Precisei me controlar muito para não insistir com Gary para que ele me revelasse a surpresa antes do tempo. Dizer para uma moça curiosa como eu que precisaria esperar era, de certa forma, um tipo de tortura. Às vezes, eu me pegava imaginando o que poderia ser. Nas outras correspondências que trocamos, tentei arrancar alguma dica dele, mas Gary sempre mudava de assunto e apenas me dizia que eu não me preocupasse tanto com isso e tivesse paciência. Ele só podia antecipar uma coisa: eu ia gostar muito! Para mim, isso foi como lenha na fogueira.
Lentamente, os dias foram passando e o fim de 1915 chegou. Tinha sido um ano especial. No auge dos meus 15 anos, o considerei o melhor da minha vida. Nunca tinha pensado que um acontecimento triste como a morte da Sra. Ellen poderia me despertar para descobrir coisas profundas e tão cheias de significado. Ler sobre a vida dessa mulher inspirada me deu uma nova visão do que significa servir a Deus. Também foi maravilhoso poder contar com Gary. Ele demonstrou ser um amigo de verdade e a "viagem" ao passado se tornou muito mais gostosa e divertida porque ele não só me acompanhou como ainda se envolveu com meus sonhos e colaborou para que eu não perdesse nenhum momento importante da trajetória da Sra. White.
Como Gary havia dito antes, no dia 20 de dezembro de 1915 chegou o convite oficial para o casamento de Roger, junto com um belo cartão de Natal da família MacPierson.
Meus pais ficaram animados com a ideia de viajarmos para Riverside e fizeram planos para irmos antes da data e passarmos pelo menos dois dias na casa da tia Glenda, em Bakersfield. Foi a oportunidade de conhecermos meu priminho recém-nascido. Tia Glenda era a irmā mais nova de mamãe e estava com um bebê de apenas quatro meses. Ela havia lhe dado o nome de Daniel, pois sabia o que isso significava para mamãe. Percebi o quanto minha mãe ficou emocionada com a homenagem. Ouvi quando as duas irmãs conversaram sobre a
esperança da breve volta de Jesus. Mamãe disse que aguardava com ansiedade o momento de receber dos braços de um anjo seu bebezinho, que cresceria e se tornaria um feliz membro do reino de Deus.A parada na casa de tia Glenda foi essencial para recarregar as energias e nos recuperarmos do cansaço de passarmos tantas horas sentados no trem. Ainda havia um longo percurso até Riverside. Mas tudo correu bem. Fomos recebidos pela família do Sr. Hazel, um amigo de longa data do papai. Assim, pudemos nos recompor e nos preparar para assistir ao casamento. A propósito, mamãe estava muito elegante com seu vestido vermelho! Papai a encheu de elogios.
Chegamos meia hora antes do horário da cerimônia. A decoração estava incrível! Os corredores haviam sido enfeitados com delicadas flores do campo. Cada detalhe revelava o bom gosto e também a condição financeira dos pais de Mary. Mas meus olhos estavam mesmo atentos em observar outra cena. Vi quando Roger chegou com seus pais e a pequena Vicky e começou a cumprimentar os convidados. Fiquei intrigada... Onde estava Gary? Senti uma pontinha de tristeza. Será que ele não conseguira chegar a tempo? Discretamente, comecei a procurá-lo em volta. Enquanto estava virada para o corredor, senti uma mão tocar levemente meu ombro. Era ele! Acho que não consegui esconder minha alegria, pois meus olhos brilharam.
- Como vai a minha doce e curiosa amiga? - Gary estendeu a mão para me cumprimentar.
A ansiedade em vê-lo havia deixado minhas mãos frias. Por sua vez, a mão dele estava tão quentinha que senti o calor passar para a minha.
- Melhor agora - respondi com um sorriso franco. - Estava preocupada de ter que esperar mais alguns meses para saber qual é a surpresa do meu amigo "quase" pastor.
Gary sorriu e sentou-se ao meu lado. Ele me pareceu tão adulto. Estava usando um terno de corte impecável. Sobre o colarinho branco da camisa uma gravata discreta ajudava a compor o visual. Estávamos próximos e me perguntei se ele imaginava o que eu estava pensando. Ele apenas olhava para mim e sorria. Havia em suas mãos um envelope grande, feito de um material mais resistente do que papel comum. Tive a impressão de que aquele envelope tinha alguma coisa que ver com a surpresa preparada para mim.
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Vaso de Barro - Neila D. Oliveira
Spiritual"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." (2 Coríntios 4:7, NVI) Anna Beatrice é uma adolescente muito esperta, criativa e que ama descobrir coisas novas. Ela só não imaginava que sua d...