Meu carro estava caindo aos pedaços. Pelo menos o aquecedor funcionava. Quando acordei esta manhã, Ave ainda dormia profundamente. Como ainda faltavam horas para ela ter que realmente acordar para ir para a escola, escrevi um pequeno bilhete e o deixei na mesa da cozinha junto com uma panqueca que fiz ontem de madrugada.Eu não uso meu carro com frequência. Além dele não ter seguro, não tenho dinheiro suficiente para pagar a gasolina. Mas sempre deixo um pouco no tanque para emergências, como a que enfrento hoje. A emergência seria eu ter perdido o ônibus e ter que estar na lanchonete às 5h50. Sendo que já eram 5h40.
Tendo que parar no semáforo, meus olhos me traem e eu olho para uma pilha de cartões postais espalhados pelo banco do passageiro.
Avery deve ter esquecido eles aqui.
Com um pequeno sorriso, pego um dos cartões e passo os dedos sobre ele. Eles foram a única coisa de valor que minha mãe nos deixou. Claro que eram só cartões postais para quem visse de fora, mas para nós, era uma janela de esperança.
Eu, minha mãe e minha irmã sempre tivemos esse sonho de conhecer o mundo, e juntas, iríamos passar em cada uma das cidades presentes nos cartões postais. Era uma coisa nossa. Uma coisa que nos fazia pensar em um futuro melhor. Uma lembrança. Um desejo.
Voltando à realidade, vejo o sinal ficar verde e volto a dirigir. Hoje, meu único desejo é continuar viva, um desejo que está sendo muito difícil de realizar.
Quando chego na lanchonete, uma chuva forte e inesperada caía. Saí correndo do carro e atravessei a rua. Fiquei mais um tempo na chuva, pois quando subi no vaso de plantas ao lado da porta para pegar a chave, a mesma não estava no batente da janela.
Ah, Liz, ainda bem que hoje é seu dia de folga ou eu iria te estrangular.
Desci do vaso e forcei a porta, percebendo que a mesma ficou aberta a noite toda. A chave, na parte interna da fechadura. Ainda bem que a Sra. Miller não abriu a loja hoje, ou isso ia sobrar pra mim.
Entrando toda molhada na loja, eu começo a arrumar tudo para a chegada dos primeiros clientes às 6h30. Quando tudo estava pronto, e Lafayette, o nosso cozinheiro, já estava esquentando a chapa e aquecendo o café, eu fui para os fundos da loja me arrumar. Meus cabelos ainda estavam molhados, mas como Liz e sua bolsa mágica não estão aqui hoje para me emprestar um secador, pego os papéis toalhas e espremo o excesso de água na pia.
Voltando ao salão principal, vejo pelas grandes janelas a chuva caindo ainda forte do lado de fora. Volto meu olhar para a praça. Não vejo Harry. Isso é bom. Espero que tenha arranjado um lugar coberto para dormir e não tenha pegado essa tempestade.
- Ei, vadia. - olhei para Lafayette que me olhava com pena. - O que aconteceu aí? - apontou para meu cabelo.
- Dia ruim. - respondi rindo da minha própria miséria.
Ele balançou a cabeça e olhou para cima.
- Deus, por que é tão injusto?
- Pare de reclamar com Deus, seu chato. Ele está ocupado com coisas mais importantes. - Ele me olhou incrédulo.
- Ele pode arranjar um tempinho para minha reclamação!
Me apoiando no balcão, olho para ele com diversão.
- É? E o que vai reclamar dessa vez? Semana passada reclamou por não ter uma amiguinha entre as pernas. Ontem por dar um belo par de peitos para Liz e não para você. - Ele revirou os olhos.
- Se quer tanto saber, - começa, - hoje vou reclamar por você ter um corpão de modelo e um perfil de prostituta mas não saber usar. - Ri incrédula. - Se ele tivesse me dado seu corpo... eu aproveitaria melhor que você.

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Secrets, lies and hope
FanfictionHope Thosne tinha apenas um objetivo de vida. Sobreviver. Um objetivo que se mostrava se cada vez mais difícil de ser alcançado. Trabalhando em três empregos para sustentar a si mesma e a irmã mais nova, Hope não esperava que em uma manhã chuvosa u...