xxxi. Não resta vontade, tampouco esperança

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porque você continua tentando me destruir?

e l a s t i c   h e a r t 

Deixaram-na à beira da rodovia. Como chegou ali, Alina não sabia. Mas como fazia com o resto das dúvidas e questões mirabolantes de exatas, ela supôs uma explicação sem cabeça. Se tinha entrado em um carro por si mesma ou se tinham a empurrado para o banco de um, ela realmente não podia dizer, mas sua teoria mais recente era que depois de alguns quilômetros rodados, tinham aberto a porta da traseira e a jogando para fora com o carro ainda em movimento. Não foi uma queda violenta, seja lá quem tivesse no banco de motorista, não tinha afundado o pé no acelerador até que o velocímetro estourasse.

Apurando seus ouvidos, ela tentou captar o som de algum motor funcionante nas proximidades, exceto pelo vento fraco e ondas sonoras que não podiam escutar, não havia nada. Pela altura do sol, devia ser cedo ainda. O nascer da grande estrela era recente, o trânsito aumentaria ao decorrer do dia. Aquela hora, só estavam na estrada os corajosos e os mais apressados. A última viagem em família dos Petrovs tinha sido em um dia daquele jeito, rodovia vazia, céu limpo...

Placas sinalizadoras não tinham sido colocadas lá, então Alina teria que escolher para que lado ir. Se para o norte ou para o sul, nada podia auxiliar em sua decisão. Havia entretanto, algo que a impelia a seguir o caminho oposto ao ponto cardeal que ficava entre sudeste e sudoeste. A coisa de "olhar para as estrelas do Norte e encontrará o caminho de casa" era uma frase instalada em sua cabeça, que uma vez colada não desgrudava. Ler os livros de Sarita J. Mass demais trouxe à Ali o efeito colateral de sempre considerar o norte como a chave para tudo.

Se não sabia quando o sol iria voltar, era só seguir para o norte. Se quisesse fugir de algo, era correr para o norte. Se tivesse que procurar um lugar para esconder seu coração seria no extremo norte. Se precisasse se esconder, ela fugiria para o norte. Porque a Corte Noturna ficava na parte norte do continente de Prynthian e porque Terrassen também estava sob o céu das estrelas que só poderiam ser vistas no céu do norte. E se Ali não tinha um gps ou moeda para usar um orelhão para pedir por ajuda, só havia um rumo possível para ela.

Ela passou por sete curvas e subiu e desceu por todos os dias da semana, e quando parou no chão de terra do lado esquerdo do asfalto, ela leu uma placa "50 Km". Um pouco mais animada, ela prosseguiu sua caminhada. Seus pés davam os primeiros sinais que se tornariam um aglomerado dolorido e feio de bolhas. Enfim, o defeito do all-star.

Alina Petrov não previu que enquanto tomava uma pausa para descansar seus pés, um carro se aproximaria. Temendo ter que andar até a próxima cidade, ou estado, a depender de sua atual localização, a garota acenou para o carro, esperando que houvesse um espaço para ela e que o motorista não fosse um psicopata querendo bater sua meta de vítimas.

Quando o carro passou direto, acelerando, Alina se aborreceu. O sol começava a esquentar e em pouco tempo ela teria que caçar alguma sombra para se refugiar e poupar qualquer água que ainda estivesse em seu organismo. Por antecipação, Ali se sentiu desidratada. Já não bastava a quase certa sede que passaria, ela não poderia lidar com uma insolação.

Assim como Alina não previu que passaria um carro, ela não imaginou que o reconheceria. Foi com preocupação que a costureira se tocou que sabia de cor os números e letras que mostravam na placa na traseira do conversível. A cor branca da lataria, o amassado na porta direita do copiloto, a vidraça na traseira cheia de poeira com "juntos, para qualquer fim" escrito, tipo aqueles rabiscos que você faz quando acha que não tem ninguém olhando. Sua carona hipotética, o KAI-050, prosseguiu. Todas as janelas estavam fechadas, por serem escuras impediam que quem estivesse de fora pudesse ver o seu interior.

Uma Corte de Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora