Um lugar para chamarmos de lar
p h o t o g r a p h, n i c k e l b a c k
Há uma criança que ama brincar no quintal, o nome dela é Alina. Ela tem uma certidão de nascimento, uma caixa de brinquedos e roupas que ficaram pequenas para ela cedo demais e por isso se perderam, assim como todas as crianças de sua idade. Seus pais adquiriram a casa de número 72 localizada na Rua das Lanterneiras no bairro Nova Alvorada. Em uma visita rápida olharam a propriedade e no mesmo dia assinaram os documentos que os fariam proprietários.
A família Petrov não tinha móveis para descarregar de um caminhão de mudança, nem álbum de casamento ou sequer um conjunto de louça para servir chá para as visitas. Eles não eram lá muito receptivos. As vizinhas de lado da casa 72, duas fofoqueiras, nunca conseguiram extrair sequer uma informação sobre quem eram eles.
Nos trezes anos que viveram naquele endereço, um número muito restrito de pessoas passou da porta de entrada. Embora as janelas estivessem sempre abertas, parecia haver uns oito tipos de tranca em cada porta. Com seus dois andares e pintura frequentemente retocada, a casa tinha um ar zeloso. Ocupando todo o terreno havia uma cerca viva de um metro e meio. O vício da senhora Petrov, seu jardim, era o que mantinha a mãe de Alina no quintal.
No começo, quando vinha o solstício de verão, o pai dela enchia a piscina de plástico para que enquanto a mãe trabalhasse nos cuidados de suas flores a pequena se deliciasse na água friazinha. Era uma graça a visão dela de colete e com o rosto cheio de protetor solar.
Para o lanche da tarde a mãe batia suco de maracujá e fazia lanchinhos com pão bisnaguinha, com queijo e salada. Em uma bandeja ela levava a merenda para sua filha. Habitualmente, Alili fazia pirraça para sair da piscina, mas era só a fome apertar que ela ia atrás dos sanduíches e do copo cheio de gelo.
Antes do pôr do sol, a mãe ia atrás de tirar sua filha da água. Envolvendo a em um roupão felpudo, a mãe pegava na mão de Ali e a levava para debaixo do chuveiro, seus pezinhos deixando pegadas. Depois de uma longa ducha a menina se vestia e cansada de tanto brincar capotava em um sono profundo.
Tradicionalmente, na primavera mãe e filha acompanhavam juntas o desabrochar das flores. Elas iniciavam cedo os cuidados. Dois regadores, um roxo pequeno que tinha "A.P" gravado e um rosa com as iniciais "I.P", eram usados pelas dois jardineiras, uma mestre e sua aprendiz. Sob a orientação da mãe, Alina regava as plantas. Algumas delas requeriam mais água que outras.
Sendo uma criança sorridente e que adorava interagir, Alili amava por a mão na massa. Sempre que via sua mãe arrumando as coisas para fazer muda ou trocar a planta de vaso, ela pedia para ajudar.
Rara eram as vezes que ela voltava limpa para casa. O balde de brinquedo com pá e rastelo vivia cheio de terra e se Alina não estivesse dentro de casa arriscando a costura, ela estava de joelhos no chão do quintal cavoucando um buraco. Nenhum jardineiro gostaria de ver a bagunça que Alili fazia, mas mãe dela não se importava. Para ela, o contato de sua filha com a natureza era mais importante que a estética. A terra poderia tampar o buraco e a grama cresceria de novo.
Cedo, mas com segurança, a mulher mais velha ensinou sua filha a podar. Quando as mãozinhas de Alina não conseguiam segurar a tesoura de jardinagem a Petrov por casamento a ajudava. A mais velha passava horas com a garota ao seu pé, quando a mais velha aproveitava estar sendo observada para dar lições a pequena.
– Ouça a terra meu bem e você verá que ela fala – a mulher pegou um punhado de terra. – Escutando-a você saberá do que ela precisa e como atender suas necessidades para que ela continue nos provendo vida. Reponha seus nutrientes, arranque as ervas daninhas, veja a vida movimentando os grãos e a rigidez dos torrões terrosos –. Afofando a terra, a mãe de Ali bateu as mãos para tirar o excesso.
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Uma Corte de Estrelas Cadentes
FantasíaQuando uma leitora vai parar no mundo de ACOTAR" xxxx "A garota tinha seus olhos fechados, deitada na toalha estendida sob a grama, sua cabeça apoiava-se no travesseiro. Ela não só contemplava o céu que ser erguia sobre ela como ouvia com muita aten...