cap. 4

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Ginny Weasley - Dois dias antes do sequestro.
🎧Too Sweet - Hozier

Comidas de postos de conveniência me dão vertigem.

Talvez seja o efeito das curvas em alta velocidade ou - como minha mãe insiste em dizer, do meu estômago frágil, mas encarar qualquer tipo de alimento deste lugar tem sido um desafio. De qualquer modo, eu sei que ainda estou abalada por ontem e faz todo sentido rejeitar a comida que Molly está tentando à todo o custo enfiar em mim. É difícil raciocinar quando o carro do seu pai foi perseguido na manhã anterior, e a cereja do bolo é o fato de que quem estava no volante era você.

Consegui me dispersar mudando as coordenadas do percurso até o Starbucks, - caso meu bem-estar seja da sua conta. Mas, ainda sim, como posso ignorar? Sempre soube que havia muitas pessoas querendo esticar seus dedos nojentos sob a fortuna da minha família, porém, de outros modos. Perseguição era uma nova onda, e para alertar papai eu teria de dizer que peguei seu carro, ou seja, acabaria me ferrando.

Por enquanto, vou deixar rolar.

-E que tal um Doritos? Você ama, filha. - Minha mãe insiste, mais uma vez, querendo que eu coma algo.

Estamos em uma dessas lojinhas de beira de estrada, é uma parada obrigatória para os Weasley's quando viajamos para Miami. Desta vez, há uma dúzia de carros a mais do que das últimas e uma ansiedade quase palpável pairando sobre as diversas cabeças ruivas.

-Não, obrigada. - Respondo, me afastando do local onde estava. Não queria parecer grossa, mas já estava ficando chato.

Percebo que, na verdade, não há para onde fugir. Minha família está em todos os cantos: Ron e George estão apostando todo o dinheiro em uma máquina de bichinhos fajuta (Isso explica o porque estão sempre barganhando, não há como ter dinheiro quando se gasta em coisas como essas), Fred está ao redor deles dificultando a brincadeira enquanto balança pacotes de camisinha na frente de seus rostos - é, isso é ter irmãos. Gui, para variar, corre atrás de uma Fleur pilhada e cheia de paranóias, e papai está falando com um homem aleatório sobre seus negócios, mamãe está ao seu lado agora que me afastei.

A única pessoa solitária e um pouco distante é o segurança da família. Ele é um brutamontes que nos segue o tempo todo, e agora classifica-se como mais uma das razões que me impede de revelar o que vivi ontem. Se tem Félix, por que temer?

-Dia esquisito, não é? - Pergunto, me aproximando dele e imitando sua postura rígida, com os braços cruzados nas costas.

-Está tudo normal. É sempre assim. - A figura alta e imponente me responde. Félix não falava comigo na infância, mas acabei crescendo e começando a usar deste fato para desabafar. Era como falar com um manequim, mas servia.

Agora ele fala comigo. Deve ser por dó.

-Não, não estou falando das pessoas. É o céu, 'tá meio nublado.

-E você está triste pois isso lembra dos filmes que assistia com Harry quando os dias estavam feios? - Ele pergunta.

Talvez contar meus infortúnios para um velho 'fortão' não tenha sido uma ótima ideia.

-É por isso que eu gosto de você Felix. - Falo, soando tão irônica quanto desejei.

-Não precisa fingir, seu rosto reflete como sua vida amorosa está uma droga. Quer um snickers?

Por alguma razão Félix parece consumir apenas barras de chocolate, e especificamente snickers. Então, o fato de estar me oferecendo é algo importante.

-Eu vou querer, sim.

Suas hábeis mãos atravessam o tecido do blazer e imediatamente retornam com o chocolate, depositando-o nas minhas, que são menos hábeis e muito pequenas em termos de comparação com as dele.

-Pronta para ver o mar? Temos que ir.

Meneio a cabeça negativamente.
Não estou preparada para isso, não estou preparada para diversas coisas.
...

Antes, a primeira coisa coisa que eu fazia ao chegar na Flórida era ver o mar, como mencionado pelo Félix. Eu gostava de ficar sentada observando as ondas quebrarem e as pessoas depositarem seus guarda-sóis na areia quente, era reconfortante. No entanto, hoje a areia está gelada e não há muita gente aproveitando o tempo nublado, o que também contribuiu para que toda minha família ficasse inquieta e com medo do sol não aparecer na cerimônia.

Diante disso, escolhi me isolar no quarto da mansão e aproveitar enquanto o cheiro de lavanda da recente limpeza ainda pairava no ar. Coloquei meu pijama, confortável e curto o bastante para me deixar satisfeita e me deitei, dormi até o fim da tarde. A fome foi a primeira sensação que se manifestou quando levantei, então decidi ir até a cozinha - todos naquele lugar já tinham me visto de pijama alguma vez na vida, e eu pretendia ser veloz.

Mas nem sempre uma tarefa simples pode ser tão fácil quanto esperamos. No meu caso, nada parece ser como eu quero, e essa teoria foi provada quando ao retornar para o andar superior, alguma intuição me fez querer desviar os olhos para a sala de estar. Congelei em meus passos, mesmo sabendo que aquilo não deveria ser a atitude certa diante daquela situação: aparentemente, meus irmãos haviam programado uma reunião com seus amigos e estavam jogando videogame na sala, que dava plena visão a mim, com aquele pijama ridículo.

Que droga. Que droga multiplicado por cem.

Respiro fundo, percebo então que eles ainda não haviam reparado em mim, mas com certeza iriam se eu continuasse com meu olhar vidrado na única coisa que poderia piorar esse acontecimento idiota, Harry, o único a estar me enxergando e olhando fixamente para mim do lugar no chão onde está, encostado na beira do sofá. Eu nunca tenho certeza de como vou reagir quando o vejo, mas desta vez, não consigo pensar em algo melhor do que sair correndo.

Seria pedir demais por um dia calmo? Um dia em que eu possa tranquilamente sair com o carro do meu pai sem ser perseguida, uma tarde em que possa transitar pela -minha- casa sem ser surpreendida pelo meu ex? Pelo jeito, seria.

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