Se tem uma coisa que Sina não suporta, é barulho. Ela sempre adorou a monotonia em sua vida, toda sua rotina sempre foi resumida a: trabalho, estudo e silêncio, m-u-i-t-o silêncio. Ela só não esperava que, com a chegada de uma nova garota a casa ao...
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Minha melhor amiga me odeia. Por que pensar nisso me magoa tanto? Joalin é a única que tenho, e saber que agora ela está brava e com razão por uma merda que eu fiz é desgastante. Eu não consegui dormir a noite, fiquei o tempo todo com a cabeça a milhão, os pensamentos loucos me deixando perturbada. Pulei da "cama" às cinco e meia da manhã quando já não aguentava mais ficar no quarto e vim para o quintal assistir o nascer do sol, e desde então não levantei daqui para nada.
Sinto meu estômago revirar quando sinto o cheiro agradável que vem da casa ao lado, que imediatamente sei que é a de Sina já que a fumaça está vindo de lá. Fico olhando para a parede que divide nossas casas, e mesmo daqui, consigo escutar as risadas, e uma delas é a da minha melhor amiga que deve estar ali com Sabina. Tentei tomar um copo de água bem cheio para ver se esse truque ainda funcionava, mas não deu certo, então no final acabei optando por um shot de vodca pura e adormeci logo em seguida. A garrafa de vodka foi a última coisa que me restou em casa, isto porque nem farelos eu tenho mais, e já nem imagino mais como sobreviver a essa merda.
Mais gargalhadas na casa ao lado, e dessa vez um sorrisinho fraco escapa de meus lábios, mesmo sem forças para isso, a risada da Sina é contagiante. Andei muito hoje cedo, todo o resto de energia que me restava foi embora com a caminhada enquanto entregava currículo em todas as lojas no centro da cidade, não poupei uma única, preciso de um emprego ou morrerei aqui.
Levanto-me do chão e, para não ficar o dia todo jogada no jardim, vou tirar o lixo que prometi tirar ontem de manhã e acabei esquecendo. Eu sempre me esqueço do pequeno detalhe que o lixo nunca vai embora sozinho de casa, sou eu quem devo colocá-lo para fora para que os lixeiros peguem.
Quase não consigo erguer o saco de lixo, mas se deixá-lo aqui dentro, sei que começará a aparecer vários bichos e não estou afim de lidar com nenhum deles. Minha vista fica um pouco turva, mas sigo para o lado de fora, tendo que enfrentar além de tudo o sol forte que me deixa ainda mais tonta. Vou arrastando o saco de lixo em direção a calçada, e quando finalmente o coloco no lugar certo, meu corpo fraqueja um pouco e vou com tudo pra trás, esbarrando em algo... ou alguém. Minha bunda encontra o gramado e, ao olhar para cima para me desculpar com quem quer que seja, encontro um par de olhos pretos me olhando com curiosidade, e demoro uns segundos até me dar conta de que conheço a pessoa e de que essa pessoa é Sabina. Ela sorri para mim com toda educação do mundo e, mesmo sabendo que acabei de colocar um saco de lixo na rua, me oferece a mão para me ajudar a levantar. Aceito sua ajuda já sabendo que meu corpo está um caos para conseguir sozinha, mas ao tentar me erguer pela primeira vez, meu corpo perde completamente as forças outra vez e sinto minha visão escurecer levemente. Abaixo a cabeça, piscando repetidamente os olhos para tentar alcançar a luz novamente, e sinto as mãos de Sabina no meu rosto.
