Heavenly Light School
▪︎ Escola Tradicional para Meninas de Illinois ▪︎
Quarta-feira
Esther Donovan
Encarei aquele livro com curiosidade, sentada contra uma das estantes da biblioteca.
Meu rosto queimava, mas não parei de ler:
— Eu senti saudade. — A confissão a fez abrir os olhos, e quando encontrou o olhar dele, ela vislumbrou uma emoção fugaz que desapareceu antes que pudesse defini-la, deixando a expressão dele imperscrutável mais uma vez. Ela queria dizer que também sentira falta dele, que sua alma ficara vazia sem ele, mas as palavras ficaram perdidas sob a pressão da sua boca quando ele esmagou os lábios dela em um beijo faminto, ao mesmo tempo em que começava a se movimentar dentro dela. Ele a penetrou mais forte e profundamente, estabelecendo um ritmo que logo extraiu leves choramingos dela. Ele agarrou os quadris dela e...
— Lendo Fruto do Pecado da Chantelle Shaw? É isso mesmo? — Micheline Stone foi tão sorrateira ao se aproximar, que mal percebi sua presença.
Fechei o livro com rapidez, sendo alvo do seu olhar chocado e divertido.
Micheline era minha única amiga. Ela me surpreendeu ao decidir se aproximar de mim no ano passado durante uma aula de ciências, onde realizamos uma tarefa em dupla. Foi muito simpática e puxou assunto. Eu gostava dela e apreciava sua amizade, embora fôssemos bem diferentes.
Ela tinha longos cabelos loiros, com mechas vermelhas, e gostava de maquiagem pesada e roupas escuras. Seus coturnos eram legais e ela costumava ter uma língua afiada e fumar cigarros nos fundos da escola, onde ninguém veria. A definição de rebeldia.
— Eu não estava lendo isso. — menti constrangida e lamentei quando Micheline puxou o livro da minha mão, sentando-se ao meu lado. Decidi confessar enquanto ela mapeava as páginas: — Eu só fiquei curiosa quando achei esse livro aqui. Não imaginei que tivesse esse tipo de romance na biblioteca.
— Eu te peguei, safadinha! — ela riu, deixando-me sem graça. — Não precisa ficar com vergonha, Esther. Sua atitude é bem normal e compreensível. Você não precisa agir como se estivesse cometendo o maior dos pecados.
— Ler pornografia é pecado. — eu disse.
Ela bufou.
— Isso aqui não é pornografia. É apenas um livrinho com cenas quentes. Nem mesmo é tão explícito, então fica tranquila. — ainda encarava as páginas do livro. — Você precisa sair dessa caixinha que sua mãe te enfiou. Sério. Ela pelo menos te deixa assistir séries ou algo do tipo?
— Não. — eu disse chateada. — Mamão baniu a TV lá de casa, mesmo que papai gostasse. Mas ele é submisso demais pra fazer algo a respeito.
— Que merda! — ela balançou a cabeça. — Por que ela baniu?
— Eu estava assistindo um filme de romance em um canal aberto quando uma cena estranha começou a rolar. Mamãe apareceu bem na hora. — eu disse, percebendo o sorriso de Micheline.
— Que cena?
— Um casal estava praticando um ato libidinoso. — sussurrei.
Michi riu para a minha maneira de falar.
— Você quer dizer que eles estavam trepando?
Meu rosto esquentou.
Algumas alunas que estavam lendo ali perto nos encararam com nojo.
— Michi. Fale baixo!
— Ok. — ergueu as mãos em rendição, o livro no colo. — Que pena que a TV foi banida. E seu celular? Nunca mais vi você com ele.
— Mamãe não deixa mais eu trazer pra escola. E proíbe que eu tenha acesso à internet.
— Céus! Sinto muito por você. — lamentou, e então me devolveu o livro. — Você já terminou de ler?
— Ainda não. Faltam algumas páginas.
— Leva pra casa e termine lá. — sugeriu.
— Michi, eu não posso levar. Se mamãe encontrar esse tipo de livro lá em casa, ela quebra minhas mãos. — eu disse, surpreendendo-a.
Bom, essa era minha triste realidade. Meus pais eram religiosos e rígidos ao extremo. Eles me colocaram em uma escola para meninas justamente para que eu não tivesse contatos com garotos e consequentemente não ficasse vulnerável ao pecado. Eu gostava da escola e de ir à igreja aos domingos, mas meus pais tornaram todo o resto torturante. Essa foi minha criação restrita e eu lamentava não ter o mínimo de liberdade. Era frustrante toda essa situação e eu já deveria ter me acostumado, mas...
Eu me sentia cada vez pior.
Naquele dia, eu segui para casa envolta em desânimo.
Meus passos eram lentos quando desci do ônibus escolar e percorri um pequeno caminho até a casa com um pequeno jardim na frente.
Mexi na maçaneta, notando que a porta estava apenas encostada e entrei.
Papai estava lendo a bíblia no sofá enquanto mamãe não estava em minha linha de visão.
— Olá, pai.
— Olá, Esther. — não me olhou e segui para a cozinha.
Mamãe estava preparando o jantar, embora ainda estivesse cedo.
— Boa tarde, mãe.
Ela não me cumprimentou de volta.
— O que está fazendo aqui? — virou-se; o semblante gelado. Seus cabelos negros como os meus estavam presos em um coque apertado e suas roupas tinham um tom neutro. Mamãe odiava roupas coloridas ou com estampa. Dizia que o demônio poderia se manifestar por meio disso.
Fiquei sem graça.
Eu era tão patética por ter esperado uma reação calorosa.
— Eu vim apenas cumprimentar a senhora. As aulas já terminaram e...
— Vá tomar um banho e troque essa roupa. Imagino o tanto de bactérias e energia ruim que trouxe daquela escola. — disse com desgosto. — Vá!
Eu saí da sua frente, decidindo fazer o que ela ordenou.
Horas depois, eu estava na cozinha degustando o jantar. Mamãe e papai estavam ali também e comiam em silêncio. Pesado silêncio.
Como sempre.
Nada de pais calorosos ou engraçados como os pais de Michi.
Aquilo me desanimava todos os dias.
💔
Primeiro capítulo postado🌸
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Irresistível Encanto
RomanceEsther Donovan tem uma vida bem restrita, considerando sua educação rígida ao extremo. Ela não imagina uma vida fora do lhe foi imposto... Até conhecer Zachary Murphy, o intrigante e atraente garoto de olhar afiado. Nesse cenário de pouca liberdade...