xlvi. A Fúria dos Bastardos

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não há nada capaz de tirar o sangue em suas mãos

b l o o d    i n    t h e    w a t e r

A trilha seguida pelo caçador é pouco mais do que um fio tecido de resquícios. Ela é um caminho fragmentado, de direções confusas e cheio de escolhas. Há uma encruzilhada tentando o enganar. Faze-lo se perder em suas decisões.

O caçador não é perturbado por nada disso. Em seu propósito ele vagueia quase às cegas, mas com convicção pela estrada deixada pelo rastro dela.

A presa vai a sua frente com presa, ainda cuidadosa com os sinais que deixa para trás. O caçador não desanima com as tentativas dela de fazer com que ele pare. Nada pode parar sua determinação.

Quanto mais se aproxima da presa, o fio engrossa. Ele já pode senti-lo em suas mãos cicatrizadas. Será preciso não mais que um puxão para que ele esteja em seus calcanhares.

O jasmim no ar é pungente, não a mesma fragrância fresca remanescente entre as cinzas e fumaça permanente que o caçador sentiu na casa arruinada pelo incêndio. O cheiro se intensifica a cada espaço que o homem percorre.

Nenhuma caçada, em todos seus anos de existência pareceu como a que fazia naquele momento. O rastro da presa não era apenas um jasmim contaminado, era abundante em todos seus contaminantes: mentiras, maldade e roubo. Um rastreador comum poderia não distinguir as outras suaves notas que compunham o odor, principalmente quando estas eram um tipo diferente de marca, mas o caçador não era comum de maneira alguma.

A mentira era ácida em contato com o jasmim, a maldade amarga em oposição a doçura do aroma e o roubo envolve o jasmim como se quisesse o substituir.

Ela pode correr o quanto quiser, nutrir a falha esperança de que possuí alguma chance contra ele e o seu evidente sucesso. Mas o que ela não pode fazer é vence-lo em seu jogo. A presa nunca teve sequer esse direito.

O desespero dela torna tudo mais fácil. Agora ela é quem segue às cegas, deixando todo tipo de marca pelo caminho. É tudo que caçador precisa para alcançá-la. 

Ele vira uma curva e ela já está em sua visão. Enquanto percorre a curta distância que os separa, o caçador pensa sobre como ela é exatamente como todos a quem já caçou. Porque embora a presa tivesse agido por todo aquele tempo como se fosse uma predadora ela nunca passou de uma farsa.

Ela não vira para trás quando a presença do caçador a assombra, mas sente a miséria preencher com uma lentidão cruel todo o seu corpo. Despojada de tudo que havia roubado ela é pouco mais do que um verme rastejando em direção a morte.

X

Quando o mensageiro levanta voo levando a presa consigo o caçador apenas observa o terror nos olhos da fugitiva.

O vento que assobia nos ouvidos do illyriano não assobia nos ouvidos da mulher. Há um vazio impedindo que escute o mundo passando com velocidade ao seu redor, mas ela não nota a princípio.

Ela está sendo carregada por asas que não são suas para um destino desconhecido, certamente sombrio. E não há nada que possa fazer para se soltar. A presa não tem para onde escapar. Apesar de ainda não ter aceitado de corpo e alma que estava condenada a mulher perdeu a esperança.

Uma esperança que diga-se de passagem ela nunca teve caráter para possuir. Alguém como ela, que com tanto empenho prejudicou toda uma família não deveria sequer ousar se julgar digna de misericórdia. A mulher e seus pecados não podem ser perdoados. E não há a intenção, da parte de nenhum deles, de o fazer.

Uma Corte de Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora