36 | Apartamento

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Dar tempo ao tempo

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Dar tempo ao tempo.                                                                                                                                                  Uma vez escutei essa frase de uma pessoa aleatória em um bar enquanto estava super mal e bêbada, naquele dia eu tinha acabado de levar um tapa de um cara aleatório e isto me fez ficar super irritada, e por isso enchi a cara. Um senhor de idade apareceu, me ofereceu uma garrafa de água e em seguida me deu alguns conselhos, e "dar tempo ao tempo" foi algo que definitivamente me marcou bastante, e mesmo que eu não leve isto para a vida. Eu estou tentando dar tempo ao tempo, acontece que, não, não estou conseguindo fazer isso. Cada vez que meus olhos encontram  Sina em sua alegria e expectativa de que tudo vai dar certo, fico pior. Não consigo esconder a minha tristeza em saber que essa é a última vez que estaremos juntas, a última vez que nos vemos, a última vez que posso estar perto dela e sentir que ela está realmente aqui comigo. Eu não sou ninguém na vida, não tenho dinheiro, não tenho uma família perfeita... como poderia ignorar o que a senhora Deinert falou? Eu não posso me dar ao luxo de desconfiar se o que ela está falando é verdade ou não, porque tudo o que tenho de verdade é meu pai, e não posso perdê-lo por simplesmente me dar ao luxo de ser feliz. Todas as pessoas tem direito de serem felizes,  sim... um dia essa frase fez sentido na minha cabeça, mas hoje percebo que não passa de farsa. Não quero causar dores no meu pai, e quando Sina for embora, explicarei tudo a ele e darei um jeito de conseguir trabalhar para alugar um apartamento pequeno onde nós dois poderemos ficar em paz, sem confusões.

─ Por que está com essa carinha? - Joalin está mastigando uma barra de chocolate pela terceira vez no dia, as bochechas dela estão até vermelhas de tanto esforço ─ Não parece estar bem.

─  É cansaço.

Não falei pra ela. Não posso contar para a minha própria melhor amiga o que está acontecendo comigo simplesmente porque ela se colocaria no papel de ter que esconder isso da própria namorada dela, e não acho justo com ela, não acho justo colocá-la nessa situação.

─ Não é cansaço, Heyoon - com a ponta dos dedos, ela afasta algumas mechas de cabelo até que meu rosto esteja livre─ Você está quietinha, não está comendo direito, nem sequer toma água ou interage... seu olhar está distante o tempo todo, e sei que há algo te incomodando. 

─ Estou apenas refletindo.

─  É sobre a Sina, né?  É porque ela vai embora amanhã?

─ Uhm...

 É porque ela vai embora pra sempre e nunca mais a verei vez. Por que dói tanto? Por que essas coisas tem sempre que ser tão difíceis? Não faz o menor sentido que meu coração doa tanto por aquela mulher. Meus olhos a encontraram no meio da multidão, e quase sorrio enquanto a assisto lutando para conseguir pedir um lanche ao garçom que finge entender tudo que ela está falando, sendo que está apenas acompanhando os gestos enquanto ela aponta para o cardápio. Sabina nem sequer está tentando, ela já se declarou derrotada desde o momento que pisou os pés no Brasil e percebeu que Português é um idioma super complexo. Após conseguir os lanches, ela sorri para Sabina e as  duas vem na nossa direção.   

Neighbor - SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora