xxxix. Estrelas que Caem

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Antes das estrelas caírem, a mulher encontra a garota agachada pegando do chão o que ela não consegue ver. "Alina" o nome levanta-a. "Acho que somos apenas nós duas. O que você acha de vir comigo?". A humana pensa, não considera uma proposta forçada e aceita acompanhar a feérica.

Luz de todos os lugares batem no vidro da estufa, o que não é absorvido reflete com intensidade. Elas entram no refúgio florido de uma delas. São cores vívidas que a cercam. Os galhos se projetam livremente, torcidos ou cruzados, tecidos em estruturas grossas e finas, antigas e recentes.

É quando a mais velha entrega à garota o grão de vida, o líquido transparente e o vaso que contém o máximo que suporta de grãos compostos de uma antiga rocha matriz, para que então a menina despeje a água venenosa na terra morta e a semente ressecada possa ser afogada.

Nas preces silenciosas da mais velha há o apelo para que nenhum fio de vida, por menor que seja, cresça para a superfície. No pedido que a mais nova faz a flor romperá com saúde a terra que a isola do alcance do sol.

A terra foi afastada com gentileza, a semente desconhecida depositada e o buraco pouco profundo recebeu novamente os grãos terrosos.

A garota não sabe o que vai vir, mas reza para que não demore, seu esperançoso coração anseia para descobrir a cor das pétalas. Com a promessa que voltará para regar, ela deixa o vaso com a semente na estufa de Elain.

Três dias se passaram e nada mudou. No quarto ainda só havia a terra. Uma semana concluiu-se e a semente permaneceu escondida. Mas isso não trouxe paz a florista que vigiava o pote fosse dia, tarde ou noite. Ela encarava os grãos desolados e amaldiçoados e pensava quais seriam a consequência de a semente seca crescer.

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O céu explodia em almas passageiras quando a mulher buscou por abrigo. Na estufa que passava a maior parte do seu tempo, ela encarou a vida brilhante que de um pote nasceu. A resistência do caule sobrevivente sustenta pétalas arroxeadas, o prenúncio que a florista temia. A concretização do maior dos seus pesadelos nunca foi tão bela. 

Ela devia ser a única a presenciar o germinar do broto.

Com a resposta que tinha as delicadas mãos da mulher derrubam a flor no chão. A cerâmica espatifada solta a terra nela antes contida. Cobrindo seus dedos com luva ela junta os pedaços cortantes enquanto as estrelas continuam a cair. Na lareira de um inverno recente as chamas recobrem a nyatih, tentando queimar a celulose e os espinhos. Da fumaça, um adocicado perfume capaz de confundir quem o sente.

Sem conseguir deixar a casa de vidro  mas sendo obrigada a pensar nas duas: a flor e a menina, a mulher se prepara para as novas mentiras que precisara contar.

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O Grão-senhor da Corte Noturna sentiu que uma onda se propagava na direção deles. Uma quantidade tão abundante de magia como aquela devia ser percebida por todos, mas o resto do mundo parecia alheio. Há quanto tempo um sinal como aquele não aparecia?

Quando enfim a corrente se chocou contra ele, Rhys precisou confirmar que o único alarmado era realmente ele. De onde vinha? Quem era tão poderoso desse jeito? Por que ele não reconhecia os traços daquela energia? Havia uma resposta na ponta de sua língua. De algum modo ele tinha o entendimento de que mesmo que essa fosse a coisa mais estranha, ele tinha dentro de sua mente a explicação. Embora não pudesse a alcançar naquele mesmo instante.

No céu as almas migravam sem a mesma dúvida de Rhys, convictas de sua jornada no além-mundo.

Em uma fração de segundo o pai de Nyx percebe os olhos enevoados de sua esposa e que ela se afastava dele. Estava acontecendo algo com a mulher que ele amava e mesmo que quisesse, não interferiu.  Guardando-se  alguns passos atrás dela.

Uma Corte de Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora