cap. 2

106 12 19
                                    

Ginny Weasley - Três dias antes do sequestro.
🎧Infrunami - Steve Lacy

Odeio frases que envolvam paleta de cores e arranjos florais.

Quando soube que Fleur desejava minha participação no planejamento e na organização de seu casamento com meu irmão, não imaginei que seria assim. É claro que me sinto feliz em saber que considera minha opinião válida, mas é cansativo ouvi-lá repetir as mesmas coisas por muito tempo e em seu sotaque francês afetado.

Definitivamente, dentre todas as coisas que me disse, discutir seus arranjos florais e a paleta de cores é o assunto mais frequente. Ela diz que se arrepende das escolhas, que tem medo da cerimonialista estragar tudo ou de seu primo Arturus beber demais - os franceses apreciam um bom vinho, Fleur me disse. Sinto que nos últimos minutos, mais a tranquilizei do que realmente forneci alguma opinião que possa ser útil.

-Não se preocupe, querida. Tudo vai dar certo, estamos cuidando de tudo. - Não aguentei a pressão de ver Delacour lamentar-se por longos dez minutos e acabei chamando mamãe, o que tornou minha função somente abraçá-la com força o suficiente para que não pudesse mais falar nada. - E nós temos tudo que é necessário para caso algo de errado. - Diz minha mãe, acariciando o topo da cabeça de Fleur.

Por alguns segundos esse caos me fez esquecer que são nove da manhã e ainda estou em meu quarto, de pijama, com os lençóis desarrumados e o rosto completamente inchado e implorando por uma limpeza. Odeio que me acordem cedo durante as férias e principalmente que adentrem meu quarto - não por estar desorganizado, eu detesto que estejam aqui, de qualquer forma.

Minha mãe sabe disso, ou eu pelo menos espero que à essa altura já tenha consciência, então começo a olhar torto para Molly até que compreenda, Fleur segue soluçando em meus braços - não tenho nada contra ela e seu estresse pré cerimonial, mas sou completamente contrária a estar tendo esse surto em meu quarto e neste horário.

-Vou pedir a Tate que lhe sirva um chá, vamos, vamos lá para baixo. - Minha mãe puxa delicadamente Fleur para perto de si e eu me desvencilho da moça, sorrindo como uma maníaca (Eu realmente não sei como acalmar alguém).

As duas saem e eu me levanto instantaneamente, indo em direção ao banheiro, eu precisava de um banho. Tentei sair ontem, mas acabei indo embora quando decidiram ir ao Mc Donald's pós a festa, era o que sempre fazíamos. Sempre. Meu terapeuta disse que era exatamente o que eu devia fazer, ir a lugares que frequentávamos, só que na companhia de outras pessoas, mas falhei.

Não comecei a terapia por causa de Potter, sempre fui, mas ultimamente estou indo em razão da sua ausência. É difícil superar quando durante todo o ano letivo a mudança dele foi o assunto enraizado em todos os corredores, todos me perguntando se eu havia sido traída - a resposta era sempre a mesma, eu não sei -, querendo desesperadamente entender porque Harry trocou a escola particular e seus privilégios em Nova York para passar o ano em um colégio qualquer em Miami. A real é que não sei responder nenhuma dessas questões, pois assim como todos meus colegas, recebi poucas informações.

Eu juro que gostaria de entender, mas quanto mais penso nisso, mais me torturo.

-Eu não estou aguentando mais, juro. - Falo, invadindo a sala de jogos onde meus irmãos estão, corri para cá depois do banho. Ron, George e Fred.

-Dramas da Fleur? - Fred questiona.

-Sua patética vida de adolescente? - George pergunta, também.

-Harry Potter atualizou o Instagram ao lado de uma loira bonita e principalmente, feliz? - Ron completa, a cereja do bolo de toda a humilhação contra mim.

-Vão todos se foder. Não está ajudando. - Digo, me jogando em um dos sofás que preenche a grande sala. - Fred estava certo.

Me recuso a questionar se Harry realmente postou isso, mas com certeza vou pesquisar assim que estiver sozinha.

-Ouviram, seus otários? Quero quinhentos dólares, de cada! - Fred exclama.

-Vocês estavam APOSTANDO em meu humor? - Falo, intrigada. Eu até poderia ficar ainda mais surpresa, mas isso é o esperado vindo deles.

-A gente sempre aposta, mas as vezes você não aparece aqui. - Ron diz, desviando levemente a atenção do videogame que estava disputando com Fred. George estava mais distante, em um computador.

-Falando em aparecer, não era para vocês estarem trabalhando?

Pergunto a eles. Eu também deveria, sendo honesta, mas como sou menor de idade e Arthur quer mais me ensinar tudo para o futuro do que me fazer dar duro, não é uma responsabilidade tão necessariamente pontual. Demorou algum tempo para que papai concluísse que eu sabia sim fazer absolutamente tudo que me pedisse e faria melhor que meus irmãos, mas consegui ultrapassar a barreira machista que ele construiu ao redor de si.

-O George topou fazer tudo para nós por um precinho justo. - Ron afirma. Sempre me assusto com o quanto esses idiotas barganham grana, mesmo que nossas condições sejam ótimas. De qualquer maneira, minha família sempre quis mais, mais dinheiro, mais absolutamente tudo. - E ei, Gin, Hermione me falou que quer ir com você buscar alguma coisa em algum lugar... sei lá, resolve isso, ok?

Hermione é a namorada de Ron desde quando estávamos no fundamental. Começou cedo e ninguém acreditava que poderia dar certo, mas continuam juntos até hoje e os pais dela se tornaram sócios dos nossos.

Ontem, na festa do Miguel, havíamos combinado de buscar meu vestido na costureira e comprar o dela.

-Beleza, vou pegar o carro do pai, volto quando der. Qualquer coisa, avisem a mamãe. - Falo, me levantando do sofá e saindo da sala.

-Você vai o qu... - Não termino de ouvir a questão de um dos meus irmãos, saio da sala e pego a chave do carro no escritório do meu pai, indo em direção a garagem.

Nós morávamos em uma cobertura, então qualquer fuga deveria ser feita pelas escadas, pois o elevador fica no meio da sala. Aproveito para falar com Hermione e Luna enquanto desço alguns lances, depois, adentro no elevador de serviço. O prédio todo é a sede da empresa, mas as pessoas que trabalham aqui não se surpreendem comigo subindo e descendo por aí no outro elevador, - eu já faço isso há um bom tempo.

Chego na garagem e caminho diretamente até a Land Rover de meu pai, não é seu carro preferido, mas um dos que mais gosta em sua coleção. De qualquer maneira, eu não vou estragá-lo e ele tampouco vai ficar sabendo.

-Odeio o trânsito caótico dessa cidade! - Falo, revoltada e buzinando para o carro especialmente lerdo em minha frente. Acabara de pegar as meninas em suas residências, é fácil por morarmos em bairros próximos.

-Tinha me esquecido o quão divertido é estar com você no volante e em Nova Iorque. - Mione diz, ao meu lado.

-É uma experiência única. - Diz Luna, capto seu olhar pelo espelho e noto que sua testa está um pouco enrugada.

-O que foi, Luna? - Questiono.

-Olha eu sei que vão achar que estou louca. Talvez eu seja, mas o carro atrás de nós parece mesmo estar seguindo a gente.

The Kidnap - Hinny Onde histórias criam vida. Descubra agora