~Riley
Chegando em casa, a minha mãe não parava nem por um segundo de falar sobre a Malévola. Ela estava apavorada, isso era um fato.
—Portanto, Riley, eu não deixarei mais você sair por aí!— Ela fala, e eu sinto um mundo inteiro dentro de mim ser quebrado. Encaro ela, totalmente incrédula.
—Mas, mãe! A malévola não vai sequestrar ninguém, qual é!— Falo rapidamente, embolando as palavras. Eu já começava a sentir todo o meu sangue começar a borbulhar em cada pedaço do meu corpo.
—Isso é uma ordem, então não ouse me desobedecer!— Sua voz sai rígida, e não aguentando nem mais um segundo ficar ali, eu corro para o meu quarto.
Eu sei que ela estava preocupada, sei que a Malévola aterrorizou a todos, eu sei muito bem disso. Mas, agora, me proibir de sair sozinha? Isso já é loucura!
A fim de esfriar a cabeça, eu me deito em minha cama, encarando o teto. Lágrimas solitárias insistiam em escorrer pelo meu rosto. Era como se toda a minha liberdade estivesse sido retirada de mim. Bem, na verdade foi basicamente isso que aconteceu.
Eu sempre odiei me sentir assim, eu sempre odiei me sentir aprisionada. Eu queria ser eu, queria mostrar para o mundo que, sim! Eu seria uma garota incrível. Queria provar para todos que duvidaram de mim quando eu era menor. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que eu tinha apenas 12 anos, eu sabia que aos olhos da minha mãe, eu sou apenas uma criança, o que não deixa de ser verdade. Mas eu queria passar mais credibilidade, queria mostrar que, embora eu seja nova, eu posso agir como alguém mais velho, mais maduro, alguém que não tem medo.
Mas no fim isso talvez seja coisa da idade, como minha mãe sempre fala. Talvez eu seja só uma criança querendo o mundo, e que no fim, daqui a uns anos, isso passará. Talvez ela esteja certa.
Fecho os meus olhos, suspirando. Alguns segundos depois, eu pude escutar a minha porta sendo aberta lentamente, mas eu não fiz questão de abrir os meus olhos para ver. Eu sabia que era a minha mãe, sabia que ela tinha se arrependido da forma que falou comigo, e também sabia que ela estava aqui para conversar. Mas eu não queria conversar, eu não queria falar sobre isso. Eu só queria ficar só.
—Filha...— Ela sussurra, se sentando cuidadosamente no espaço que há em minha cama. Antes de continuar sua fala, ela coloca os fios do meu cabelo atrás de minha orelha. —Eu sei que está chateada, mas tenta ver o meu lado.— Ela fala, me fazendo bufar. É sempre isso, nunca muda. —A Malévola é um ser horrendo, e é um perigo para nós, humanos. Eu me preocupo com você, poxa. Você entende?
Não querendo falar com ela, eu apenas suspiro pesadamente antes de falar: — Sim, eu entendo.
— Tem certeza? Não me pareceu convincente.
De saco cheio, eu abro os meus olhos, encarando-a.
— Eu já disse que entendo, mãe. Por favor, me deixa dormir? Eu estou cansada.— Falo, praticamente arrastando as palavras. Ela não ficou muito contente com o que ouviu, mas não querendo brigar, ela apenas levanta e se retira do local.
Olho para a porta, que ficou aberta. Irritada, eu levanto da cama e fecho a porta rapidamente. Eu só não bato a mesma pois eu tenho consciência de que foi cara, mas vontade não me faltou de fazer isso.
Me virando para voltar para a minha cama, o meu olho bate em minha janela, e um sorriso maroto toma conta de meu rosto. Talvez isso poderá ser uma escapatória durante a madrugada. Mas, se bem que aquele lugar deve ficar sinistro nesse horário. Só de pensar me causa calafrios. Não que eu estivesse com medo, mas por ser uma floresta, é bem possível que durante esse horário haja bichos medonhos, e isso, sim! Isso eu tenho muito medo. Eu não gostaria nada de ser comida por algum animal gigante, ou até mesmo ser picada por algum animal, a fim de me envenenar.
Balanço a minha cabeça em negação, me desvencilhando de meus pensamentos.
Já na cama, eu solto um suspiro longo, encarando o céu completamente escuro. Ele estava repleto de estrelas. Tinha uma que era bastante semelhante a figura de um gato, e eu achei isso incrível. O céu nunca esteve tão bonito quanto hoje.
Sentindo uma calmaria invadir o meu corpo, eu respiro fundo, fechando os meus olhos. O vento leve e gelado entrava pelo meu corpo, me causando leves arrepios. Eu adorava isso. Estava tudo silencioso. Só era possível escutar algumas aves cantando. Talvez seja uma coruja, eu pensei.
B.U.M.
Rapidamente, eu abro os meus olhos, sentindo o meu coração acelerar com o barulho extremamente repentino. O meu olhar pousa sobre a janela, e eu pude notar uma figura preta em meu vidro. Parece que ele tinha batido, já que a janela não estava completamente aberta.
Solto um suspiro, aliviada por não ter sido algo pior.
Com a brecha que tinha, eu passo os meus braços por ela, pegando o bicho, que aparentemente era um corvo. Engraçado, parece o mesmo corvo de ontem, e coincidentemente, o de hoje, que estava junto com Malévola. Quando foi que começou a aparecer tanto corvo por aqui?
—Ei, garoto, você está bem?— analiso as suas asas, que pareciam estar tremendo. —Elas doem?— Pergunto, não obtendo nenhuma resposta. Querendo me certificar se ele estava ou não sentindo dor, eu toco levemente em sua asa, e ele solta um som.
—Acho que você machucou sua asa, rapazinho!— Ponho ele em minha cama, enquanto os mesmo me olhava com um olhar curioso.
Pego uma atadura que havia em minha gaveta, cortando um pedaço considerável dela.
—Eu vou usar isso em você, amiguinho.— Me sento na cama, pegando-o no colo. —Se doer, promete me perdoar?— Encaro os seus olhos, torcendo para olhar seja um "Sim".
Após por a atadura em sua asa, ele faz um sonzinho, como se estivesse agradecendo. Logo depois disso, ele saiu voando pela minha janela.
Curioso, pois esse corvo parecia um humano! Eu juro que eu senti que ele entendeu cada palavra do que eu falei.
Após fechar a janela, eu guardo a atadura e me deito na cama, a fim de dormir, pois já estava consideravelmente tarde.
~Malévola
—Diaval, que curativo é esse?— Pergunto, transformando-o em humano.
—Então, senhora...— Ele parecia envergonhado, então eu apenas o encaro, a fim de que ele desembuche. Ele pareceu entender, pois logo enrijeceu sua postura, a fim de continuar. — Eu estava fazendo o meu voo noturno, mas eu acabei batendo em uma janela.— Antes dele continuar, um riso ecoa pela minha boca, fazendo-o me encarar com um olhar diferente.
—Continue, Diaval!— Falo de uma maneira firme, assustando ele.
—Ah, claro, perdão!— Ele embola as frases, sem jeito. —Acontece que era a casa daquela garota. A mesma que estava aqui ontem.— Diaval revela, e eu apenas arqueio minha sobrancelha, como quem quer dizer: "E daí?". —E então, ela me pegou e fez esse curativo aqui.— Ele mostra o seu braço. —Mas não foi nada, só foi uma dor momentânea para o meu frágil corpo de corvo.
—A pirralha parece ter jeito com animal.— Isso é tudo o que eu digo, voltando o meu olhar para as árvores totalmente escuras por conta do céu.

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I See You
Roman d'amourAté que ponto o coração partido e a confiança traída de uma mulher poderia chegar? E mesmo assim, dentre todas essas barreiras, será que ainda poderia existir um espaço para o amor, a confiança, e a compaixão? *Slowburn