6. Carta de Battle

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Ah, de volta ao lar! Depois de dez dias fora, levou um tempo para que colocássemos tudo em ordem e voltássemos à nossa rotina. Minha mente ainda estava impressionada com tudo o que tinha visto e ouvido na reunião campal de Richmond.

Eu estava ansiosa para começar a ler meus livros novos. Apertei o pacote junto ao peito e então tirei cuidadosamente o papel fino que o envolvia. Respirei fundo e senti o cheiro das folhas impressas.

"Por onde começo?", perguntei para mim mesma. Folheei o livro que Gary havia me recomendado. "Humm... Que tal começar por você?"

A capa bordô estava bem confeccionada. O título chavama a atenção: Life Sketches of James White and Ellen G. White. Edição de 1888. No primeiro capítulo, o texto dizia assim: "Nasci em Gorham, Maine, em 26 de novembro de 1827. Meus pais, Robert e Eunice Harmon, residiram durante muitos anos nesse estado..." Achei a leitura tão agradável que tive dificuldades de parar quando minha mãe me chamou para ajudá-la a alinhavar o vestido da senhora Colins.

À medida que eu avançava na leitura, ficava cada vez mais encantada com a história de vida da senhora Ellen. Quase todo tempo ocioso que eu tinha era passado no meu quarto. Fiquei totalmente envolvida com a leitura daqueles livros maravilhosos. Encontrei na biblioteca de nossa casa outros materiais que me ajudavam a entender o cenário e a época em que viveu essa mulher tão frágil e, ao mesmo tempo, tão forte.

Já fazia algumas semanas que haviamos participado da campal em Richmond. Às vezes, eu me pegava pensando no Gary. Era engraçado como, de uma hora para outra, nos tornamos amigos. Não havíamos convivido muito, mas, quando estávamos juntos, parecia não faltar assunto. Fiquei imaginando que, se morássemos perto, eu teria tanta coisa para lhe contar a respeito das minhas descobertas sobre a senhora Ellen.

- Anna Beatrice - minha mãe interrompeu meus pensamentos -, seu pai acabou de trazer as correspondências. Chegou uma carta para você.

Ela me estendeu um envelope bem gordinho.

- Será que é do Gary? - eu perguntei com os olhos brilhando, enquanto virava o envelope para ver o remetente. Meu sorriso denunciou minha alegria.

- Deve ser uma carta bem longa - minha mãe disse -, a julgar pelo volume...

Abri o envelope com todo o cuidado para não danificar o conteúdo. Quando desdobrei as folhas, caíram no chão três recortes de jornais de Battle Creek. Um deles era do Enquirer, e tinha como data o dia 25 de julho de 1915. Os outros dois eram do dia 24 de julho: Moon Journal e Evening News. Venci a tentação de ler primeiro os recortes. Estava ansiosa para saber quais eram as notícias do Gary.

Minha mãe me deixou sozinha. Sentei na poltrona confortável que ficava no canto do meu quarto, próxima à janela. Meu coração batia de uma forma estranha. Não me lembrava de ter sentido isso antes. Meus olhos repousaram sobre a primeira linha da carta: "Battle Creek, 26 de julho de 1915".

"Ele me escreveu apenas dois dias depois do sepultamento da senhora Ellen", pensei, admirando a atitude de Gary. Continuei lendo:

Prezada Anna Beatrice,

Espero que esta carta a encontre bem. Fizemos uma boa viagem até Battle Creek. Chegamos na sexta-feira, dia 23 de julho. No caminho, fiquei pensando em seu desejo de poder assistir à cerimônia fúnebre da senhora Ellen aqui e me perguntei: Por que não fazer um registro para que Anna Beatrice tenha uma ideia do que vai se passar nos momentos finais até o sepultamento? Não sou repórter profissional; sou apenas um curioso. Então, perdoe-me se algo não ficar claro ou compreensível. Meu esforço foi no sentido de atender, pelo menos em parte, o seu desejo.

Vaso de Barro - Neila D. OliveiraOnde histórias criam vida. Descubra agora