01: Apenas um insignificante

474 37 23
                                    

Se voltar no tempo fosse sinônimo de consertar problemas da vida, Taehyung o faria todas as vezes que tivesse seguido o caminho errado – se deixado levar pelo que os outros o diziam e julgavam ser o melhor para si. A verdade, nua e crua nisso tudo, era que todos estavam o afundando silenciosamente.

Sentando naquela mesa no escurinho daquele bar enquanto tomava um copo de alguma bebida que ele não havia se dado importancia de saber o nome, e que por sinal descia queimando sua garganta; Taehyung se culpava inumeras vezes de ter aceitado a bendita oferta de trabalho como ator em vídeos adultos.

A ideia de alguém elogiar seu corpo e colocar sua autoestima nas alturas foi nocaute na sua vida. E quando menos esperou estava lá, com papéis à sua frente e um contrato de anos que parecia agradável. Afinal, o salário era bom, tinha folgas semanais, tinha reconhecimento e, principalmente, satisfação pessoal.

Em outros tempos consideraria a melhor profissão que poderia escolher – se é que se chamava de profissão. Mas, após alguns tempo, convivendo com dadas situações, olhares mal vistos e pressão imposta pelos demais Taehyung se sentia um verdadeiro lixo, derrotado por aqueles que havia o levado para aquele mundo. E com o resto de dignidade que lhe sobrava fez questão de cancelar o contrato que o colocava em uma dívida com aquela empresa de fachada. Mas em retribuição por todo o "acolhimento", denunciou sem deixar rastros.

— Mais alguma bebida, senhor? – perguntou uma moça de cabelo curto e expressão suave em seu rosto.

— Claro – sorriu incerto, levantando o copo vazio – Qualquer bebida serve.

Diz com segurança para a moça que confirma saindo em busca de seu pedido.

Os olhos negros e um tanto apagados do moreno rolam tediosos pelo espaço. Não havia muitas pessoas, e todas pareciam tão entediantes e insignificantes quanto ele. Porém, por um momento enquanto se pegou tendo a garçonete se aproximando com o que seria sua saideira avistou um rapaz entrar com pressa no bar. Um sorriso amarelo iluminava seu rosto pálido quase que escondido sobre a escuridão do seu sobretudo preto que passava dos joelhos.

— Ah, finalmente ele chegou – a moça comentou com um sorriso simpático, colocando a bebida próximo às mãos de Taehyung.

— Quem é ele?

— Ele? – repetiu desviando a atenção para o rapaz que conversava com alguém antes de se deslocar rumo a um pequeno palco do bar onde existia um piano de cauda brilhante – Ele é Min Yoongi. Às vezes o dono do bar chama ele para vir tocar. Outras vezes as pessoas pedem para que ele venha se apresentar.

— Ele toca piano? – fala surpreso, assistindo o garoto um pouco distante ajustar o espaço onde se apresentaria.

— Você não o conhecia? Ele toca em outros lugares também. Ouvi dizer que ele faz isso como bicos a fim de investir nos estudos de piano. Parece que ele quer algum reconhecimento. Crescer nesse ramo, é a palavra certa.

— Hm, entendi.

Taehyung murmurou sem tirar os olhos do pálido que havia finalmente dado início a sua apresentação. A moça, por vez, se afastou deixando seu cliente aproveitar sua bebida amarga e a música lenta.

A apresentação terminou após uma sequência de cinco ou dez músicas tocadas, todos aplaudiram, alguns até mesmo se levantaram e assoviaram gratos por sua maestria. Yoongi se curvou brevemente, pegou uma mochila que trazia e havia deixado largado ali próximo e saiu acompanhado pelo mesmo homem com quem conversava quando chegou.

Taehyung havia observado tudo com cautela. Havia ficado fisurado com a delicadeza e o cuidado do outro diante o instrumento e a escolha das músicas que, porra, o deixou fascinado!

Ou talvez a realidade fosse outra. Taehyung não dava os créditos apenas à sua maestria, mas também à sua beleza. Yoongi transparecia um ar de inocência e doçura. E sua expressão enquanto seus dedos se moviam sobre aquelas teclas em preto e branco o deixava ainda mais sereno e distante da realidade em sua volta. Taehyung estava boquiaberto. Sentia seu coração pulsar mais forte do que qualquer outro tipo de situação pudesse o proporcionar.

Ele quis o conhecer. Saber como era sua voz ou se era tão gracioso quanto parecia ser. O moreno, na verdade, se sentia minúsculo ao imaginar-se próximo do pálido. Ele não passava de um tremendo insignificante, quem garantia que alguém como Min Yoongi olharia para alguém como... ele? Um ser patético sem vocação.

Entre um suspiro cansado e um bocejo discreto, puxou algumas notas de dinheiro do seu bolso e colocou sob o centro da mesa, saindo em seguida. Com as mãos afundadas no bolso da calça, apenas observou sobre o ombro o Min conversar com algumas pessoas.

— Seria mais fácil se eu deixasse de existir – reclamou enquanto chutava uma pedrinha qualquer pelas calçadas a caminho de sua casa.

Seus lábios se torceram para o lado. Yoongi não saía de sua mente. O garoto havia entrado em sua cabeça e fechado em sete chaves. Taehyung estava curioso para saber como seria se relacionar com alguém tipo ele. Afinal, depois de passar cerca de cinco anos no mesmo trabalho, namorar se tornou algo inexistente e impossível. Pois bem, quem queria se relacionar com alguém com a profissão que tinha?

No máximo o Kim servia de satisfação sexual para algumas pessoas que vez ou outra chamava sua atenção, ou seja, nada passava de uma noite quente e um Bay Bay no início do dia.

Entre suspiros e resmungos causados pela dor em seus músculos, ele se arrastou pelo corredor de sua casa em direção ao quarto. Chutou os tênis dos pés e caiu para trás em sua cama sem se importar com o cheiro de bebida que alguém acidentalmente deixou cair em sua camisa, ou até mesmo do suor em seu corpo pela caminhada feita do percurso bar-casa.

Ele puxou o travesseiro para baixo de sua cabeça e observou o teto sem graça sentindo seus olhos arderem. Tudo estava escuro e a única coisa que ele avistava era uma mancha estranha no teto. Mas ele passou a ignorar aquilo.

Afinal, Yoongi ainda estava em sua mente e não seria um vazamento sobre sua cama que o faria esquecer daquele rapaz interessante no qual faria de tudo para vê-lo outras vezes, nem que para isso ele precisasse voltar todas as noites ao Aurora.

Apenas Eu e Você | ᵗᵃᵉᵍⁱOnde histórias criam vida. Descubra agora