cap. 5

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Harry Potter - Um dia antes do sequestro
🎧BIRDS OF A FEATHER - Billie Eilish

Todos os muros de indiferença e noites pensando em como iria agir quando pudesse vê-la foram destruídos com seus olhos castanhos.

Eu estava plenamente consciente que deveria estar gastando meu precioso tempo organizando as coisas para o dia seguinte, ou indo contar ao meu pai tudo que Sr. Riddle me fez passar na tarde anterior. No entanto, ter passado um tempo com os Weasley's jogando videogame mudou completamente a química que direcionava meu cérebro. Ontem, Ron me enviou uma dúzia de mensagens, já era fim de tarde e eu não tinha muitas coisas úteis para fazer, portanto fui até lá.

Naquele momento eu não havia pensado nas inúmeras razões que poderiam fazer com que não fosse merecedor de pisar na casa da família da garota que muito provavelmente quebrei o coração, e essa avalanche de pensamentos decidiu me invadir logo agora.

-Harry! Venha aqui, por favor, Arwen não quer parar quieto, eu termino as coisas que está fazendo. - Minha mãe diz, da sala, quebrando meu transe.

Minha família chegou em casa há pouco tempo, e mesmo assim já tive que preparar umas cinco mamadeiras para meu irmão. Decidi me dedicar ao máximo para com eles, estava com saudade, muita saudade.

-Tudo bem. Já 'tô chegando. - Digo, atravessando as portas que me levariam para a sala, Arwen estava tentando se equilibrar sentado no chão e também, jogando todos os milhões de brinquedos fora de seu próprio alcance.

Com apenas seis meses e já tão insatisfeito com a vida.

Minha mãe levanta-se assim que me sento perto de meu irmão, digo a ela que pode dar conta das suas responsabilidades, pois meu plano era levar Arwen junto comigo até o escritório do meu pai, queria explicar a situação com o velho insuportável. Ele e Sirius foram lá hoje para que meu padrinho pudesse mostrar como as coisas estavam correndo, é claro que meu pai fica sabendo de tudo, mas pessoalmente as coisas são nitidamente diferentes.

Pego uma bolsa com todas as coisas do Arwen e o coloco em seu carrinho, seu rosto pequeno forma covinhas só com a perspectiva de ser tirado do tapete onde estava. Vou até a cozinha e recolho a mamadeira que minha mãe estava preparando, ela me dirige uma longa aula sobre cuidados e atenção com todas as possíveis ações de meu irmão.

-O combinado era não sair do planeta, sabe? -
Falo, ironizando sua preocupação, e ela gentilmente joga a toalha que estava em seus ombros em meu rosto, rindo.

Saio de caso pensando enquanto aprecio esses momentos, as coisas pequenas e banais. Eu tinha construído uma falsa concepção de que seria difícil me acostumar com a falta de minha família por causa das coisas complexas, como tomar decisões e saber como agir se alguém acabasse me deixando decepcionado. Mas a real é que percebemos mais o quanto precisamos de alguém quando, numa dia qualquer, não tem ninguém para te dar um abraço antes de encarar o dia ou para arrumar a gola da sua camiseta amassada.

É difícil de qualquer maneira, e ver os olhos brilhantes de Arwen ao encarar a luz que o mar estava emanando, confirmou todas as minhas palavras não ditas.

...

-Você não sabe perder, Sirius, não sabe mesmo... - Ouço a voz de meu pai ao entrar no escritório, que ficava a umas duas quadras do fim do condomínio com as casas de veraneio.

Era um prédio pequeno, uma estrutura simplória e até meio sombria, dependendo do seu jeito de visualizar as coisas. Tinha de ser dessa forma, já que nosso negócio era boa parte digital e as relações com os clientes ocorriam em canteiros de obras ou em estabelecimentos de procedência duvidosa - duvidosa porque quem escolhe é o cliente.

-Mortal Kombat? Sério?! - Digo, atravessando o hall de entrada e seguindo diretamente para o paraíso dos homens de meia-idade da minha família: uma sala com videogame, refrigerador para suas cervejas e posters de bandas antigas.

-Ah, e aí, onde estão os meus garotos? - Meu pai diz, revirando-se no sofá até nos encontrar com seus olhos. - Impressionante, Harry, até seu irmão Arwen, que costuma chorar quando 'vê coisas ruins não reclamou do Mortal Kombat na tela, mas você, sim.

-Isso, Harry! Te devo uma, e - Sirius diz, derrotando o personagem do meu pai nos segundos em que este se distraiu. - James, você foi oficialmente m-o-r-t-o por um personagem...

-"Merdinha". - Lupin completa a frase entrecortada ao sair pela porta na parede contrária, onde fica o banheiro, Teddy está em seu colo e ele, com os olhinhos atentos em tudo. - Ah, oi Harry, oi Arwen, olhe só Teddy, vocês podem brincar agora.

Arwen revira-se em meu colo, curioso. Caminho com ele até o tapete onde estão as coisas dos bebês, tiveram de fazer algumas mudanças na dinâmica da sala, como adicionar trocadores, substituir os pôsteres de mulheres peitudas e a exposição de espadas por algo mais leve: brinquedos.

Colocamos os dois no tapete, entre o sofá e a TV, Sirius logo me entrega um controle, para que eu possa jogar também, já que eles haviam mudado para um jogo com quatro players. Quanto aos bebês, eles estavam brigando por uma das peças do castelo de montar, mas geralmente os deixamos ali, o amadurecimento vem com a autonomia, né?

-Beleza, vamos lá, quem matar menos zumbis troca a fralda do Arwen, porque o Teddy já foi trocado. - Sirius diz, terminando de adicionar o jogo de zumbis na caixa do videogame, era um dos únicos para quatro players simultaneamente. Ele era difícil justamente porque a tela ficava dividida em quatro quadrados minúsculos.

-Eu estou fora dessa, troquei um dos bebês. - Lupin afirma.

-'Tá fora nada, quem faz uma vez, faz duas. - Meu pai rebate.

O jogo começa. Alterno entre os botões que me fazem andar e fico buscando armas pela paisagem apocalíptica, o primeiro zumbi aparece e tenho de derrotá-lo com uma cadeira. Fazer o quê? Só tinha isso.

-Pai, Sirius já falou sobre o velho e insuportável Riddle? - Pergunto, sem olhar para quem a pergunta foi direcionada.

-Sim e esse cara me parece suspeito, muito suspeito. Não é para atendê-lo mais, estou escolhendo a paz do que os dez mil dólares que aquele cara prometeu. - Ouço enquanto consigo encontrar um taco de beisebol e matar mais alguns zumbis.

-Aliás, que tipo de perguntas ele fez na última vez que os encontrou? - Lupin questiona.

-Sobre suas pretensões em comprar um condomínio de veraneio. Perguntou onde ficava o nosso... - Falo, parando na última frase, pensando sobre o que respondi a ele.

Eu lhe dei nosso endereço.

-Merda. - Meu pai fala.

Meu personagem morre, jogo o controle ao meu lado, no chão. Encaro a TV com um arrependimento profundo, tantos meses tomando cuidado, tantas decisões difíceis, para tão facilmente revelar algo dessa dimensão.

The Kidnap - Hinny Onde histórias criam vida. Descubra agora