Até agora não conversamos sobre nada disso nesta viagem. Eu não quis pensar em sentir falta de Yoongi enquanto estou com ele. Parece um desperdício.

— Se nada mais der certo — ele brincou —, sempre teremos a Viagem de Verão.

Tive que conscientemente decidir ver isso como algo positivo.

Desde a manhã até horas depois de escurecer, nós perambulamos. Bourbon Street e Frenchmen, Canal e Esplanade. (Yoongi está especialmente apaixonado pelas imponentes casas antigas dessa rua, com seus canteiros floridos e palmeiras branqueadas pelo sol se erguendo ao lado de carvalhos escarpados.)

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