capítulo 10: sentimento inquietante

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Zachary

Mesmo que inicialmente estivesse frustrado em consertar o muro, eu não estava odiando minhas idas à igreja. Não mais.

Ali eu a tinha chance de me divertir vendo o semblante angelical e tímido de Esther; apenas vendo-a me secando sempre que eu estava por perto.

Esther.

Seu nome era doce como ela.

Eu a tinha sondando brevemente após defendê-la de Sean e ela tinha revelado seu nome e idade. Assim como eu, ela ainda estudava, mas em uma escola apenas para meninas. Além disso, tinha dezesseis anos, fato que a tornava dois anos mais nova do que eu, o que não era uma grande diferença.

Quando a vi me secando através da janela e percebi o olhar de sua mãe, entendi o porquê da escola só para meninas. Pelo jeito, sua mãe era rígida pra caralho e parecia estranha enquanto observava a filha. Quando estava na presença da mulher, Esther se tornava retraída, cabisbaixa. E isso me deixou intrigado.

Em um dia qualquer, o pastor me ofereceu um almoço em sua casa. O velho gostou de mim e algumas outras pessoas da igreja também. Aquele ambiente não era ruim. Havia pessoas realmente boas ali e apreciei isso. Pelo menos essas pessoas que citei não foram babacas racistas e eram respeitáveis.

No domingo seguinte, finalizei a reconstrução do muro. Para minha surpresa, o senhor Wayne decidiu me pagar adiantado pela pintura e isso foi inesperado, considerando que decidi fazer o trabalho de graça. Ele não aceitou minha recusa e insistiu ao me dar a grana. Aceitei e agradeci imensamente pelo gesto. Na semana seguinte, iniciei a pintura.

Enquanto estava praticamente banhado pela tinta, vi quando um casal e um garoto adentraram o espaço. Eles passaram por ali sorridentes e se aproximaram do pastor quando este os chamou para dentro da igreja.

Eu sabia que os pais de Esther estavam ali e logo pude ouvir as vozes animadas.

Em seguida, Esther saiu do templo e, para minha surpresa, aproximou-se de onde eu estava.

Continuei minha tarefa.

— Olá. Muito trabalho aí? — ela questionou causalmente e eu a encarei.

— Não muito. Acho que posso terminar a pintura hoje mesmo.

Ela ficou meio sem jeito e senti seu olhar sobre mim enquanto eu pintava.

Ela suspirou e eu a encarei novamente.

— Esse é seu último serviço por aqui, certo? — não me encarou quando perguntou e isso me surpreendeu.

— Hm, sim. Meu último. Depois de hoje, você estará livre da minha presença. — brinquei, recebendo o seu olhar.

— Não fale isso. Não odeio sua presença. Muito pelo contrário. — sussurrou a última parte.

Arqueei uma sobrancelha, impressionado.

De qualquer forma, gostei de ouvir aquilo.

Disfarcei a satisfação.

— Sério?

— Sim. Você é bem vindo aqui, Zach.

— Oh, isso é uma surpresa. Obrigado. — eu disse, voltando a pintar o muro.

Eventualmente voltava meus olhos para a garota, que parecia concentrada em meu trabalho.

Em certo momento, ouvi vozes e os pais de Esther saíram da igreja. Foram acompanhados pelo casal e o garoto de antes, além do pastor.

— Venha cá, Esther. — a mulher disse com impaciência e a garota se aproximou deles.

— Mal tive tempo de apresentá-la à esse ilustre casal e seu filho. — ela sorriu de maneira contida. Em seguida, apresentou Esther à família.

Descobri que o garoto ruivo se chamava Roy e tinha sardas em seu rosto. Estava tímido quando Esther o cumprimentou, mas seu sorriso se tornou radiante, instantes depois.

Com certo incômodo no peito, decidi voltar a pintar.

Quase não me dei conta da minha mandíbula apertada e apenas continuei meu trabalho.

— Qualquer dia desses, poderíamos marcar um jantar. Pode ser na minha casa. — a mãe de Esther disse, animada.

Voltei meus olhos para aquelas pessoas novamente.

— Eu adoraria. — a outra mulher disse sorridente.

Enquanto isso, o garoto não tirava seus olhos enfeitiçados de Esther.

Cerrei os olhos, internamente fuzilando o pirralho.

Ele não percebeu e Esther também não.

Ela sorriu timidamente para ele e quase arremessei o pincel diretamente na cara do moleque.

Mas eu me contive a muito custo, sem entender que porra de sentimento era aquele que estava me envolvendo. De qualquer forma, era bem inquietante.

— Até breve. Foi ótimo conhecer vocês. — o casal se despediu minutos depois.

Com uma olhada discreta, eu vi quando foram embora.

A família Donovan ainda ficou um tempo por ali antes de partir.

Esther me lançou um último olhar antes de segui-los.











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