ii. Brilhe Intensamente

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perdendo a cabeça

b e l l y a c h e

A Grã-senhora apareceu no meio do seu quarto. Tocando o colar em seu pescoço, delicadamente abriu o fecho, tirando o, guardou a joia na linda caixa emoldurada. De volta ao seu traje oficial, passou a mão pelo tecido.

— Feyre, querida — a Archeron virou para seu parceiro, Rhysand. Retribuindo o comprimento, ela caminhou até a varanda. Passou pela porta e colocou seus antebraços na murada que delimitava a varanda. Um horizonte se estendia além de sua visão, era a Cidade da Luz Estelar, Velaris.

Era ali, junto com seu parceiro e família que ela vivia. Feyre não trocaria aquela cidade por nada.

— Você quer me contar? — com as mãos no bolso da calça, Rhys a indagou.

— Talvez depois — ela escorou sua cabeça no ombro do Grão-senhor da Noturna.

Sem mais conversas, o casal ficou por ali, aproveitando a companhia um do outro.

Um turbilhão de pensamentos passava pela mente de Feyre. A pintora temia que não pudesse os conter para si e que, inconscientemente, os gritasse pelo vínculo que compartilhava com seu parceiro. Era muito para se pensar. Ela queria poder organizar suas descobertas antes de contar a seu marido.

Quando teceu as palavras do encantamento não pensou no que poderia encontrar. Qualquer coisa teria a surpreendido. Ela esperava que fosse parar em uma terra distante, não que viajaria para outra dimensão. Um mundo de humanos e luzes piscantes. E ainda havia aquela estranha e familiar garota.

A Grã senhora tinha aparecido lá, sem saber muito bem o porquê, só para achar um motivo para voltar. Ela estava curiosa, queria conhecer a menina que se chamava Alina. As pessoas pareciam não notar que um estranha tivesse atravessado a fronteira dimensional. Ninguém apontou para ela. Até ser barrada por aquele homem, ela mal tinha visto mais daquele lugar.

A beleza natural e mortal dos gramados, árvores e flores a lembrou das terras humanas. As cores vibrantes mexeram com ela, a fez inspirada.

Ela não tinha se dado conta no momento, mas ali, contemplando a vista, um detalhe sutil passou a ser importante. Porque a Archeron mais nova não tinha se dado conta, até agora, de que as vozes que ouviu na Avenida, eram indecifráveis para ela, que não pode dar sentido ao que diziam. Mas que curiosamente, pode entender as palavras trocadas com costureira.

Talvez ela devesse afinal, contar o que vivenciou a seu marido.

— Rhys — ela o chamou. — Somos os únicos a existir nesse Universo? — a Grã- senhora precisava saber primeiro, o quão crente o homem que amava era.

— Me parece improvável que a vida seja uma benção dada apenas a nós. Isso tem haver com o seu sumiço?

Feyre balançou a cabeça em concordância — Eu fui para longe. Para um mundo onde eu só podia ver mortais. Um lugar comum, sem magia.

— Através daquele colar? — ele pergunta tentado entender.

— Sim —. A mulher encontra os olhos violetas do Grão-senhor da Noturna. — O que você diria se eu dissesse que encontrei alguém, uma única pessoa, a quem pude entender e que pude ser entendida?

A pintora olhou a ele com expectativa, seu parceiro tinha que saber de alguma coisa. Após um momento, o illyriano falou: — Sempre imaginei que não estávamos sozinhos nesse Universo. Mas o fato de que apenas uma pessoa a entendeu, diz que há algo a ser descoberto.

— É uma garota, um pouco mais velha que o Ashe. Ela parecia tão confiante, tão certa em falar comigo — a pintora parecia estar rodando em círculos em busca de razões que explicassem o que viveu naquele mundo diferente de tudo o que acontecia.

— Pode não ser nada Feyre.

— Eu duvido que seja tão simples Rhys.

— Nada que eu falar a irá convencer do contrário, não é mesmo?

Em resposta, ela apenas sorriu para ele.

Podia ser um sinal. Uma forma de intervenção da Mãe. A mãe de Nyx não sabia bem o que o destino queria, podia, entretanto, apostar que não foi por acaso o encontro que teve com a garota. As linhas que traçavam a vida delas, tinham, de alguma forma, se entrelaçado, e por isso, o futuro da pintora e da costureira estavam ligados, a feérica podia sentir isso.

Feyre tinha que voltar aquele mundo. Iria revirar aquelas ruas atrás da garota e tentaria descobrir o que o destino reservava. A menina poderia saber o motivo daquilo.

No próximo dia ela voltaria a pisar na Avenida e descobriria exatamente o que Alina era.

Porque a Grã senhora estava certa de que aquela estranha garota que a ajudou, representava algo ou alguma coisa, podia ser um segredo bem guardado ou uma verdade que precisava ser libertada.

Alina podia ser uma humana das terras mortais. E se não fosse, alguém de Printhyan a tinha ensinado o idioma do Continente feérico das Sete Cortes.

Amanhã, Feyre pensou, seria o dia conseguiria respostas.

X

Há uma reserva feita em um hotel à beira da estrada. A ligação foi feita por uma mulher, ela pediu um quarto com uma cama de casal e outra de solteiro. Uma família que viajará pela manhã e chegará cansada no meio do percurso.

O quarto reservado está limpo. Preparado para atender um pai, uma mãe, uma filha e um gato.

As camas são confortáveis. Cobertas roxas e felpudas estão dobradas em uma gaveta. Em todas as viagens para o Norte do estado, a mesma família parava no mesmo hotel e pedia as mesmas acomodações. Era tradicional. Um hábito desde a melhor noite de sono que tiveram depois de pegarem uma estrada engarrafada.

O número 213 aguardava pelos Petrov.

X

A parede de Névoa e Sombras que se materializou no meio do parque se dissipou na presença de uma bela mulher. Feyre reconheceu as árvores ao seu redor. Elas eram sacudidas pelo vento gélido da manhã. Passava alguns minutos da hora em que encontrou Ali na Avenida.

Ninguém que era parte da multidão crescente de jovens era remotamente parecido com a garota que procurava.

Nenhuma menina usava tênis de cores extremas. Ela viu artistas e sonhadores, mas faltou uma costureira, de mais ou menos a sua altura, que andasse saltitando.

Feyre andou pelo caminho que tinha escolhido na manhã anterior. O desconhecido passou por ela. Entretanto, Ali não estava lá. A Grã Senhora não tinha pensando que aquele podia ser um dos dias em que Alina tinha outros lugares para ir.

Decepcionada, a mulher olhou desconsolada para o lugar que era sua única esperança. A pintora não podia saber onde a garota morava. E pensando bem, a chance de um recontro era mínima. Parecia bobagem procurar uma adolescente em um mar de outros adolescentes.

Se pelo menos eles pudessem a entender, Feyre perguntaria pela menina. Ela estava de mão atadas e boca amordaçada.

Engolindo o desapontamento, a feérica esperou horas até que o sol atingisse seu pico e o calor irradiado dele a lembrasse da Corte Diurna. A mulher conheceu mais e mais pessoas. Todos rostos desconhecidos. Ela ficou em seu canto, isolada das conversas, mas a vista de qualquer um.

Quando ela viu que os gramados se esvaziavam, Feyre pegou em seu colar. Podia não ser naquele dia, ou nem no outro, mas iria até o fim. Deixando aquele mundo mortal, a Archeron passou pelo limite entre as dimensões. 

Uma Corte de Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora