27 | Convite

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Meu pai saiu do hospital a três dias, e mesmo tendo trabalhado feito louca dia e noite, vendido minhas roupas e tudo o que tinha, não consegui pagar tudo que devia para o hospital e atualmente estou trabalhando como prestadora de serviço e auxilia...

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Meu pai saiu do hospital a três dias, e mesmo tendo trabalhado feito louca dia e noite, vendido minhas roupas e tudo o que tinha, não consegui pagar tudo que devia para o hospital e atualmente estou trabalhando como prestadora de serviço e auxiliar de faxina para pagar minhas dívidas. Como meu pai já consegue se alimentar sozinho, inclusive tem aprontado o tempo todo em se equilibrar na cozinha para fazer a própria comida, eu consigo ficar mais em paz com a ideia de deixá-lo sozinho e trabalho o dia inteiro, só saio às sete e meia da noite.

Estou a um mês e alguns dias no Brasil, todo esse tempo serviu como castigo na minha vida, e as vezes eu acho que mereço tudo o que está acontecendo comigo, é o que faz sentido já que o sofrimento parece não acabar nunca.

— Heyoon - Me apoio na vassoura ao escutar a voz de Any, a única pessoa que me entende melhor aqui. Não sou fluente na língua portuguesa, ainda me embanano um pouco na hora de conversar com brasileiros, aqui eles falam tudo muito rápido e de uma forma diferente do que eu costumava ver nas aulas que frequentava, e Any sempre me ajuda e fala comigo em inglês para acalmar meu cérebro um pouco — Pensei que já tivesse saído.

Ela sempre passa no hospital esse horário para buscar a mãe dela, e eu de fato deveria estar em casa agora, já são oito e quinze da noite, meu horário já ultrapassou, mas estava terminando de limpar um leito.

— Eu deveria, mas resolvi terminar isso aqui para não ter que chegar mais cedo amanhã.

— Ainda falta muito para pagar a dívida, Hey? - Ela se aproxima e segura a vassoura, tomando-a da minha mão — Por que não me deixa te ajudar? Eu poderia ter pagado tudo, assim não teria que servir trabalho escravo.

— Não é trabalho escravo, estou pagando uma dívida que fiz. Eu poderia ter transferido meu pai a um hospital público, tive essa opção, mas não quis... então agora sou eu que tenho que lidar com as consequências. Além do mais, não me arrependo nem um pouco por isso, o que importa é que ele está bem em casa e se alimentando direito.

— Mas não é assim que funciona, Hey... você não pode se desgastar tanto assim ou daqui a pouco quem precisará de hospital é você.

— Estou bem, Any - Tomo a vassoura da mão dela e coloco dentro do carrinho onde carrego todos os utensílios de limpeza — Você está indo pra casa agora?

— Não precisa nem pedir, mocinha! - Diz, se adiantando no assunto — Eu jamais negaria uma carona pra você, jamais. Eu vou lá em cima avisar minha mãe que cheguei, tá bom? Vai se vestir.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer o básico, Heyoon.

Ela sai em seguida, e me permito pela primeira vez sentar depois de um dia cansativo. Minhas costas doem desde o cóccix até o pescoço, tornando a vontade de chorar ainda maior. A cada dia que passa eu sinto mais saudade das meninas... mais e mais, mas não posso abandonar a única pessoa da minha família que se importa de verdade comigo. Meu pai só me fez ir morar com a minha mãe porque ele não tinha grana para cuidar de mim naquela época, e também porque eu não tinha idade o suficiente para começar a trabalhar, então foi o melhor que ele conseguiu naquela época, me mandar de volta para aquela mulher que me odeia desde que nasci. As vezes eu me culpo por ter nascido... parece tão idiota, mas me sinto assim todos os dias.

Neighbor - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora