capítulo 24: golpe baixo

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Embora tenha ficado abalado pelo recente falecimento de seu primo, o humor de Zachary melhorou com o passar dos dias. Ele visitava frequentemente a igreja com o pretexto de me ver e eu mal podia disfarçar a alegria ao vê-lo.

Pelo menos meus pais estavam mais pacíficos e a família Gardner saiu da cidade por alguns dias, devido a uma viagem repentina. Desse modo, não precisei ser empurrada para Roy a cada oportunidade.

Algumas semanas depois, eu estava ainda mais ligada ao Zach. Sentia meu coração palpitar sempre que ele estava por perto e já não podia negar que estava completamente apaixonada por ele.

E de maneira ousada, eu disse isso para o próprio durante uma bela e calma manhã de domingo.

— Eu te amo. — minhas bochechas arderam e ele sorriu, parecendo surpreso e feliz com minhas palavras.

Ao invés de aumentar meu constrangimento, Zachary levou sua mão até minha bochecha e ampliou o sorriso.

— Eu também te amo, Esther Donovan. — disse meio sem jeito e senti a forte emoção me golpear.

Meus olhos arderam e sorri imensamente satisfeita.

Estávamos na salinha das crianças naquele momento, sem qualquer pessoa por perto.

Meus pais estavam envolvidos no culto matinal lá fora e eu tinha saído discretamente após um sinal de Zachary. Esperava que não notassem minha ausência tão cedo.

Bom... eu fui muito estúpida em confiar nisso.

A porta se abriu de maneira brusca, revelando meus pais bem ali, parados e embasbacados com a cena diante deles.

— O que diabos está acontecendo aqui? — mamãe quase gritou; o rosto lívido.

Papai apenas parecia espantado com a cena.

Empalideci, afastando-me brevemente de Zach. Não queria encrencá-lo.

Ele também parecia pasmo com tudo.

— Mamãe...

— Sua sem vergonha! — aproximou-se, a mão levantada para me bater, mas seu gesto foi interrompido pela mão máscula de Zach, que freou seu movimento rapidamente.

Sua expressão surpresa se tornou raivosa. Ele parecia intimidante.

— O que pensa que está fazendo, porra?! Nem pense em machucá-la, ouviu bem? — disse entredentes.

Mamãe empalideceu.

Pela primeira vez na vida eu a vi realmente assustada. Acuada.

Papai não fez nada como sempre.

— Solte... Solte-me! — ela exigiu após se recuperar e Zach fez isso, mas a expressão continuava ameaçadora.

— Venha comigo! — ela agarrou meu braço e saiu me puxando.

Para minha surpresa, Zach estava logo atrás.

Seguimos pelo corredor e saímos pelos fundos, de modo que não interrompêssemos o culto em andamento.

Assim que nos aproximamos do carro, Zachary ficou em nossa frente, bloqueando o caminho.

— Esther não vai a lugar nenhum! Por que tratá-la assim? Não estávamos fazendo nada de errado. — ele disparou, o semblante aborrecido.

Mamãe o encarou com asco enquanto papai tomava o controle do volante.

— "Ela não vai a lugar nenhum"?! — cuspiu. — Quem você pensa que é pra me dizer o que fazer com minha própria filha? Saiba que não passa de um ninguém. Um ser desprezível. E não vai ditar como crio essa garota.

— Você...

— Não me diga o que fazer! Apenas saia da minha frente ou chamarei a polícia. Estou falando sério.

Temi por Zach na hora.

Ainda sentindo meu pulso doendo pelo aperto de mamãe, eu o encarei; o semblante chateado.

— Zach... apenas a ouça. Eu vou ficar bem. — eu não confiei em minhas próprias palavras, mas não queria vê-lo encrencado.

Mamãe seria capaz de cumprir o que disse apenas para me magoar.

— Esther... Não. — estava inseguro.

— Por favor. Depois nos falamos. Por favor... — implorei; os olhos ardendo muito.

Ele engoliu em seco e abaixou a cabeça, desolado.

Naquele momento, mamãe desviou dele e entramos no carro.

Seguindo meu pedido, ele não nos impediu, mas seu olhar estava preso em mim durante todo o momento.

Quando papai partiu com o carro, deixei que as lágrimas caíssem pelo meu rosto e camiseta. Já não me importava em contê-las e mamãe parecia estranhamente satisfeita em me ver assim.



#*#




Imaginei que tudo apenas pioraria dali em diante e estava certa.

Embora não tenha levado uma surra, passei o dia de castigo no quarto e mamãe não permitiu que eu tivesse qualquer refeição durante o dia. Meu estômago protestava e eu só queria fugir daquele lugar.

Mas sabia que não tinha chance. Não com as janelas e portas trancadas.

No dia seguinte, mamãe permitiu que eu tivesse o café da manhã.

Tomei o suco, ainda desconfiada, e ela não tirava seus olhos de falcão de mim. Entendi o motivo assim que comecei a ficar sonolenta.

E então apaguei.

Despertei longos minutos depois e tive a constatação de que havia sido dopada.

Por minha própria mãe.

Quando me dei conta de tudo, eu já não me encontrava mais em Chicago.

Meus pais me levaram para Hampstead; detectei pelas placas na estrada assim que acordei.

E então seguimos para a casa nova.

Bem maior que a anterior, mas igualmente fria.

Lamentei bastante no momento que me dei conta do que fizeram.

Chorei muito quando me dei conta de que haviam definitivamente me afastado de Zachary, do meu amor.







💔💔💔






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