Dois dias depois de nossa visita a Alissa, ela foi levada para Loma Linda. Soube que ela seria submetida a um tratamento intensivo para a cura da pneumonia, incluindo hidroterapia.
Graças à luz concedida à Sra. Ellen sobre os princípios de saúde, ainda no início do seu trabalho como mensageira do Senhor, muitos hábitos nocivos já haviam sido corrigidos. Por volta de 1848, por exemplo, foram mostrados a ela os malefícios do uso do fumo e do café. O asseio pessoal e a limpeza dos ambientes também eram aconselhados aos que professavam ser seguidores de Cristo. Quanto ao cuidado com a alimentação, Ellen não apenas pregava e escrevia sobre isso, mas também colocava em prática em sua vida os conselhos dados por Deus. A propósito, uma das características importantes dessa mulher inspirada é que ela só dava conselhos, não importava a área, depois que ela mesma os houvesse praticado. Era coerente em tudo o que dizia e fazia.
Eu havia lido que, em 5 de junho de 1863, no mesmo ano em que aconteceu a primeira reunião da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen recebeu uma visão muito especial sobre a mensagem de saúde. Ela e o marido estavam participando de um culto em Michigan, na casa do irmão Hilliard, numa sexta-feira à noite. Alguém havia lido um capítulo da Bíblia e, em seguida, pediram que Ellen fizesse a oração. Enquanto orava, ela recebeu a visão, que era bem abrangente. Entre os conselhos estava o uso do ar puro, água abundante (por dentro e por fora), luz solar e exercício físico como remédios naturais. (Posteriormente, foram acrescentados o repouso adequado, temperança, alimentação saudável e confiança no poder de Deus.) Nessa ocasião também foi mostrado a ela que o uso de algumas drogas comuns na época era extremamente prejudicial à saúde. Sabe que tipo de drogas eram essas? Estricnina, ópio, mercúrio, calomelano e quinino. Hoje, já se sabe que, em vez de remédio, elas são na verdade veneno.
Todas as instituições médicas dos adventistas praticam os princípios de saúde. Por isso, Alissa estava em boas mãos.
Eu me ofereci para anotar as matérias dadas na classe e passar para ela. Assim haveria menos prejuízo no aprendizado. Alissa era uma garota muito inteligente e conseguiria acompanhar os estudos, sem problema.
Intercalava meu tempo livre entre passar a limpo as anotações de Alissa, fazer meus deveres, ler meus preciosos livros e manter correspondência com Gary. Em suas cartas, eu percebia que ele estava cada vez mais entusiasmado com os estudos no Emmanuel Missionary College. Estava se preparando para ser um pastor e servir à igreja em tempo integral.
Assim o tempo foi passando... Depois de quase um mês em Loma Linda, Alissa voltou para Oakland. Estava totalmente curada! Era possível ver a saúde estampada em seu rosto. A respiração estava perfeita. Os pulmões, livres de qualquer secreção ou infecção. Não havia vestígio de tosse.
- Alissa... - eu a abracei com vontade, quando ela foi à minha casa buscar as anotações da escola. - Você está com uma ótima aparência!
Ela retribuiu o abraço. Estava tão feliz! Então, me contou como o tratamento que foi aplicado a ela no hospital de Loma Linda havia salvado sua vida.
Não pude me conter e falei o quanto a Sra. Ellen tinha sido responsável também pela fundação das maravilhosas instituições de saúde. Ela chegara até mesmo a fazer empréstimos particulares para a compra de algumas delas.
Alissa falou das deliciosas refeições servidas no hospital, especialmente os cereais de milho, criados pelo Dr. John Harvey Kellogg.
- É uma pena que um homem com tantos talentos tenha desprezado os conselhos da Sra. Ellen e se afastado dos caminhos de Deus por orgulho... - Alissa lamentou.
Concordei com minha amiga.
- Você sabia, Alissa, que o Dr. Kellogg tinha sido como um filho para Tiago e Ellen White? - Sem dar tempo para a resposta de minha (agora saudável) amiga, continuei: - Fora o casal White que havia ajudado a pagar seu curso de medicina. Quanto à questão da mensagem de saúde, ele agia de forma corretíssima e foi um importante aliado da Sra. Ellen. Mas, no início dos anos 1900, ele começou a defender teorias estranhas, que quase dividiram a liderança da igreja. E a Sra. Ellen teve que se posicionar contra essas ideias.
- Acho que já ouvi alguma coisa a respeito - Alissa disse com disposição. - Parece que ele chegou a escrever um livro com essas ideias, não é?
- É. O nome do livro era The Living Temple [Templo Vivo], no qual Kellogg defendia o panteísmo. Sabe, aquela teoria de que Deus não é um ser pessoal, mas sim uma misteriosa essência que está em tudo, incluindo os elementos da natureza. Para ele, Deus é a própria natureza.
- Não dá para entender como alguém com a capacidade dele e tão dedicado em defender os princípios de saúde, pode ter se deixado levar por essas ideias e ainda não seguir os conselhos de alguém que tinha amor de mãe por ele - Alissa disse enquanto ajeitava os longos cabelos escuros num coque, para deixar a nuca livre por conta do calor.
- Amiga, creio que isso causou muita tristeza à Sra. White. Ela tentou de todas as maneiras fazer com que ele enxergasse seu erro, mas o orgulho o impediu de voltar atrás. Além do mais, ele se ressentiu, achando que ela estava apoiando os pastores que não seguiam totalmente a mensagem de saúde. E que ela estava se deixando influenciar por eles. A Sra. Ellen não estava presente no concílio em que o livro dele foi apresentado, mas ela tinha escrito uma longa carta, de sete páginas, ao pastor Daniells, que era o presidente da Associação Geral naquela época, declarando as razões para que o livro não fosse aprovado, entre elas que se tratava de uma armadilha preparada pelo inimigo. Mas veja o detalhe... - Fiz uma pausa para dar um ar de suspense. - A carta chegou exatamente no momento certo, quando o pastor Daniells mais precisava de orientação - nem antes nem depois. A mensagem da Sra. Ellen foi lida no concílio, e ninguém mais teve dúvidas do que devia ser feito. Aquela era uma das sementes do erro que o inimigo queria espalhar, portanto, o livro foi recusado.
Alissa estava absorta, ouvindo com atenção o que eu dizia.
- Depois que o pastor Daniells escreveu para a Sra. Ellen, agradecendo sua carta que chegara no tempo certo, ela lhe contou o que havia acontecido. Por várias noites, disse ela, não conseguira dormir. Parecia que um fardo estava sobre ela. Então, numa noite, foi-lhe apresentada uma cena em que um navio estava envolto em densa cerração. De repente, o vigia gritou que havia um iceberg à frente. Alguém com autoridade disse que eles deviam enfrentá-lo. Rapidamente todos se empenharam para que o navio atingisse com toda a força o gigantesco bloco de gelo. A pancada foi violenta, mas o iceberg se desfez em vários pedaços, e o navio pôde prosseguir. Houve apenas leves estragos, mas nada que não pudesse ser consertado. O navio se refez da colisão e seguiu seu caminho.
- Uau! - exclamou Alissa. - O Dr. Kellogg era o iceberg?
Levantei os ombros.
- Pode ser, ou então a influência dele, quem sabe... Sua luta deixou de ser pela mensagem de saúde para se tornar uma disputa pelo poder. Lamentavelmente, depois de um tempo ele abandonou completamente a Igreja Adventista e ainda se tornou um crítico da senhora Ellen.
- No hospital de Loma Linda - disse Alissa -, aprendi que precisamos mudar alguns hábitos em nossa vida por uma questão de saúde. E creio que a Sra. Ellen foi uma das pessoas que mais demonstraram bom senso em suas orientações para um viver saudável.
- Sim, Alissa - eu concordei. - E, sabe, a Sra. Ellen entendeu a importância dessa questão e a relacionou até mesmo com o tema do grande conflito.
Minha amiga olhou para mim, assustada.
- Como assim?
- Sei que parece estranho, mas faz sentido - respondi. - Deixe eu lhe mostrar. - Fui até a estante e peguei um folheto com uma explicação bastante interessante. - Veja, um dos princípios do tema do grande conflito é que somos responsáveis por nossas escolhas. O que está envolvido na batalha entre o bem e o mal? Exatamente de que lado vamos escolher ficar. A mensagem de saúde é tão importante quanto as demais mensagens que nos caracterizam como o povo que tem uma responsabilidade especial nos últimos dias. Se temos um estilo de vida saudável, nossa mente também estará mais aberta para assimilar as verdades que Deus deseja que coloquemos em prática.
- Ah, agora entendi... - O sinal de interrogação se desfez do rosto de Alissa. - Se nossa mente estiver mais clara, poderemos ter uma percepção melhor daquilo que Deus deseja nos comunicar e poderemos escolher sempre o lado certo, o lado de Jesus, onde encontramos a salvação!
Conversamos mais um pouco e depois entreguei as anotações das aulas para Alissa. Ela ficou muito agradecida, não só pelo favor, mas pela agradável tarde que passamos juntas. Que bom que, no dia seguinte, a sala de aula estava completa novamente!
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Vaso de Barro - Neila D. Oliveira
Spiritual"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." (2 Coríntios 4:7, NVI) Anna Beatrice é uma adolescente muito esperta, criativa e que ama descobrir coisas novas. Ela só não imaginava que sua d...