CAPITULO 9

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Lorenzo está no meu quarto, sentado à minha frente na cama.

Eu não sei do que ele estava falando, não entendo. Ele segura meu rosto com as mãos perguntando se eu estou bem; não respondo e de repente, ele me beija.

Deito na cama e ele vem por cima, segurando meus braços com as mãos, repetindo várias e várias vezes que sempre quis fazer isso comigo, desde o dia em que eu havia beijado ele.

Ele passa a camiseta pela cabeça e eu não consigo pensar em mais nada depois disso, só o quanto eu o quero agora, nesse momento.

Lorenzo se afasta e eu gemo pela falta de contato, quando, de repente, ele diz:

"Com o que você está sonhando?"

.

Abro os olhos, o peito subindo e descendo com força. Foi tudo um sonho.

Coloco o travesseiro na cara, desejando ter fechado a janela no dia anterior para que a luz parasse de me incomodar.

Me obrigo a levantar da cama para ir à escola dessa vez, e me arrasto até o banheiro.

Caminho sozinha pelas ruas da cidade, chego ao colégio e sento-me no lugar de sempre, assim como Nora e Lena.

Não fazemos nenhum contato visual, nem trocamos nenhuma palavra.

Seria vergonhoso passar o intervalo sozinha, então vou até o banheiro com o plano de ficar lá a maior parte do tempo. Mas, assim que me dirigira até o lugar, esbarro em Lorenzo. Ah, ótimo.

"Abby" - Ele dá um meio sorriso.

Ficamos ali parados no meio do corredor. Não conseguia encarar os olhos de Lorenzo, não depois daquele sonho. Me concentro nas minhas unhas.

"Quer companhia?" - Ele pergunta e senti meu coração disparar.

"Hum..."

Mas não tenho tempo de responder, pois alguém pula nos ombros dele logo em seguida.

"Ei, Lorenzo, estava te esperando" - Lena abraça-o e sorri, nem sequer me ve ali, já puxando-o para qualquer que fosse o lugar em que o levaria.

Ele lança um olhar de "me desculpa" e eu respondo com um de "sem problemas", mas entro no banheiro e aperto os cantos da pia que me apoio depois disso. Por que eu vim? Sabia que deveria ter ficado na cama.

Espero até a hora de voltar para a sala, assim não haveria risco de esbarrar em mais ninguém. Depois de duas longas aulas, o outro intervalo chega e, para a minha surpresa, Ian me esperava na porta.

"Ei, posso falar com você?" - Ele pergunta antes que eu passasse reto.

Assinto. Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinha novamente.

Chegamos a um canto do refeitório e ele começa.

"Eu errei muito feio. Fui um idiota, eu sei, tentei te apressar, não parei quando você pediu e ainda por cima fui grosso quando você estava indo embora, em vez de me desculpar. Te chamei aqui para pedir desculpas e te convidar para sair no fim de semana para poder te retribuir e te dar o que merece. Não na minha casa óbvio, mas no Coffee's. Você aceita sair comigo, Abby?"

Ergo as sobrancelhas levemente, processando tudo. Segue em frente, uma parte do meu cérebro gritava, enquanto a outra recusava desesperadamente.

"Hum... sim, sim" - Opto pelo lado de seguir em frente. Eu não podia me prender ao que havia acontecido, eu precisava deixar ir.

Ele se aproxima e me dá um abraço longo, que retribuí, apesar de ainda estar com um pé atrás.

"Vem se sentar com a gente, tem mais pessoas que querem conversar com você"

Penso em não ir, em dar uma desculpa e seguir para o banheiro, mas eu não podia continuar afastando as pessoas de mim, eu precisava fazer isso.

O sigo até nossa mesa habitual e os meus amigos me olham quando me sento.

Nora é a primeira que chega perto e me abraça, dizendo que não queria brigar, que não se importava de eu ter gritado com ela e que ela me amava. Logo depois, todos os outros chegaram perto de mim e me deram um abraço coletivo, falando que eu estava sumida e que sentiram minha falta.

A única que não estava presente era Lena, o que não era uma supresa, pois também não vi Lorenzo por ali.

"Para comemorar, festa em casa no fim de semana!" - Josh grita.

Todos se animam e, apesar de me sentir estranha e deslocada, me forcei a ficar animada também.

.

Espero meus pais dormirem para poder ir à festa, eles ainda estavam meio chateados comigo.

Me arrumo e encontro Lorenzo na porta de casa, pronto para ir à festa também. Não dizemos nada, ele apenas abre a porta e aponta para eu passar, vindo logo em seguida.

Quando estamos os dois na entrada, ele se vira para mim.

"Posso te levar em um lugar?"

O sonho passa rapidamente pela minha cabeça e meu coração dispara no peito.

"Hum... sim" - Tento parecer calma e controlada.

Começo a segui-lo, rua após rua, nenhum dos dois diz uma palavra.

Depois de alguns minutos, a civilização começara a desaparecer e lembro de ter tirado o celular da bolsa para conferir as horas. 00:30.

"Olha, eu nem sei para onde estamos indo, mas acho melhor voltarmos. Já tá meio tarde pra perambular por aí e a festa não vai durar muit..."

"Shh..." - Ele coloca o dedo indicador nos meus lábios. Recuo um pouco, parando de andar por um momento, porém ele segura minha mão e me puxa - "Confia em mim, você não vai se arrepender"

Então, de repente, Lorenzo me puxa para dentro da mata logo depois de virarmos a esquina do que parecia ser um hospital.

Passamos por árvores e mais árvores, seguindo ao que parecia uma trilha, e comecei a me perguntar mentalmente onde isso iria levar, porém resolvi não quebrar o silêncio agradável, me permitindo ouvir apenas o som dos galhos em que pisávamos e aproveitar a sensação da mão de Lorenzo sobre a minha.

Avisto sinais de luz aparecendo em meio à escuridão da mata, mas Lorenzo continua a andar com calma, parecendo ter todo o tempo do mundo.

Seguimos mais um pouco e me deparo com um caminho, agora de pedra, à nossa frente, composto por pequenos pontos de luz nas extremidades. Caminhamos mais alguns minutos sobre ele e paro ao chegar ao fim da trilha.

Aquele é o lugar mais bonito que já vira.

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