Décimo Quarto

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- Está acordada - era o leve sussurro que vinha em seus ouvidos enquanto o homem se mantinha ajoelhado em frente ao altar inteiramente feito de ouro, suas preces eram silenciosas perante aquele em que o mantinha como alicerce de sua caminhada real. Um acenar de sua mão o fizera se retirar, ele sabia o que tinha de fazer e assim seguiria no que acreditava. 

Sozinho, o homem se encontrava novamente sozinho em seu templo de adoração privativo, ele como o faraó era como um Deus vivo encarnado sobre a terra, sabia de que essa era a crença concedida ao seu povo, mas, eles não faziam ideia das verdades mais profundas de seu reinado, da escuridão movida nas mãos da família de um faraó, em suas tradições e costumes. 

Ele sabia de que seu pai pouco concordaria com as coisas em que faz, mas, ele era diferente de seu pai que se contentara em conquistar reinos com a sua própria força imparável, ele queria mais, sempre quisera mais, sempre se aprofundara mais na magia antiga e perversa desenvolvida pelas famílias reais anteriores. 

Ambição, o movia como um leão rumo a seus desejos.

Horror, o movia em sua busca pela perversão das almas. 

Destruição, era o seu guia rumo a saciedade. 

Demônio, era como os espíritos o chamavam em seus pesadelos, Amenhotep era o demônio em forma de Deus, era sua perfeita ruptura com o sagrado, ele se contentava em ser o pior, ele fora aquele em que mais trouxera riqueza e segurança aos seus, ele era o devoto servo de Anúbis, o Deus da Morte e Perversão, no entanto, Amenhotep pagava, ele pagava com seu próprio sangue, ele sabia de que o preço era mais alto do que seus frutos, sua alma corrompida, seu ser era pertencente aos infernos e sabia de que seu destino em Tuaut seria um dos mais pavorosos, esse era o trato, sua vida pós morte seria destinada unicamente para um proposito e tinha de levar algo, assim como deixar algo...esse era o trato, sempre havia um tratado. 

- Diga-me...conte-me - a voz sussurrante o gelava mesmo de que já fosse conhecida, era cruel, sempre cruel - a corça... - seus pelos se eriçam, Amenhotep logo entendera a quem se tratava, sua postura de um perfeito predador. 

- Minha corça, apenas minha - como um rosnado bestial na língua dos demônios, e ele nada mais escutara do que um breve riso seco e algo como um puxar em seu órgão mais vital, seu coração - leve em consideração o que digo Anúbis, caso o contrário, destruirei tudo aquilo em que lhe mais é sagrado - um sorriso ladino e o Deus se silenciara, sabia perfeitamente ao que se referia o faraó. 

Sozinho, sabia de que teria aqueles momentos sozinho, sua cabeça se fixara nas memórias da noite anterior, ele sabia de que sua racionalidade esvaíra pelo seu corpo assim que seus olhos se fixaram na pequena corça abençoada pelo Pai divino, pequena Deusa da luz, ele sentira quando sua besta interior explodira por Ela, seus pequenos olhos cinzentos, indefesos e tão determinados, eram como uma convocação do demônio pela luz sagrada, sendo guiado até ela como o pecador perverso, sendo sugado pela luz de sua alma, sugado pela sua energia divina. 

Suas mãos formigaram, Amenhotep sentira quando as latentes batidas de seu coração se tornaram inteiramente unidas ao da pequena corça, suas pupilas dilataram e seu corpo incendiara, ele não sabia até onde seria capaz de chegar com a pequena criatura delicada se sua mãe não intervisse naquele exato momento, Cleópatra. 

Amenhotep era obcecado por diversos objetivos em sua vida, no entanto, aquela mulher, aquela Deusa de fios claros, era como uma facada no seu orgão vital, o perfurando, o dilacerando, banhado pelo sangue bestial que corriam para ela como um rio fluído de sentimentos perversos, louco para toma-la, enlouquecido por adora-la, aquela sensação, Amenhotep nunca havia sentido anteriormente em hipótese alguma.

 Irracional, como uma besta furiosa movido até sua presa frágil, ele a queria, queria fervorosamente Cleópatra, ansiava em todos os seus ossos pela consumação de seu toque, suas veias gritavam pela adrenalina de seus olhos chorosos e sua alma obscura cobiçava a redenção de sua divindade. 

Tomado, completamente tomado, pela sua áurea, o Deus sorria em perversão vendo o decair de seu servo mais devoto, sua transformação, o sussurrar de seu feitiço e a oferta ao se assentar em seu trono, aguardando, aguardando Vossa chegada. 

O cheiro, inesperado perfume adentrara seu recinto, como um animal ele a sentiu ao longe, suas veias saltam, o cheiro de sua santidade o inebriava inexplicavelmente, seus olhos se fincam em sua figura, pureza se alastrava, ele a via como uma Deusa, a admirava como se a própria Néftis enviasse sua filha mais querida para abençoa-lo, para salva-lo de sua escuridão. 

- Venha - a chamara como uma besta, um comando para sua corça, estendendo sua mão, insano, seu corpo em chamas, ela o obedece, serena se aproximando do faraó -  sua alma me pertencerá no descanso eterno - seu sorriso era perverso ao ver de que em sua pele brilhosa aparecia um pequeno pontinho preto como uma pintinha.

- E-eu - buscava as palavras ao sentir algo arder em seu corpo, seu corpo ardia, o que ele havia feito? - me deixe ir, por favor, me deixe ir - o pede, suplicante, aterrorizada com tudo o que presenciava, a fumaça preta os cercavam, sua máscara se desfaz, ela via o rosto perfeito, ele era o homem mais perfeito em que já vira, não negaria, era como se...como se a sugasse para si, ela tinha que fugir de Amenhotep, tinha que...

Não era o que sempre quisera? Esse não era o seu maior desejo, Nerissa Malfoy? 

Uma voz potente gritava em seus ouvidos, Nerissa estremece ao sentir seu coração disparar com a acusação,frio, o frio a penetrava em suas entranhas, a sombra agora tinha olhos brancos que se focavam inteiramente nela, era assustador, vira quando a mesma se aproximara do animal preso ao altar, ele a devorava, os gemidos do animal a consumiam, a conduziam a beira da insanidade. 

Em um momento, Nerissa não se contera com o tremor que a tomara, se agarrando ao homem que a segurava com tamanha firmeza, fechando seus olhos, ela escondera seu rosto em seu peito, um áspero dialogo era trocado em uma língua da qual Nerissa não pudera escutar e então, a calmaria, silêncio tomara o recinto, tomando coragem após momentos de desespero puro, ela tomara a iniciativa de observar o ambiente ao seu redor, nada, silêncio, o animal não mais estava lá, apenas...o sangue, o sangue da corça escorria sobre o altar até o chão, não queria o encarar, não queria de que ele...seus pensamentos se interrompem quando um toque sutil em seu queixo fora sentido, o levantando em direção a aquele em que mais temia.

Os olhos vermelhos estavam ali, os marejados de Nerissa a tornavam ainda mais vulnerável, ela não se impedira de que uma lágrima escorresse pelo seu olho direito e então sussurra engasgada para o faraó: 

- Eu fiquei com tanto medo, por favor, não faça mais isso - o suplicara em olhos sedentos, e o faraó nada mais pudera fazer quando deslizara um de seus dedos pela bochecha rosada da princesa, a admirando, decorando sua imagem em seu cérebro, ele a pintaria em sua memória por toda sua eternidade. 

- Vá - Amenhotep a libertara de seu aperto, Nerissa piscara seus olhos confusa, ele a estava deixando ir? Se levantando de seu colo, a jovem loira não captava perfeitamente o que se ocorria, seu eu estava relutante em deixa-lo, seu corpo buscava seus movimentos, no entanto, ela tentara dar seu primeiro passo, em falso ela sentia de que estava pronta para ir ao chão, entretanto, braços fortes a seguram e a levantara como se ela nada pesasse - está fraca, pequena corça - seus olhos vermelhos fitavam os olhos acinzentados e as bochechas coradas, a loira inteiramente corada era guiada por dentre o enorme palácio.

Novamente, para o terror de seus servos, ali estava o faraó...carregando em seus braços a sua jovem princesa raptada. 

A Obsessão do Faraó - Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora